Iniciativa da Cia. Arthur Arnaldo, o evento Muvuca vai de sexta a domingo tentando entender/responder por que há pouca dramaturgia para o público jovem e quais possíveis temas a juventude gostaria de ver hoje no teatro
Por Dib Carneiro Neto (publicada em 12 de junho de 2025)
Segundo classificam o IBGE e a Unesco, primeira infância vai de 0 a 5 anos, crianças têm até 12 anos, adolescentes têm de 12 a 18 anos e jovens são os que estão entre 15 e 29 anos. Como, então, chamar esses que têm de 15 a 29 anos para ir ao teatro ver uma peça “infanto-juvenil”? Eles não gostam que chame assim. Soa como coisa de criança mesmo. Assim, surge o impasse. Jovens não vão ao teatro por não haver produções voltadas para eles ou não há teatro para eles não irem ao teatro? Seria bom chamar de teatro jovem? Mas o que é teatro jovem? É feito por jovens ou para jovens?
Para debater essas questões, a premiada companhia paulistana Arthur Arnaldo criou, por sua própria conta e risco, o evento Muvuca, que vai transcorrer durante três dias em sua sede, de sexta a domingo. Todos podem participar, sendo jovem ou não. Há uma taxa de inscrição, já que o grupo está fazendo tudo sem patrocínio nenhum. Serão debates, rodas de conversa, oficinas e leituras dramáticas. Uma iniciativa muito louvável, porque teatro jovem é realmente um tema que precisa ser debatido e ventilado cada vez mais.

“A Muvuca brotou em uma das reuniões semanais do grupo, nas quais já rondavam várias inquietações e uma certa angústia em relação ao teatro jovem, juventude, futuro e desdobramentos a partir desse trabalho que desenvolvemos há tantos anos”, conta a diretora Soledad Yunge, que idealizou e produziu o evento ao lado de Tuna Serzedello e Julia Novaes. “A imagem da muvuca de sementes, do plantar para recriar um ambiente que se renova a partir da diversidade, preservando as individualidades numa natural cooperação, apontou a forma deste encontro. Juntar e misturar. Conhecer e reencontrar pessoas, criar coletividade e parcerias, compartilhar para plantar futuro e formas de existir e resistir aos enormes desafios que enfrentamos no mundo atual.”
Realizar um evento como esse, em que o objetivo é pensar, só poderia partir de gente do teatro. Soledad explica: “O teatro nos oferece o encontro presencial e a possibilidade de estar numa relação de tempo/espaço que hoje é praticamente revolucionária se observarmos as novas maneiras e sistemas de relacionamentos. Nesse sentido, a ideia da Muvuca é também um antídoto a uma certa desumanização à qual todas estamos em alguma medida inseridas. Desde adolescente, faço teatro ou estou em alguma ação criadora e sigo na fé de que a arte nos oferece sentir que somos criadores da nossa existência. As pessoas jovens e suas vozes são essenciais para mover o presente e pensar o futuro. São atores sociais e, como tal, capazes de modificar o entorno. São elas que impulsionam nossas reflexões e trabalho. Estamos muito felizes em receber as pessoas jovens que virão ao espaço da Arthur Arnaldo e também todas aquelas que mesmo em outra fase da vida mantém vivo o estado de juventude. Esperamos que esta primeira edição seja a inauguração de muitas e muitas Muvucas.”
Tuna Serzedello, ator e dramaturgo, reforça os questionamentos que sempre os acompanharam durante sua bem-sucedida trajetória junto ao teatro jovem. “Como podemos definir o que é teatro jovem? Se a definição de teatro infantil é ‘teatro feito por artistas adultos para uma plateia de crianças’, qual seria a definição de teatro jovem? Não podemos replicar essa mesma lógica para os jovens, pois eles podem (e devem) estar em cena. Mas o teatro jovem é apenas aquele feito por jovens? E qual é o nosso lugar nessa história como uma companhia que faz teatro jovem há mais de 20 anos e, portanto, envelheceu? Quais são as formas, os temas, as dramaturgias que interessam? Quais são as juventudes de que estamos falando? A única certeza sobre a juventude é que ela é transitória. Como atualizar as práticas para cada nova geração de jovens? Qual a distância e qual a proximidade entre teatro jovem e educação? Pode existir um teatro distante da educação? Pode existir educação sem arte? Que dramaturgias dão conta de expressar o que os jovens querem ver em cena?”

Autor do livro – imperdível, diga-se – O Teatro Que Muda o Mundo – Experiências com Teatro Jovem, da Editora Peirópolis, Tuna Serzedello pesquisa, para seu mestrado na Unicamp, as dramaturgias para jovens. Reparem no que ele diz: “Constatei que boa parte da história do teatro brasileiro foi construída a partir de jovens dramaturgas/os que iniciaram suas carreiras bem cedo – Dias Gomes escreveu A Comédia dos Moralistas aos 15 anos; Artur Azevedo escreveu O Amor por Anexins aos 17; Consuelo de Castro escreveu Prova de Fogo aos 22 anos; entre muitos outros exemplos – mas não são consideradas peças jovens. Muvuca quer ser uma possibilidade de compartilhamento de experiências e fomento a novas parcerias e dramaturgias para os jovens de hoje e de amanhã.”
Em suas pesquisas, Tuna terminou por perfilar alguns itens que a chamada juventude declaradamente gosta de ver no teatro, para que ele seja considerado um bom teatro jovem: 1) Que contenha crítica social 2) Que queira mover estruturas 3) Que queira provocar algum tipo de mudança 4) Que use o presente para falar de futuro 5) Que não multiplique estereótipos 6) Que não queira ensinar nada de forma explícita e didática 7) Que seja coletivo 8) Que trate de questões ambientais. Não são pontos instigantes para um pensamento sobre essa arte?
Participarão desta primeira Muvuca: o pesquisador e arte-educador Paulo Gircys, a produtora teatral Gabi Gonçalves, o dramaturgo e educador Ed Anderson, o pedagogo e economista Carlos Gomes, a artista performática PH Veríssima, o pesquisador e crítico Amilton de Azevedo e a atriz, diretora, dramaturga e figurinista Claudia Schapira.
Serviço
1ª Muvuca de Teatro Jovem da Cia Arthur Arnaldo
Espaço Abacateiro da Cia. Arthur Arnaldo. Rua Manoel Gonçalves Mão Cheia, 363
Sexta, 13 de junho, das 19h30 às 21h30. Sábado, 14 de junho, das 10h às 20h. Domingo, 15 de junho, das 10h às 20h
Investimento:
R$ 50 (Bocadinho) para uma única atividade em qualquer dos dias.
R$ 75 (Meiuca) para um dia inteiro de Muvuca e uma cerveja (350ml) nesse dia
R$ 120 (Quero Tudo) com direito a participação em todos os dias da Muvuca e uma cerveja (350ml).
Inscrições no link: https://forms.gle/HBAvPi7DcyFhf1n3A