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Musical mostra como amizade e canções explicam o êxito dos Paralamas do Sucesso

Trajetória da banda é narrada em “Vital – O Musical dos Paralamas”, que chega ao Teatro Sabesp Frei Caneca, em São Paulo, uma ode à união de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone

Por Ubiratan Brasil (publicada em 6 de maio de 2025)

O produtor Gustavo Nunes, da Turbilhão de Ideias, sabe que a paciência pode ser o melhor caminho para um bem sucedido negócio. Em 2022, ele iniciou as tratativas com o grupo Paralamas do Sucesso para transformar sua história em um musical. Enfrentou resistência, pois os músicos desconheciam o currículo das pessoas envolvidas. Também não sabiam o quão poderoso e espetaculoso pode ser ser um musical. Finalmente, graças à ajuda do empresário do grupo, José Fortes, o acordo foi firmado e Vital – O Musical dos Paralamas chegou ao Teatro Sabesp Frei Caneca, em São Paulo, depois de passar por Rio de Janeiro, Porto Alegre e João Pessoa.

“Levar aos palcos um espetáculo com esse teor, é, sobretudo, valorizar a nossa memória cultural. Optamos por focar em conteúdo brasileiro, valorizar nossas raízes, ao invés de encenar musicais estrangeiros”, sinaliza Nunes, que se cercou de profissionais competentes: direção artística de Pedro Brício, texto de Patrícia Andrade e direção musical e arranjos de Daniel Rocha. E, no palco, depois de audições com mais de 600 candidatos, reúnem-se artistas que entendem com intimidade o precioso significado de “banda” para os Paralamas: Rodrigo Salva (Herbert Vianna), Franco Kuster (João Barone) e Gabriel Manita (Bi Ribeiro).

Cena de Vital, o Musical dos Paralamas. Foto André Wanderley

Vital – O Musical dos Paralamas passeia pelas mais de quatro décadas da banda, mostrando desde os primórdios, a amizade entre os integrantes, os primeiros shows amadores nos anos 1980, a primeira apresentação no Circo Voador (abrindo um show do Lulu Santos em 1983), a participação na 1ª edição do Rock in Rio, em 1985, que ajudou a catapultar o sucesso da banda. Passa pelo estouro nacional, por grandes momentos vividos pelos Paralamas, mas também traz instantes importantes da vida do trio, como o acidente sofrido por Herbert Vianna, em 2001.

Foi justamente esse triste momento, que deixou Herbert paraplégico e, pior, vitimou sua mulher, Lucy, que colocou a lealdade do trio à prova. “Bi e Barone acompanharam de perto a recuperação de Herbert”, conta Salva. “Tocaram com ele no hospital, o que ajudou-o a recuperar a memória”, continua Manita. “O musical é essencialmente sobre a história de uma sólida amizade“, finaliza Kuster.

O trio com seu empresário, em Vital, o Musical dos Paralamas. Foto André Wanderley

O espetáculo destaca ainda a importância do empresário João Fortes (vivido por Hamilton Dias) que, além de colega de faculdade do trio, entendeu qual seria o melhor caminho a ser traçado pela banda, o que justifica sua longevidade. “A gente acompanha essa jornada musical e afetiva de quatro amigos e as transformações não só artísticas, mas também na vida de cada um e como isso influencia na criação deles”, comenta Pedro Brício.

O musical traz a perspectiva narrativa da memória de Herbert, pois a cena inicial é justamente quando o cantor acorda, no hospital, depois do acidente. Assim, algumas passagens deixam no ar se são de fato lembranças ou delírios. Com isso, Patrícia Andrade criou um fluxo narrativo não cronológico, com idas e vindas constantes. “Os tempos se intercalam de acordo com a memória, que guia a história. Presente e passado se misturam o tempo todo”, explica.

O roteiro traz mais de 30 canções como Lanterna dos Afogados, Busca Vida, Óculos, Alagados, Tendo a Lua, Caleidoscópio, Romance Ideal e Meu Erro, além, claro, de Vital e Sua Moto, primeiro sucesso dos Paralamas. entre tantas outras. Como explica Patrícia, a construção do texto foi encaixando as músicas nos momentos em que os personagens estão vivendo, mas também as canções entram para contar a história, com uma função narrativa.

A banda em cena de Vital, o Musical dos Paralamas. Foto André Wanderley

Daniel Rocha criou os arranjos tendo a narrativa do espetáculo como base e se preocupou em ajudar a contar essa história. “Primeiro porque é uma obra muito importante, uma referência. Os Paralamas são uma escola, têm uma linguagem que vai muito além do rock. Eles trouxeram uma identidade real do rock brasileiro. É preciso respeitar isso. Mas os arranjos acabam ficando diferentes. Primeiro, porque é uma outra formação, além disso é uma outra linguagem, é teatro musical, não é show”, explica.

Em alguns números, só o trio de atores que vive os personagens principais tocam. Em outros, são acompanhados pela banda. Em certas cenas, todos os atores tocam, como em Alagados, que teve um arranjo concebido pelo diretor musical com vários instrumentos de percussão, como se uma escola de samba encontrasse a obra dos Paralamas. Em Vamos Bater Lata, todos tocam instrumentos feitos com metais. Isso reafirma a diversidade rítmica dos Paralamas.

Franco Kuster, Rodrigo Salva e Gabriel Manita são os músicos dos Paralamas do Sucesso. Foto André Wanderley

“Eles são como um epicentro da cultura da América Latina. Isso está muito presente nas músicas deles, nos arranjos, nos timbres de guitarra, nas combinações rítmicas entre o baixo, a guitarra e a bateria. O próprio conceito de guitarra havaiana e tudo mais foi misturado com as guitarradas do norte, a sonoridade do Dodô e Osmar”, exalta Rocha.

O projeto conta ainda com a participação de um ator PCD, Herberth Vital. Ele recebeu esse nome como homenagem dos pais, fãs do Paralamas. Por triste ironia, ele sofreu um acidente de moto e perdeu a perna esquerda. Em cena, ele vive Roberto, rapaz que acompanha Herbert no processo de fisioterapia e recuperação.

Entre os músicos originais da banda, Bi e Barone assistiram ao espetáculo e saíram comovidos. Herbert Vianna é esperado em alguma sessão em São Paulo.

Serviço

Vital – O Musical dos Paralamas

Teatro Sabesp Frei Caneca. Shopping Frei Caneca. R. Frei Caneca, 569, 7º andar

Sábado, 16h e 20h. Domingo, 15h e 19h. R$ 21 / R$ 110

Até 31 de maio (estreia em 3 de maio)

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Ubiratan Brasil

Formado em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP, trabalhou com esportes na Revista Placar, Jornal da Tarde, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, no qual fez a transição para cultura. No Caderno 2, foi editor entre 2011 e 2023, período em que cobriu o Oscar, Flip e Feira do Livro de Frankfurt, entre outros
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