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“Daqui Ninguém me Tira” usa marchinhas de carnaval para tratar de especulação imobiliária

Sinopse

Comédia musical de Noemi Marinho, dirigida por Neyde Veneziano, traz Giovani Tozi como funcionário de grande corretora que quer desalojar drag queen vivida por Alexia Twister

Por Ubiratan Brasil

Ao chegar no local de conversa com jornalistas sobre a peça Daqui Ninguém me Tira, que estreia no Teatro Sabesp Frei Caneca, o ator e produtor Giovani Tozi se deparou com uma situação que tornava ainda mais realista o tema da peça. “Até entrar no shopping Frei Caneca, recebi vários folhetos sobre o lançamento de novos prédios na região”, conta ele, que vive Herculano, funcionário de uma grande incorporadora que vai comunicar uma ordem de despejo a Velvet (Alexia Twister), uma drag queen que mora em um barracão que dará lugar a um enorme empreendimento.

“O texto foi escrito pela Noemi Marinho há alguns anos sob encomenda e a versão atual ressalta mais o detalhe de como a especulação imobiliária vem destruindo a memória arquitetônica da cidade”, comenta a diretora Neyde Veneziano. Reconhecida como uma das principais autoridades no estudo do Teatro de Revista, com cinco livros escritos sobre o assunto, ela associou o conceito à história. “Na Revista, os assuntos mais delicados, mais tristes, eram tratados com humor, facilitando que a mensagem fosse mais facilmente compreendida.”

Alexia Twister em Daqui Ninguém Me Tira. Foto Priscila Prade

Assim, Daqui Ninguém me Tira traz conhecidas marchinhas de carnaval executadas ao vivo por três músicos, que pontuam de forma divertida o drama vivido entre Herculano e Velvet. “É uma forma de carnavalizar a tragédia”, comenta Neyde.

O barracão onde Velvet vive é repleto de objetos que remetem a outras épocas, funcionando como uma espécie de museu informal. “Para que o cenário não ficasse cheio desses objetos, o cenógrafo Fábio Namatame teve a feliz ideia de fotografá-los e colocar a imagem no fundo do palco, dando a ideia de profundidade”, explica Giovani.

Velvet torna-se, assim, uma protetora da memória. “E, por ser uma drag queen, traz ainda o espírito transgressor das vedetes”, comenta Alexia, que usa figurinos do acervo de Namatame, criados para Marília Pêra no musical Vitor ou Vitória. De fato, isso confirma uma afirmação de Neyde, de que “a herdeira da vedete é a drag”. “Elas estão à mercê da figura masculina assim como estavam as vedetes”, completa a diretora.

Alexia Twister e Giovani Tozi em Daqui Ninguém Me Tira. Foto Priscila Prade

Para Noemi Marinho, a comédia musical explora os dois lados da história, questionando como conciliar o avanço urbanístico com a manutenção das raízes e do patrimônio cultural. E desafio da trama foi explorar a humanidade e os princípios que motivam cada personagem, sem recorrer à dicotomia entre bem e mal. “É importante não criar essa polarização, pois a peça ressalta a importância de valorizar e respeitar a diversidade em todas as suas formas”, comenta Alexia.

E, segundo Giovani (que, em algumas sessões, será substituído por Anderson Müller), o humor é o caminho mais suave para tratar de temas delicados. “Como dizia Jô Soares, principal personagem da pesquisa de doutorado sobre humor que desenvolvo na Unicamp, ‘só o humor pode salvar o Brasil’.” Ele lembra ainda caos urbano inspira uma fusão entre marchinhas de carnaval e hits da música pop, refletindo os fragmentos de um passado já distante. A presença da banda ao vivo estabelece o ritmo de um bloco de carnaval fora de época, mas também anuncia o desfecho inevitável.

Serviço

Daqui Ninguém me Tira

Teatro Sabesp Frei Caneca. Shopping Frei Caneca. Rua Frei Caneca, 569

Sextas, 21h. R$ 60 / R$ 80. Não haverá sessão no dia 14 de junho.

Até 28 de junho

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Ficha Técnica

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Serviço

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