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A INCRIVEL VIAGEM DO QUINTAL

Gregório Duvivier traz a poesia do cotidiano em “O Céu da Língua”

Sinopse

Monólogo é um dos destaques do Festival de Curitiba ao celebrar a importância do idioma português no cotidiano das pessoas

Por Ubiratan Brasil * (publicado em 4/4/25)

CURITIBA – Famoso por sua oratória hipnotizante, capaz de trafegar tanto no humor como na poesia, Gregório Duviver coleciona teatros lotados desde que estreou o monólogo O Céu da Língua, no ano passado, em Portugal. Depois, vieram apresentações no Rio de Janeiro, Porto Alegre e agora em Curitiba, durante o Festival Internacional de Teatro – em São Paulo, o espetáculo estreia dia 1º de maio, no Teatro Sérgio Cardoso.

Com direção de Luciana Paes, o monólogo é uma grande e bem humorada dissertação sobre a importância das palavras na rotina das pessoas, especialmente na criação da poesia. As pessoas não percebem, mas sem o idioma a existência seria impossível. “Falar foi o primeiro passo na transformação do macaco em ser humano”, comenta Duvivier, que sempre estou com afinco a etimologia das palavras – ele cursou a faculdade de Letras na PUC do Rio de Janeiro e publicou três livros sobre o gênero literário.

Gregório Duvivier no monólogo O Céu da Língua. Foto Lina Sumizon

Durante cerca de 70 minutos, Duvivier mostra as diferenças no vocabulário usado no Brasil e em Portugal (“eles não têm palavras originadas dos africanos”) e como diversos vocábulos praticamente sumiram do linguajar cotidiano, por falta de uso – como serelepe e constipação.

Ao mesmo tempo, ele mostra a importância da poesia no dia a dia. Para isso, surge vestido como um dos grandes poetas da língua portuguesa, Luís de Camões. “Escrevi uma peça que pode ajudar alguém a enxergar melhor o que os poetas querem dizer e, pra isso, a gente precisa trocar os óculos de leitura”.  

Em cena, Duvivier está acompanhado o instrumentista Pedro Aune, que cria ambientação musical com o seu contrabaixo, e a designer Theodora Duvivier, irmã do comediante, que manipula as projeções exibidas ao fundo da cena por um retroprojetor.

Cena do monólogo O Céu da Língua, com Gregório Duvivier. Foto Lina Sumizon

Longe de ser um recital por conta da forma descontraída adotada pelo comediante na atuação, O Céu da Língua é fruto de sua obsessão pela palavra, pela comunicação verbal, pela língua portuguesa. Para isso, Duvivier revela um grande conhecimento da língua portuguesa, manejando-a com habilidade.

“O Gregório comediante está no palco ao lado do Gregrio intelectual com seu fluxo de pensamento ininterrupto e, por isso, a plateia embarca na proposta”, explica Luciana Paes, que compartilha com o ator a paixão pelo nome das coisas. “Graças aos seus recursos de ator, ele pega o público distraído. Ninguém resiste quando é surpreendido por alguém apaixonado.”

Em um momento inspirado, Duvivier conta como um verso (“Tu pisavas nos astros distraída”) da canção Chão de Estrelas, composta por Silvio Caldas e Orestes Barbosa em 1937, foi apontado por Manuel Bandeira como o mais belo escrito até então. “Até que Caetano Veloso, cumprindo a tradição de os mais novos negarem o que existe para apresentar uma proposta melhor, chegou com Livros, de 1997, que se inicia com ‘Tropeçavas nos astros desastrada’, verso magnífico“, comenta o humorista.

*O editor viajou a Curitiba a convite da produção do Festival

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