Musical inspirado em “O Corcunda de Notre Dame”, de Victor Hugo, se destaca pelo elenco competente, capaz de apresentar detalhes que perfilam bem seus personagens
Por Ubiratan Brasil (publicada em 10 de junho de 2025)
Publicado em 1831, o romance O Corcunda de Notre Dame, do francês Victor Hugo, é um exemplo notável de uma trama marcada por paixões lascivas e inocentes, uma devoção religiosa, mas também desigualdades de classe que levam a assassinatos. Nesse livro, Hugo traçou um maravilhoso painel da vida parisiense medieval. Essa história, que inspirou filmes e até uma animação da Disney, também foi o ponto de partida para o primeiro musical da Segundo Ato Entretenimento, Os Sons de Notre Dame, que terá uma apresentação no dia 17 de junho, no Teatro Gazeta.
Trata-se de um espetáculo que uniu grandes nomes do musical brasileiro. A trama segue a linha traçada por Victor Hugo. Quasímodo (Abner Debret) é o ser deformado que foi abandonado ainda bebê diante da catedral de Notre Dame. Recolhido pelo severo arquidiácono Dom Claude Frollo (Saulo Vasconcellos), ele é obrigado a viver escondido dentro da igreja por causa de sua triste figura: caolho, corcunda, surdo e manco. Lá, solitário, a ele só resta conversar com os sinos e as paredes da catedral.
A história se passa em 1482, quando Paris abrigava as mais variadas formas da miséria humana, tanto de dinheiro como de alma. Porém, quanto mais recluso, mais sedento por novos ares tornava-se o corcunda. Até que ele conhece Esmeralda (Aline Serra), cigana destemida cuja dança sensual hipnotiza a todos os homens, especialmente Quasímodo e Dom Frollo. Na tentativa de calar o tormento entre sua volúpia e sua devoção a Deus, Frollo envia Quasímodo para raptar a moça, o que não consegue graças uma patrulha policial. Tentativa essa frustrada por um dos grupos de patrulha policial liderados pelo capitão Phoebus de Châteapers (Felipe Hideky) que salva a jovem.
Os jovens se apaixonam, o que provoca a ira do diácono que, além de assassinar Phoebus, consegue colocar a culpa em Esmeralda, condenada assim à morte pela fogueira. A decisão deixa Quasímodo desesperado, pois a moça foi a única pessoa a não desprezá-lo. Em sua bondade, Esmeralda também havia salvo da morte Clopin Trouillefous (Ivan Parente), que havia sido condenado pelos ciganos por mendigar.
Mesmo assim, a decisão de Dom Claude é mantida e Quasímodo, em um ato de bravura, consegue salvar a cigana. A relação de amor e amizade entre eles foi revelada anos depois, quando suas ossadas foram descobertas em covas separadas, mas com as mãos dadas.
Uma característica comum na obra de Victor Hugo é a injustiça que propaga a desigualdade, a ponto de alguns viverem sob condições sub-humanas, como é o caso de Quasímodo. No musical idealizado por Rodrigo Gomes, a trajetória dos personagens é pontuada por canções solo que definem a personalidade de cada um. É o caso da vida limitada e sem esperança de Quasímodo e também da paixão quase descontrolada de Dom Frollo pela cigana Esmeralda.
Com versão de Ella Dalcin e direção geral de Rodrigo Miallaret, Os Sons de Notre Dame desponta como um espetáculo delicado graças à experiência e talento de seus protagonistas. Destaque também para o coro comandado por Di Angelo Mathias, cuja potência vocal evidencia especialmente o tom religioso da trama, mas sem se esquecer do profano praticado pelos ciganos. Para isso colabora o enredo febrilmente operístico do original de Victor Hugo, escritor que tinha uma enorme fé na força das palavras. Um musical que merece um temporada mais alongada.
Serviço
Os Sons de Notre Dame
Teatro Gazeta. Avenida Paulista, 900
Sessão no dia 17 de junho, 20h30. R$ 75 / R$ 200
