Monólogo escrito por Moisés Bittencourt, em cartaz no Teatro Renaissance, ganha interpretação pungente e sincera de João Côrtes
Por Ubiratan Brasil
O Brasil lidera diversos rankings mundiais, mas muitos são vergonhosos – como o de país onde mais se assassinam homossexuais. Dossiê do Observatório de Mortes e Violências contra LBGTI+ no Brasil, divulgado em maio do ano passado, denunciava a ocorrência de 273 mortes dessas pessoas de forma violenta no país, em 2022.
A situação se torna mais agravante quando a violência surge no relacionamento de pessoas do mesmo sexo. Essa é a história de Eduardo, personagem do monólogo “Invisível”, estrelado por João Côrtes e em cartaz no Teatro Renaissance.

Escrita por Moisés Bittencourt, a peça mostra os diversos percalços sofridos pelo rapaz, desde a recusa dos pais em aceitar sua homossexualidade até a opressão imposta por Michel, seu companheiro de vida e de apartamento. Em busca de uma frágil tranquilidade, Eduardo aceita em silêncio, suportando violência física e psicológica.
Até que, não suportando mais, toma a corajosa decisão de denunciar seu agressor, levando o caso às autoridades. No entanto, o descaso e o preconceito, que deveriam ser combatidos, criam uma barreira entre o grito de socorro e o medo de se expor, perpetuando a violência.
“Interpretar o papel de Eduardo é um desafio e é necessário. Abordarmos questões como a homofobia e a violência em relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo é crucial. Assim, ‘Invisível’ é um chamado à conscientização e empatia”, comenta Côrtes, indicado ao Prêmio Fita 2023 (Festival Internacional de Teatro de Angra) como Melhor Ator do Ano.
Em cena, ele dança, cai, canta, grita, exigências necessárias para manter a tensão pedida pelo texto. Assim, com delicadeza e determinação, Côrtes apresenta com sucesso ao espectador o perfil daquele jovem fragilizado, em uma comovente interpretação.

“O teatro tem o poder único de sensibilizar e provocar mudanças, e essa peça é um grito de socorro contra a violência em relacionamentos, especialmente entre casais do mesmo sexo. Afinal, a arte desempenha um papel crucial no enfrentamento da violência em uma sociedade machista e preconceituosa”, comenta Bittencourt.
Sem patrocínio, o espetáculo é bancado por seus integrantes, cientes da necessidade de se tratar no palco de temas urgentes e atuais, levantando questões como a vergonha e o medo de denunciar, a falta de apoio das autoridades e a fragilidade da vítima em relações tóxicas.
Serviço
Invisível
Teatro Renaissance. Alameda Santos, 2233
Sábados, 21h. Domingos, 20h. R$ 100
Até 3/3