Ator tropeçou em saída de cena, machucou o nariz e peça ficou interrompida por 25 minutos; sessão de domingo, 19, foi cancelada
Por Ubiratan Brasil
O ator Marco Nanini, de 75 anos, não pisava no palco desde 2017, quando protagonizou Ubu Rei – desde então, além do isolamento social provocado pela pandemia da covid, ele participou de novelas, filmes e séries. A volta ao teatro aconteceu oficialmente na noite deste sábado, dia 18, com a estreia de Traidor, no Sesc Vila Mariana, sob a direção de Gerald Thomas.
Era o retorno de uma parceria iniciada com Um Circo de Rins e Fígados, há dezoito anos, primeiro texto de Gerald especialmente escrito para o ator. “Nanini é o ator mais intenso que conheço. Não tenho dúvidas do que estou dizendo. Digo isso como diretor, mas também como autor”, observou Gerald, durante o processo de ensaios, sem esperar que Nanini exibiria seu talento em um inesperado momento de dor.
O retorno, portanto, além de deixar elenco e produção ansiosos, era muito aguardado e seguia bem até que, com cerca de 50 minutos de espetáculo apresentado, Nanini tropeçou e caiu ao sair de uma cena. Estava escuro naquela região do palco, em um ponto já próximo do bastidor. O ator permaneceu caído durante alguns segundos, até ser levado para dentro.
A peça continuou por mais cinco minutos, até que o próprio Nanini entrou em cena para dizer que machucara o nariz, que sangrava, mas que retomaria o espetáculo depois de ser medicado. Prometeu voltar em 5 minutos, mas quem apareceu foi Gerald Thomas para explicar que o ator estava sendo socorrido e que insistia em terminar o espetáculo. “Ele foi atendido por paramédicos e sangrava profundamente”, escreveu depois o encenador em sua conta do Instagram.
Passados 25 minutos, Nanini voltou e foi calorosamente aplaudido de pé. Agradeceu o carinho da plateia e se sentou no trono para o monólogo final. “Aliás, um texto sob a medida. Parece que (às vezes) a vida imita a vida”, escreveu ainda Gerald, ao lembrar trechos do monólogo, como “Eu preciso de um médico, eu preciso da arte”, que representavam bem o momento.
Nanini recitou bravamente o monólogo, alternando o humor com o drama e, principalmente, fazendo improvisações brilhantes – como no início, quando o personagem diz que domina tudo, que pode fazer o que quiser, “até cair”, disse, para deleite da plateia.
Em seguida, ao som de um telefone tocando, o ator atendeu e, simulando uma conversa com Gerald, disse para ele tirar as pedras do cenário, referindo-se a pedaços de construções destruídas espalhadas pelo palco e que uma delas teria provocado a queda.
Apesar de visivelmente cansado, Nanini finalizou monólogo que, em linhas gerais, enaltece o poder (e a necessidade) da arte em tempos cada vez mais complicados. Como estava muito na ponta do palco, bem próximo à plateia, o ator ficou à frente da cortina quando essa se fechou. Com o teatro iluminado e o público novamente aplaudindo de pé, o ator chamou os demais colegas ao seu lado para dividir o carinho, convocando também Gerald Thomas.
Em seu rápido discurso, além de agradecer os profissionais daquela unidade do Sesc, homenageou Danilo Santos de Miranda, que foi diretor geral regional do Sesc durante 40 anos, revolucionando a prática social e cultural em São Paulo e que faleceu em outubro. A celebração de um grande artista feita por outro também gigante.
Mesmo em boa recuperação, Nanini foi aconselhado por médicos a não fazer a sessão programada para as 18h do domingo dia 19. “Informamos que o estado de saúde do ator Marco Nanini é bom, porém, por orientação médica ele permanecerá em repouso”, diz um comunicado divulgado pelo Sesc, que forneceu ainda informações sobre os ingressos adquiridos para a sessão: “compras realizadas pelo site ou aplicativo Credencial Sesc SP serão canceladas e estornadas automaticamente. E compras realizadas presencialmente serão reembolsadas, mediante apresentação do ingresso em qualquer bilheteria das Unidades da Rede Sesc SP”.