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“A Milionária” usa o humor para mostrar como o dinheiro influencia as relações humanas e sociais

Sinopse

Peça que Bernard Shaw escreveu no final da vida continua afiada graças à divertida interpretação de um elenco protagonizado por Chris Couto

Por Ubiratan Brasil

Poucos dramaturgos analisaram com tanta graça e argúcia a importância do dinheiro nas relações humanas e sociais como o irlandês George Bernard Shaw (1856-1950). Em suas peças, não havia a clássica divisão entre bandidos e mocinhos, mas o inimigo exterior, que é o sistema destruidor da alma, e o inimigo interior, que tenta tanto quanto o primeiro roubar a objetividade indispensável do indivíduo em sua busca de uma existência humana decente.

A obra do grande autor irlandês prega, em linhas gerais, a desromantização do amor. Assim, os anti-heróis sempre têm sua simpatia nas peças porque não perdem tempo com sentimentalismos, mas pensam no que é básico para a condição humana. Dessa forma, Shaw criou fascinantes personagens femininas, exemplos de mulheres tratadas com dignidade e respeito.

Chris Couto na peça A Milionária. Foto Ronaldo Gutierrez

É o caso de Epifânia, protagonista de A Milionária, peça que estendeu sua temporada até o dia 25 de fevereiro, no Teatro Ruth Escobar. Trata-se de uma das mulheres mais ricas da Europa que, no início da história, reúne-se com seu advogado para discutir a possibilidade de seu provável suicídio. Ela pretende deixar toda a sua fortuna para seu marido como forma de punição pela infidelidade dele. 

Escrita em 1936, A Milionária é uma das últimas das 62 peças criadas por Shaw, entre textos longos e aqueles que contavam com apenas um ato. Na comédia, Epifânia acredita que todos têm seu preço, o que permite desvendar o modo de agir e pensar de sua classe social – tão poucas vezes retratada em cena. Tal fascinante mulher é novamente interpretada por Chris Couto, papel que assumiu pela primeira vez em 2019, quando ganhou merecidamente o Prêmio Shell de melhor atriz daquele ano.

Cena da peça A Milionária. Foto Ronaldo Gutierrez

O casamento de Epifânia fora resultado de um desafio. Seu finado pai, por quem ela não esconde uma fixação assumidamente edipiana, impôs uma condição: para se casar com a moça, o marido deveria receber uma quantia inicial razoável e, em seis meses, transformá-la em uma fortuna. O marido, boxeador e esportista, vence o desafio através de manobras financeiras criminosas e – ironia suprema – pela produção de uma peça teatral.

Mesmo assim, Epifânia não se interessa por ele. Após jogar escada abaixo um amigo que ofendera seu pai, ela encontra um médico egípcio e muçulmano, filho de uma lavadeira, por quem se apaixona. Para sua surpresa, ao propor casamento ao médico, ela é informada que a humilde mãe do doutor também impôs um desafio como condição à mulher que desejasse desposá-lo: a pretendente deveria receber uma quantia miserável e sobreviver unicamente através do seu trabalho durante seis meses – só assim seria merecedora da mão do filho.

Chris Couto, Guilherme Gorski e Priscilla Olyva em A Milionária. Foto Ronaldo Gutierrez

Epifânia concentra diversos pensamentos defendidos por Shaw, como seu desprezo pela autoindulgência, pelo sentimentalismo, pela irresponsabilidade e pela pobreza: para ele, o pior de todos os pecados contra a dignidade humana. Reforçando seu estilo dialético, Shaw, de maneira divertida, não coloca “a verdade” na boca de nenhum personagem; ele não subestima o espectador, convidando-o, o tempo todo, a pensar sobre os múltiplos pontos de vista expostos no palco. Shaw levou quatro anos para escrever o texto, finalizando o trabalho aos quase 80 anos de idade, em 1936. 

Avesso a honrarias públicas, Shaw foi premiado com o Nobel de Literatura em 1925, mas ele recusou. Também ganhou o Oscar de melhor roteiro por Pigmaleão em 1939. Dupla premiação como essa só foi igualada pelo poeta, cantor e compositor Bob Dylan.

Com direção de Thiago Ledier, A Milionária é a sexta peça de Shaw montada pelo Círculo de Atores – as anteriores foram O Homem do DestinoA Profissão da Sra. WarrenA Milionária4004 A.C. – A Origem e O Dilema do Médico. Além de Chris Couto, o elenco é formado por Guilherme Gorski, Luti Angelelli, Márcia de Oliveira, Priscilla Olyva, Rodrigo Chueri, Thiago Ledier e Sergio Mastropasqua.

Serviço

A Milionária

Teatro Ruth Escobar. Rua dos Ingleses, 209. Telefone (11) 3289-2358

Sextas e sábados, 21 h. Domingos, 19 h. R$ 80

Até 25/2

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Ficha Técnica

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Serviço

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