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A INCRIVEL VIAGEM DO QUINTAL

Gabriela Duarte estreia em monólogo com texto feminista

Sinopse

Atriz protagoniza “O Papel de Parede Amarelo e Eu”, inspirado em conto de Charlotte Perkins Gilman considerado um marco da literatura feminista por abordar temas como o controle sobre o corpo feminino e saúde mental, que permanecem atuais

Por Ubiratan Brasil – Publicado em 31 de março de 2025

Alessandra Maestrini, que divide a direção com Denise Stoklos, logo avisa: “Esse espetáculo é uma caixinha de surpresas, pois tudo se revela aos poucos”. Em seu primeiro monólogo, Gabriela Duarte vive uma mulher confinada em um quarto pelo marido – só aos poucos ela descobre o motivo. É o ponto de partida de O Papel de Parede Amarelo e Eu, peça em cartaz no Teatro Estúdio, em São Paulo.

A montagem é baseada em uma das histórias do livro O Papel de Parede Amarelo e Outros Contos, publicado em 1892, pela americana Charlotte Perkins Gilman (1860-1935). É justamente a que traz mais detalhes autobiográficos, que se baseou nas próprias dificuldades que enfrentou especialmente no período em que viveu um casamento infeliz. O texto é considerado um marco da literatura feminista por abordar temas como o controle sobre o corpo feminino e saúde mental, que permanecem atuais.

Gabriela Duarte no monólogo O Papel de Parede Amarelo e Eu. Foto Ubiratan Brasil

A personagem, que não tem nome, tenta resistir mentalmente à situação desesperadora vivida em um quarto sufocante, abandonado, descorado por um papel de parede envelhecido, descascado e muito descolorido. Ela foi trancafiada por ser diagnosticada como histérica e depressiva pelo próprio marido, que é médico. “Era uma época em que a mulher não tinha saída”, comenta a atriz. “Na verdade, ainda hoje, em 2025, existem mulheres em condições semelhantes.”

Ao adaptar o texto como peça, Alessandra utilizou informações atuais, especialmente as que surgiram durante o processo de ensaio. “Gabriela trazia o próprio posicionamento como mulher, o que só enriqueceu o espetáculo. Por isso que incluímos o ‘e Eu’ no título. É um espetáculo muito contemporâneo. Todos sonhamos com o desligamento das questões opressivas que o texto traz de formas metafóricas, mas que nós conhecemos em diferentes níveis na sociedade atual”, explica.

A direção dividida entre duas artistas com trajetórias tão distintas só enriqueceu a montagem. Enquanto Alessandra vem principalmente de produções suntuosas com os musicais, Denise é uma encenadora e atriz que se identifica com o Teatro Essencial, linguagem teatral criada por ela e que valoriza a expressividade do ator por meio do corpo, voz e mente, com o mínimo de recursos externos possível.

Segundo Denise, Alessandra tem um “olhar muito agudo“, um ritmo rápido de direção e uma escuta bastante diferenciada. Ela emprega os conceitos do Teatro Essencial de forma inovadora e acrescentadora, nos melhores sentidos. Já Alessandra conta que todas as manifestações foram criadas sempre pensando no Teatro Essencial.

Gabriela Duarte entre as diretoras Denise Stoklos e Alessandra Maestrini. Foto Priscila Prade

O resultado é muito criativo, pois a iluminação (desenhada por Cesar Pivetti) alterna plano geral com closes no rosto da atriz, como se fossem cortes cinematográficos, detalhe pensado por Alessandra. E, como diversas cenas trazem a voz em off de Gabriela, como se fossem seus pensamentos, a atriz “traduz” as palavras em gestos, uma assinatura de Denise.

O processo para se concretizar incluiu lances inusitados, como o pedido para que Gabriela, em um ensaio, não falasse nada. “Sempre fui muito falante e, de repente, precisei usar os gestos para demonstrar meus pensamentos”, conta a atriz, que então aprimorou sua performance segundo a orientação das diretoras. Era a realização de um desejo antigo – depois de quase 40 anos de profissão, o desejo de explorar caminhos que ainda não foram percorridos vem “naturalmente”, diz.

“O público conhece a Gabriela da TV que fez muitas mocinhas, muito drama, o que eu agradeço. Agora, quero explorar novas possibilidades e que as pessoas possam ver a Gabriela que também consegue se divertir”, conta ela, que também explora seu lado cômico. “Não diria que é um riso de humor escancarado, mas sim um riso consciente, de constatação, de perceber que as coisas podem mudar.”

Gabriela Duarte no cartaz da peça O Papel de Parede Amarelo e Eu. Foto Priscila Prade

O cenário, criado por Márcia Moon, é minimalista e simbólico, com diferentes tipos de papel que interagem com o corpo da atriz. O cenário sugere atmosferas e sensações, representando tanto uma prisão invisível quanto um espaço de libertação, e convida o público a interpretar o espaço de maneira profunda e subjetiva. “Ele foi pensado para destacar o caráter universal do texto, tanto no tempo quanto no espaço, mostrando como ele continua relevante para diferentes gerações”, diz Márcia.

Os figurinos de Jum Nakao buscam simbolizar as várias camadas de opressão sobre o corpo feminino, com referências a diversas culturas. Já a trilha sonora, criada por Frederico Puppi, combina elementos acústicos com o universo eletrônico e dos games, remetendo à opressão contemporânea por meio das tecnologias e redes sociais.

Serviço

O Papel de Parede Amarelo e Eu

Teatro Estúdio. Rua Conselheiro Nébias, 891

Sextas, 21h. Sábados, 20h. Domingos, 18h. R$ 120

Até 1º de junho (estreia em 28 de março)

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Ficha Técnica

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Serviço

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