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A INCRIVEL VIAGEM DO QUINTAL

“Três Mulheres Altas” critica hipocrisia e preconceitos da sociedade

Sinopse

Clássico de Edward Albee volta em cartaz com Nathalia Dill, Suely Franco e Deborah Evelyn vivendo mulheres de gerações distintas, que confrontam suas perspectivas sobre a vida e o envelhecimento

Por Ubiratan Brasil

O dramaturgo norte-americano Edward Albee (1928-2016) utilizava seus textos teatrais como plataformas contra a hipocrisia e os preconceitos de sua classe social. Ganhador de três prêmios Pulitzer, ele apostava em personagens desiludidos e deslocados, o que traduzia sua desconfiança nas instituições, em especial na família. Com isso, escreveu peças complexas e hoje clássicas, como Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1962) e Três Mulheres Altas (1991), que ganhou uma recente montagem brasileira e que volta em cartaz em março, em São Paulo, agora no Teatro Bravos.

A peça acompanha o embate de três mulheres em diferentes fases da vida: juventude, maturidade e velhice. A senhora A é uma mulher à beira do colapso, inconformada, em seus 90 anos, com o filho gay. Doente e já embaralhando memórias e acontecimentos, ela repassa a sua vida para a personagem B, apresentada como uma espécie de cuidadora ou dama de companhia. A mais jovem, C, é uma advogada responsável por administrar os bens e recursos da idosa, que não consegue mais lidar com as questões financeiras e burocráticas.

Deborah Evelyn, Suely Franco e Nathalia Dill em Três Mulheres Altas. Foto Pino Gomes

“O texto do Albee nos faz refletir sobre ‘qual é a melhor fase da vida?’, além de questões sobre o olhar da juventude para a velhice, sobre a pessoa de 50 anos que também já acha que sabe tudo e, fundamentalmente, sobre o que nós fazemos com o tempo que nos resta. Apesar dos temas profundos, a peça é uma comédia em que rimos de nós mesmos”, analisa o diretor Fernando Philbert.

Ao lado das atrizes da montagem (Suely Franco, Deborah Evelyn e Nathalia Dill), o encenador acredita que essa nova versão traz uma visão atualizada com todas as mudanças comportamentais e políticas que aconteceram no mundo de lá para cá, especialmente nas questões femininas, presentes durante os dois atos da peça. O Brasil teve outra montagem, encenada em 1994 e com Beatriz Segall, Nathalia Timberg e Marisa Orth no elenco, sob a direção de José Possi Neto.

Albee trouxe questões fundamentais da própria vida para o texto. Filho adotivo, ele foi criado em uma família de empresários do teatro de vaudeville, mas logo abandonou o lar, como o faz o filho de Três Mulheres Altas. Homossexual, o dramaturgo buscou entender o comportamento da mãe arrogante, cuja prepotência tem como alvo preferencial o filho adotivo – na peça, ele só se manifesta em breve passagem pelo palco, quase um espectro, uma projeção de Albee.

Nathalia Dill, Deborah Evelyn e Suely Franco em Três Mulheres Altas. Foto Pino Gomes

Três Mulheres Altas, no entanto, é muito mais que um retrato da mãe do autor. O texto traz o olhar mordaz e perverso – por que não dizer cômico – de Albee para a classe média alta americana e toda a sua hipocrisia, ao falar sobre status, sucesso, sexo e abordar a visão preconceituosa da sociedade e as relações que as três mulheres travam com o mundo, sempre atravessadas pelo filtro machista.

A peça mostra uma mulher ressentida que reluta em aceitar o filho gay, além de não esconder seu racismo e antissemitismo. Personagem de um texto marcado por um olhar doloroso mas sarcástico e ainda por uma crítica intensa às convenções e hipocrisias da sociedade tradicional.

Serviço

Três Mulheres Altas

Teatro Bravos. Rua Coropé, 88, Pinheiros.

Quinta a sábado, 20h. Domingo, 17h. R$ 39,60 / R$ 160

Até 11 de maio (reestreia em 7 de março)

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Ficha Técnica

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Serviço

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