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Tuca Andrada homenageia a obra transgressora de Torquato Neto

Ator está no monólogo “Let’s Play That ou Vamos Brincar Daquilo”, em que convida o público a participar da descoberta da vida e da obra de um dos grandes criadores do tropicalismo

Por Ubiratan Brasil

Torquato Neto foi um poeta piauiense fortemente ligado à contracultura: se engajou na Tropicália e ajudou a romper com convenções em vários níveis. Tirou a própria vida um dia depois de seu aniversário de 28 anos, em 10 de novembro de 1972. A vida e obra de Torquato Neto ganham uma nova dimensão ao migrarem do universo literário para o palco teatral no espetáculo Let’s Play That ou Vamos Brincar Daquilo, que chega ao Sesc Pompeia.

“Não há efeitos grandiosos de luz, apenas atmosferas que vão se estabelecendo com o correr da peça. O figurino é simples também, apenas uma calça e camiseta brancas. A ideia é retomar a simplicidade do contador de estórias, do repentista, do cantador de feira que apenas com a voz e o corpo conduz a audiência para fora do tempo presente, transportando-a para outros universos. E os universos de Torquato são muitos”, diz o ator Tuca Andrada, que comanda o espetáculo e apresenta as impressões e marcas que teve ao se envolver com o poeta. Para isso, convoca o público a interagir, perguntando, fazendo críticas e tirando dúvidas, o que torna o monólogo sempre renovado a cada noite.

Tuca Andrada no monólogo Let’s Play That ou Vamos Brincar Daquilo. Foto Ashlley Melo

O espetáculo se desenvolve em uma arena onde o público é convidado a ficar dentro da ação. Como se estivesse em uma roda de amigos, o ator começa a contar a história de um artista inclassificável sobre qualquer aspecto, e como o efeito produzido dessa obra influencia esse ator. Durante pouco mais de uma hora, o universo de Torquato Neto toma conta do ator, que narra sua visão da história, com a ajuda apenas de um banco, sonoplastia, música, dança e com um chão coberto de poesias do artista.

Poeta, jornalista e compositor, Torquato Neto é considerado por muitos o verdadeiro construtor do Tropicalismo, movimento que definiu, nos anos 1960, a carreira de cantores e compositores como Caetano Veloso e Gilberto Gil. O nome queria indicar um movimento que recuperava o movimento antropofágico de Oswald de Andrade, deglutindo a influência estrangeira e consumindo os dramalhões de Vicente Celestino, a voz de Emilinha Borba, os filmes de Mazzaropi e os bibelôs de camurça e louça que definem o caráter híbrido da cultura brasileira.

Tuca Andrada em outra cena do monólogo Let’s Play That ou Vamos Brincar Daquilo. Foto Ashlley Melo

Incansável, Torquato usava sua coluna no jornal carioca Última Hora como tribuna. Da mesma forma que defendia artistas perseguidos pela censura da ditadura, como Chico Buarque, ele atacava os hinos ufanistas da dupla Don e Ravel, adotados pelo governo militar como exemplo de civilismo. Radical, Torquato chegou a recomendar que crianças lessem livros sobre vampirismo, única forma, segundo ele, de entender realmente o Brasil.

Desse caldeirão musical, Torquato tomou emprestado do poeta concretista Décio Pignatari a expressão “geléia geral”, que inspirou uma das canções clássicas do tropicalismo. Ele foi letrista de algumas canções que se tornaram símbolo do movimento tropicalista na música popular, entre elas Mamãe Coragem (com Caetano, de 1968), Marginália II (com Gil, de 1968) e Let’s Play That, que dá título ao espetáculo, parceria com Jards Macalé e gravada em 1972.

Criado, dirigido (em parceria com Maria Paula Costa Rêgo) e interpretado por Andrada, o espetáculo se reconstrói em cada récita, graças à participação do público, ressaltando assim uma característica fundamental na obra torquatiana que é o de se reconstruir a cada momento.

Serviço

Let’s Play That ou Vamos Brincar Daquilo

Sesc Pompéia. Rua Clélia, 93

Terça à sexta-feira, 20h30. Dia 1° de maio, quarta-feira, sessão às 17h30. R$ 40

Estreia 16 de abril. Até 10 de maio

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Ubiratan Brasil

Formado em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP, trabalhou com esportes na Revista Placar, Jornal da Tarde, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, no qual fez a transição para cultura. No Caderno 2, foi editor entre 2011 e 2023, período em que cobriu o Oscar, Flip e Feira do Livro de Frankfurt, entre outros

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