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“Corpo Intruso” faz trajetória de sucesso e segue para reta final da terceira temporada  

Com texto de Samir Yazbek e direção de Pedro Granato, espetáculo está em cartaz só até segunda-feira, 24 de junho, na Biblioteca Mário de Andrade, com sessão às 19h

Por Kyra Piscitelli

Com Luciana Schwinden, Sílvio Restiffe e Julia Terron no elenco, a trama do espetáculo Corpo Estranho acompanha a trajetória de uma professora de língua portuguesa do ensino médio que, distante da sua vocação literária, encontra-se no leito de um quarto de hospital, acometida por uma doença desconhecida. Sua relação com o marido mantém padrões de afetos desgastados pelo tempo. Ao receber no hospital a visita de uma aluna apaixonada pelo universo da literatura, a professora, questionada em sua visão de mundo, passa a rever a sua relação com o seu marido e a forma de tocar a sua própria existência.

Diretor da peça, Pedro Granato conta ao Canal Teatro MF que Corpo Intruso é um texto que foi desenvolvido com afinada parceria com o autor, Samir Yazbek, desde as primeiras leituras até sua forma final. “Acredito que trocamos muito nesse processo a ponto de não ver distância entre o texto e a encenação, foi tudo feito com muita troca e generosidade. A peça toca em uma série de temas densos e revela como é uma situação de internação como essa. Tudo se mistura e se torna vital”, afirma Granato.

Luciana Schwinden e Silvio Restiffe em Corpo Intruso. Foto Nadja Kouchi

Corpo Intruso vem de um sucesso em série e três temporadas. O espetáculo estreou no Teatro Alfredo Mesquita em março deste ano, cumprindo uma temporada com sessões lotadas e repercussão de público e crítica. Em maio, realizou temporada no Pequeno Ato. E agora na Biblioteca Mário de Andrade. Um dos segredos do sucesso, provavelmente, são as memórias afetivas que o espetáculo acaba despertando ou projeções do que pode acontecer com o espectador, o que cada um está fazendo com a própria vida. “Uma conexão com sentimentos que a gente costuma esconder, especialmente na era das redes sociais: tristeza, frustração, insegurança. Passamos muito tempo mergulhados em fortes experiências hospitalares, isolados, com medo da saúde para não olhar para essas sombras e buscar nos entender mais.”

Minimalismo como receita de sucesso

Outro ponto apontado como motivo de sucesso apontado pelo diretor é que Corpo Intruso é um espetáculo como algo intimista, carregado de suspense. “Acredito que essa escolha por uma relação muito próxima, de ‘câmara’ se ajustou bem ao tom do texto e permitiu interpretações no limite do cinematográfico. Tem que escolher a moldura certa para valorizar o quadro”, diz Granato.

Embora o minimalismo seja visto como uma das razões de sucesso do espetáculo pelo próprio Granato, o diretor também aponta esse aspecto como o maior desafio da construção da peça.

Luciana Schwinden e Julia Terron em Corpo Intruso. Foto Nadja Kouchi

“A atmosfera é de suspense intimista. Mesclar o mistério e o drama em um ambiente hospitalar de maneira a criar uma história equilibrada e ‘temperada’ foi o maior desafio da construção, conta o diretor. O minimalismo está presente em toda a concepção do espetáculo, da cenografia que quer colocar o espectador dentro de um quarto de hospital, à trilha sonora original, fortemente inspirada na banda britânica Portishead”, comenta o encenador.

A trilha original assinada por Décio 7 vem somar a essa atmosfera. “É uma situação em qual a atmosfera é tudo. O clima. E isso seria muito mais difícil de alcançar com canções ou mesmo uma trilha pronta para outra obra. Quisemos trazer os sons de hospital com o turbilhão de emoções que ela vive. Isso não existe em qualquer álbum, precisa ser composto, pensado, pulsar junto com o ritmo da cena e dos atores. E o Décio 7 é especialista em trilhas de filmes, em jogar com timbres, ama esse mergulho nos detalhes”, elogia Granato.

Dentro da cena intimista e da atmosfera de suspense de Corpo Intruso, o absurdo termina de compor a cena e o diretor explica como isso se dá. “Eu busquei o absurdo em um lugar naturalizado, sem fazer disso uma estética. Vivemos em tempos de paranoias, mentiras, absurdas. Em que o outro representa tudo aquilo que odiamos, sem espaço para uma escuta e sim para a projeção de muitos fantasmas. Falamos naquele quarto de hospital de um país tomado pelo ódio, pelo medo da violência, incapaz de aprender com a diferença.”

Último debate

Após as sessões na Biblioteca Mario de Andrade, ocorreram debates com mulheres e a última sessão, nesta segunda, dia 24, será com a escritora e médica Natalia Timerman. Um de seus livros, Copo Vazio, inspirou uma peça com livre adaptação e que esteve em cartaz no Sesc Belenzinho – a temporada se encerrou no domingo, dia 23.

Serviço

Corpo Intruso

Biblioteca Mário de Andrade. Rua da Consolação, 94, República. Telefone (11) 3150-9453

Última sessão na segunda-feira, 24 de junho, 19h. Ingresso Gratuito

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Kyra Piscitelli

Jornalista formada pela Universidade Metodista de São Paulo, com pós-graduação em Globalização e Cultura na FESPSP. Vice-presidente da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Foi assistente de direção da peça Mulheres de Shakespeare (2018). Criou e participou do Prêmio Aplauso Brasil de Teatro. Ajuda espetáculos com ativação em redes sociais.

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