Allex Miranda, autor e diretor de “Makeda – A Rainha da Arábia Feliz”, fala sobre o poder do teatro de construir uma identidade mais forte e autêntica, a partir da valorização de raízes, afetos e ancestralidades
Por Dib Carneiro Neto
“O teatro deve ser um espaço para desconstruir estereótipos e promover a igualdade de oportunidades, demonstrando que todas as crianças, independentemente da cor de sua pele, têm o direito de serem futuros líderes, heróis e protagonistas.” Quem defende essa maravilha de missão para o teatro é Allex Miranda, diretor e autor da peça infantil Makeda – A Rainha da Arábia Feliz, que estreia na sexta, 13, no CCBB de São Paulo, permanecendo em cartaz até 26 de janeiro de 2025 (claro, parando durante as semanas de festas).
Mestre em Teatro, natural da Bahia, mas desde 2008 desenvolvendo sua carreira teatral entre Brasil e Portugal, Allex Miranda escreveu Makeda em 2019, que até já virou um conto digital interativo com a participação de Zezé Motta, em 2021. Agora chega pela primeira vez a São Paulo a história dessa menina africana, predestinada a ser rainha e orientada a ser feliz por um sábio ancestral, seu trisavô.

“Makeda é uma princesa negra protagonista da própria jornada de descobertas e aventuras”, esclarece o autor. “Graças a ela, as crianças negras da plateia podem perceber que também têm o poder de transformar suas realidades e escrever suas histórias, primeiramente usando a imaginação e mais tarde com ações concretas. Ao apresentar uma personagem com traços e experiências semelhantes aos delas, busco ajudar a construir uma identidade mais forte e autêntica, na qual a representação positiva de si mesma se torna uma ferramenta essencial para o desenvolvimento saudável da autoestima.”
Quando Makeda encontra o “Pergaminho Mágico”, ela descobre as histórias de rainhas poderosas e aprende a reconhecer a força dentro de si mesma. “Cada personagem é uma lição sobre empatia, coragem, superação, autoestima e a força que carregamos em nossas raízes”, detalha Allex Miranda. “A Rainha Pétrea ensina como o passado pode moldar, mas não precisa definir quem somos. A inspiradora Rainha do Deserto brilha com orgulho, valorizando a sua beleza ancestral. Com o teimoso Rei Feliz, as crianças vão aprender que liderar é cuidar e ouvir.”

Allex define Makeda – A Rainha da Arábia Feliz como “um abraço cheio de cores, música e inspiração, que desperta orgulho, força e muitos sonhos”. Ele nos conta sobre a contribuição da música: “Com direção musical de Ifátókí Maíra Freitas, o espetáculo é cheio de ritmos que pulsam como o coração da ancestralidade afro-brasileira, levando o público até a dançar se quiser e a sentir a força do repente nordestino, os toques de agogô e as escalas pentatônicas”.
Na cenografia (Anderson Dias), há pergaminhos gigantes e muros que precisam ser superados pela personagem, mas também há detalhes do tipo Adinkras, que trazem mensagens escondidas no palco e nos adereços, para quem quiser olhar mais além. Adinkras são símbolos ideográficos do povo Ashanti, de Gana. Representados por formas geométricas, sugerem valores, ideias filosóficas, normas sociais e códigos de conduta. Uma atração extra no espetáculo. “Aqueles que conhecem a simbologia Adinkra poderão fazer leituras mais profundas, ampliando as mensagens que estão sendo transmitidas no palco”, diz o diretor.
O figurino (Wanderley Gomes) também desempenha um papel importante. Cada personagem possui uma paleta de cores específica que reflete sua personalidade e sua trajetória emocional. “Por exemplo, as cores usadas pela Rainha Pétrea refletem sua rigidez e os traumas do passado”, conta Allex, “enquanto a Rainha do Deserto, com seus tons dourados vibrantes, transmite confiança, orgulho e empoderamento feminino. O figurino, assim, se torna uma extensão dos sentimentos e da jornada interna de cada personagem”.

E o que será que Allex Miranda pensa sobre o teatro que é feito hoje no Brasil para as crianças? Que caminhos ele admira, que escolhas valoriza? A resposta vem bem completa: “O teatro infanto-juvenil no Brasil tem mostrado uma evolução notável, refletindo uma valorização crescente da diversidade e da representatividade. Admiro especialmente as iniciativas que priorizam a inclusão e a sensibilidade cultural, trazendo para o palco personagens e histórias que capturam a complexidade e a riqueza da sociedade brasileira”.
E continua: “Essas escolhas não apenas estimulam a imaginação e a curiosidade nas crianças, mas também promovem uma reflexão crítica, incentivando-as a se reconhecerem no palco e a valorizarem as próprias narrativas e identidades. Como autor e diretor negro, minha prática teatral é profundamente influenciada pela importância da representatividade negra positiva. Por meio do meu trabalho, busco criar um espaço em que crianças negras possam se ver refletidas em personagens fortes, inteligentes e corajosos, ajudando a construir uma autoestima saudável e a valorização de suas origens. Esse compromisso com a representatividade é um elemento central das minhas produções, que visam não só entreter, mas também educar e empoderar o público”.
Serviço
Makeda – A Rainha da Arábia Feliz
Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Penteado, 112
Sextas-feiras, 15h. Sábados, 11h e 15h. Domingos, 11h. R$ 30 (não haverá sessões entre os dias 23/12/24 e 02/01/25)
Até 26 de janeiro de 2025 (estreia 13 de dezembro)