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“João” traz leitura urbana da questão agrária e da diversidade

Sinopse

Musical da Cia. de Revista, que fecha trilogia São Paulo-Pernambuco, se inspira na história do poeta João Cabral de Melo Neto que é espelhada com a do personagem João, resultando em uma fábula surrealista

Por Ubiratan Brasil (publicada em 17 de junho de 2025)

Em 2021, com a estreia de Nossos Ossos, a partir do romance do escritor Marcelino Freire, a Cia. da Revista iniciou a trilogia de peças Conexão São Paulo-Pernambuco. No ano seguinte, veio Tatuagem, deliciosa adaptação do filme de Hilton Lacerda. Agora, com João, a Cia. da Revista compara a história do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e seu personagem João em uma fábula surrealista, fazendo uma leitura urbana da questão agrária e da diversidade na vida contemporânea.

Com direção de Kleber Montanheiro, a peça com dramaturgia de Marcelo Marcus Fonseca e músicas de Vitor Rocha (letras) e Marco França (música, direção musical e arranjos) chega ao Espaço Cia da Revista como mais um musical original. A inspiração para as composições nasceram da obra de Gonzaguinha, também um cronista do Brasil e do seu tempo.

Neto Vilar no musical João, da Cia. da Revista. Foto Cleber Correa

João Cabral construiu uma carreira singular, tornando-se um dos principais poetas da língua portuguesa do século XX, da mesma grandeza de Fernando Pessoa e Carlos Drummond. Era um estilista mesmo não admitindo – cada verso era cuidadosamente pensado, a fim de dar forma a uma estrutura consistente do poema, o que o tornava conhecido como o poeta da matéria, por seus versos secos, exatos, sem ilusões e de emoções omitidas.

Na trama do musical, o personagem João migra de Pernambuco para o sudeste em busca de trabalho e tem um encontro casual com seu próprio criador, o poeta João Cabral. Após se separarem, na divisa de São Paulo e Rio de Janeiro, o personagem segue sua vida na capital paulistana, onde conhece Gaivota, uma travesti artista que muda sua vida.

Zé Guilherme Bueno no musical João, da Cia. da Revista. Foto Cleber Correa

Enquanto isso, de longe, João Cabral conta sua própria história, ao mesmo tempo que evoca a história do próprio Severino, de sua obra-prima o auto de Natal pernambucano Morte e Vida Severina, refletida no centro urbano.

A ironia sobressai ao transbordamento sentimental no poema, uma evidente crítica social ao descrever a viagem de um sertanejo, Severino, que deixa sua terra natal em busca de melhores condições de vida. Durante a jornada, ele se encontra diversas vezes com a Morte até que, desiludido e impotente, se rende àquela jornada inútil – afinal, como ele, muitos outros padeceram com a miséria e o abandono. O fio de esperança surge com o nascimento de um bebê, uma criança-severina, que renova as esperanças de um espírito cansado.

O elenco conta com a participação de Vitor Vieira, Dudu Galvão, Marina Mathey, Bia Rezi, Zé Guilherme Bueno, Gabriel Natividade, Neto Vilar, Pedro Ulee, Pedro Bignelli, Vithor Zanatta e Josinaldo Filho.

Serviço

João

Espaço Cia da Revista. Al. Nothmann, 1135

Sexta a domingo, 20h. R$ 40

Até 3 de agosto (estreou em 13 de junho)

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Ficha Técnica

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Serviço

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