A décima edição da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo só vai acontecer em março graças ao investimento de parceiros e apoiadores que estão presente desde o primeiro evento
Por Ubiratan Brasil
Um dos principais eventos de artes cênicas do Brasil, a MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo vai festejar sua 10ª edição preocupada com o futuro. A desistência de patrocinadores e a não chegada de outros obrigaram seus idealizadores, Antonio Araujo (diretor artístico) e Guilherme Marques (diretor geral de produção), a enxugar a programação de forma drástica: até agora, a programação de 2025 não conseguiu chegar a patamares anteriores e surge reduzida em cerca de 50% na grade internacional e 50% na MITbr, plataforma que agrega produções nacionais.
Inscrito nas leis de incentivo, o projeto conseguiu captar R$ 3,1 milhões, mas faltam R$ 2,5 milhões para que a MITsp se realizasse como previsto. Também a alta do dólar e do euro foi um fator determinante para a redução na programação.
“A MITsp só continua de pé por causa de parceiros e apoiadores contínuos desde a primeira edição”, disse Araújo, lembrando de Itaú, Sesc SP e Secretaria Municipal de Cultura. “Só conseguimos trazer cerca de 180 obras, de meia centena de países, e quase 350 programadores de diversas nacionalidades porque acreditamos que São Paulo merece um lugar de destaque no mapa das artes cênicas. E desde o princípio tivemos ao nosso lado importantes patrocínios.”

A edição deste ano acontece entre os dias 13 e 23 de março, ocupando diversos espaços e teatros da cidade de São Paulo. Com o enxugamento, serão quatro as atrações internacionais, além de uma estreia nacional, cinco obras na MITbr – Plataforma Brasil, dois grupos convidados e uma diversa grade de oficinas, debates e conversas ao longo desses onze dias.
“É um momento de crise do setor e se reflete também nesta edição da MITsp. É uma crise nacional e falta uma política de continuidade nos financiamentos do setor cultural, que impossibilita o planejamento a longo prazo e nos mantém em constante estado de emergência na produção cultural“, reflete Marques, responsável por captar parceiros para que a mostra se realize anualmente. Um dado interessante e recente apontado pelo Itaú Cultural mostra que a economia da cultura e das indústrias criativas (ECIC) representou 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2020. ”Esse valor é superior ao PIB da indústria automotiva, que foi de 2,5%. Mas o setor cultural tem sido desconsiderado por políticas culturais”, observa ele.
Assim, em 2025, a MITsp tem apresentação do Ministério da Cultura e Redecard, patrocínio do Sesi SP, copatrocínio do IBT – Instituto Brasileiro de Teatro e apoio cultural La Serenissima. A mostra tem correalização do Consulado Geral da França em São Paulo, Instituto Francês e Instituto Goethe. A realização do evento é da Olhares Instituto Cultural, ECUM Central de Produção, Itaú Cultural, Sesc SP, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, Funarte e Ministério da Cultura – Governo Federal.

Desde a primeira edição, em 2014, a MITsp já apresentou 179 espetáculos entre nacionais e internacionais, de 46 países, em 449 sessões, a um público aproximado de mais de 200 mil pessoas. As Ações Pedagógicas e os Olhares Críticos reuniram ao longo dos anos mais de 279 convidados, em 425 ações, entre oficinas, seminários, debates, entre outras, ocupando 51 espaços.
Neste ano, o espetáculo Vagabundus, de Idio Chichava – com inspiração no ritual de dança do povo Makonde, que vive em Moçambique e países vizinhos – vai abrir a mostra no dia 13 de março, no Teatro do Sesi – SP. “É um espetáculo que se faz sentir no próprio corpo ao unir dança, canto e música”, conta Araújo.
A Artista em Foco deste ano é a coreógrafa e performer Nora Chipaumire, nascida no Zimbábue, que vai trazer dois trabalhos: Dambudzo, instalação inspirada pelos significados literais e filosóficos da palavra dambudzo – “problema” em xona, uma língua bantu –, além de evocar ideias de pensadores africanos como Dambudzo Marechera (1952-1987); e a abertura de processo intitulado acontinua – um obituário, um manual para uma vida vivida perseguindo a VIDA, feito a partir de um convite da MITsp. “Ela vem da dança e fará, nesse working in progress, uma avaliação de seus trabalhos anteriores”, afirma Araújo.

A Vida Secreta dos Velhos marca o retorno de o ator, diretor e escritor francês Mohamed El Khatib à MITsp. São oito idosos em cena, não-atores, moradores de casas de repouso, a maioria octogenários e nonagenários. “Khatib toca em um assunto tabu, que é o desejo sexual das pessoas com idade avançada. Aqui, essas pessoas compartilham seus desejos”, continua Araújo.
Finalmente, o diretor argentino Guillermo Cacace traz Gaivota, livre adaptação do dramaturgo Juan Ignacio Fernández para a obra do russo Anton Tchekhov (1860-1904). “São cinco atrizes maravilhosas que, ao redor de uma mesa, revelam histórias de amores não correspondidos, de sonhos que se despedaçam ao serem realizados e dores que se acumulam.”
Este ano, a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo homenageia o multiartista brasileiro Antonio Nóbrega, que vai apresentar Mestiço Florilégio, trabalho multidisciplinar assinado por ele e sua mulher, a atriz e bailarina Rosane Almeida.

Já a MITbr – Plataforma Brasil selecionou para esta décima edição da MITsp os seguintes trabalhos: Repertório nº 3, de Davi Pontes e Wallace Ferreira (RJ); Baculejo, do Coletivo Riddims | Encante Território Criativo (CE); Quadra 16, de Cris Moreira (MG); Parto Pavilhão, de Aysha Nascimento, Jhonny Salaberg e Naruna Costa; e Graça, do grupo Girandança (RN).
Há ainda uma esperança dos organizadores de resgatar algum projeto, internacional ou brasileiro, com a criação de um programa de Patronos para pessoas físicas, que podem abater de seu Imposto de Renda parte da doação. “O formato de patronos, comum em outros países, é uma forma de conseguirmos outros modos de nos mantermos e, quem sabe, conseguirmos uma programação a médio prazo”, completam eles.