Ao lado de Johnny Massaro, ele revive o espetáculo que dirigiu em 2000, com Paulo Autran no papel que agora ocupa
Por Ubiratan Brasil
O palco do Teatro Renaissance, que acumula muitas histórias importantes do teatro brasileiro, acaba de ganhar mais uma. Com a estreia da nova versão da peça Visitando o Senhor Green, aquele tablado recebe Elias Andreato no papel defendido há 25 anos por Paulo Autran e que teve o próprio Andreato na direção.
“O reencontro com o Sr. Green é carregado de nostalgia e emoção. E muita saudade do meu amigo Paulo Autran. Voltar a ele, com novas perspectivas e em um contexto diferente, permite redescobrir nuances que talvez tenham passado despercebidas antes. Foi uma experiência transformadora dirigi-lo pela primeira vez e agora é uma nova aventura explorar o mesmo texto sob a direção do talentoso Guilherme Piva”, celebra.

De fato, foi com essa peça que Andreato conquistou definitivamente a posição de grande encenador – a de grande ator já era uma conquista consumada. E a presença de Autran como uma espécie de avalista foi ainda mais poderosa. “Ele foi muito generoso, não contestando minhas decisões, colaborando sempre”, relembra Andreato, garantindo que agora chega desprovido de uma memória saudosista. “É um trabalho novo, que começou do zero, sem resquício do passado.”
Ele não nega, porém, que alguns gestos naturais de Autran, como coçar a sobrancelha quando pensativo, foram úteis na atual composição. “Isso me ajuda no exercício de criação do personagem, na elaboração da partitura cênica”, comenta.

Andreato divide a cena com Johnny Massaro, papel assumido por Cassio Scapin naquela primeira montagem – não se pode esquecer que Sergio Mamberti e Ricardo Gelli participaram de uma versão em 2015, dirigida por Scapin. Ele vive Ross, um jovem executivo de 29 anos que se envolve em um pequeno acidente de trânsito, que quase resultou no atropelamento do Sr Green, um velho e solitário judeu ortodoxo.
Condenado pelo juiz Kruger, que o viu como negligente na direção, Ross é considerado culpado pela ocorrência e, por isso, é obrigado a prestar serviço comunitário junto à vítima, visitando-o uma vez por semana, durante mais de dois meses.
O início da relação não é nada amistoso mas, aos poucos, nasce uma cumplicidade entre eles. Escrita pelo americano Jeff Baron em 1996, a peça é uma comédia agridoce sobre preconceitos diversos, desde contra a velhice até contra a homossexualidade.

“O que mais me atrai é a forma como os temas são abordados. Ela fala de como nos afastamos do amor, seja ele qual for, por diferenças de crenças, dogmas da sociedade e da religião. E reflete como é preciso ressignificar para se encontrar a verdade mais profunda do nosso ser, que por muitas vezes deixamos de lado”, diz Piva.
Já Andreato observa a importância de se falar de temas delicados. “O texto explora tópicos universais como tolerância, perdão e o choque entre gerações e culturas, tudo com um tom muito humano e cheio de humor. Também nos conduz por uma jornada onde os personagens, em sua humanidade e falhas, representam tantas pessoas que conhecemos em nossas próprias vidas.”
Longe do teatro há vários anos, Massaro sentiu-se motivado a aceitar o papel de Ross por vários motivos. “Quando soube que iria dividir o palco com Elias Andreato, entendi que era uma grande oportunidade para voltar”, comenta ele, também interessado pelos temas tratados no texto. “A peça texto traz infinitas questões além da diferença de idade, como de autoridade, preconceito, religião, família, diálogo e da importância de se escutar. Isso faz parte da nossa história porque envolve uma questão geracional. É impossível não pensar sobre o tempo quando se faz essa peça. É uma questão que está no nosso dia a dia.”
O que se inicia como uma comédia sobre duas pessoas estranhas que se ressentem de ter que compartilhar o mesmo ambiente, ainda por pouco tempo, transforma-se em um drama envolvente e emocionante à medida que segredos vão sendo revelados e antigas feridas começam a ser abertas.
E isso foi conquistado graças à cumplicidade e à amizade criada entre os dois atores. “Esse jogo é muito emocionante porque dentro da minha velhice, do meu exercício permanente do fazer teatral, eu me sinto mais vivo ao perceber um talento como do Johnny e de como ele me cobra mais coisas desse jogo”, diz Andreato.
Serviço
Visitando o Sr. Green
Teatro Renaissance. Alameda Santos, 2233
Sábados, 21h. Domingos, 19h30 (em janeiro) / 19h (a partir de fevereiro). R$ 150
Até 20 de abril (estreou 18 de janeiro)