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Solo de palhaço fala com as crianças sobre a transgressão do amor

Sinopse

Chico Ribas encena em praças e parques ‘As Aventuras de Chico Buxixo e o Circo Invisível’, peça que mescla as linguagens do circo, teatro de rua, Commedia Dell’Arte e melodrama

Por Dib Carneiro Neto

Estreou no início do mês, na Praça da Sé, o espetáculo infantil de rua As Aventuras de Chico Buxixo e o Circo InvisívelA ideia do projeto é conseguir uma série de apresentações em ruas e praças de São Paulo até o fim de novembro. Todas as datas e lugares são definidos muito em cima da hora, porque infelizmente isso depende de burocracias municipais excessivas, mas vale a pena procurar por essa agenda, que será sempre divulgada a tempo pelas seguintes redes sociais: @laspanaca e  @chicoribas_. 

A peça estará em cartaz às quartas e quintas-feiras de novembro, às 15h. Com exceção da última semana de novembro que será na terça e na quarta. Trata-se do primeiro solo da carreira do ator, palhaço, músico e produtor Chico Ribas, um artista muito interessado em explorar as tradições do circo-teatro, do melodrama, do teatro de rua e da Commedia Dell’Arte. Com parceria de César Baptista na dramaturgia, que também é o diretor da peça, Chico Ribas consegue nesta atração juntar as quatro “linguagens”, por assim dizer. Para tanto, César e Chico apoiaram-se em duas pesquisas profundas: primeiro, sobre as linguagens do Circo-teatro e do Melodrama, conduzida por Fernando Neves, e, depois, sobre a Comédia Dell’Arte, conduzida por Fabio Caniatto.

Chico Ribas em As Aventuras de Chico Buxixo e o Circo Invisível. Foto Marcelo Villas Boas

“É um grande desafio ser palhaço sozinho”, declara Chico Ribas com exclusividade para o Canal MF. “No circo, nós trabalhamos muito em dupla de palhaços, sendo um o chamado escada (aquele que prepara a piada) e o outro o palhaço Augusto (aquele que realiza a piada). Eu sou um palhaço escada e, nesse trabalho, o desafio foi entender como fazer escada para mim mesmo. A direção do César Baptista foi fundamental para amenizar essa solidão, afinal César conseguiu construir uma encenação em que o palhaço o tempo todo atua com o público e com tudo o que há em cena.”

Um narrador chamado Polidoro

E qual será que foi o maior desafio do diretor? “Foi, sem dúvida nenhuma, pensar o espetáculo para o ambiente da rua, mantendo como princípio norteador o diálogo entre circo, teatro, melodrama e Commedia Dell’Arte”, responde César Baptista. “Sempre que escrevo e dirijo para o público mirim, procuro não o subestimar. Em outras palavras, escrevo para criança como escrevo para adultos. Isso não significa, porém, que se faça um tratado filosófico na peça. Por exemplo, em nossa peça, nós temos algumas camadas discursivas, por assim dizer: nós temos um narrador, Polidoro, que conta a história do palhaço Chico Buxixo e esse, por sua vez, se apresenta por meio de reprises e números. Acredito que a maior parte das crianças vai se interessar pelas reprises e números de habilidade, mas haverá aquela que pode se interessar pelo narrador, cuja maior habilidade é a de contar histórias fantásticas. Em suma, cada criança vai assimilar uma camada diferente da outra, o que penso que ocorre com adultos também.”

Chico Ribas em As Aventuras de Chico Buxixo e o Circo Invisível. Foto Marcelo Villas Boas

Chico Ribas também acredita que as crianças se prenderão mais às atrações vindas do circo. Ele acrescenta: “O circo é uma arte visual e sinestésica. O espetáculo transita por textos, acrobacias e mágicas cômicas, reprises clássicas, ou seja, é tudo visual a partir do lúdico e das possibilidades de imaginar e sonhar. Seja criança ou adulto, acreditamos nesse poder que o circo tem de encantar as pessoas.” 

Amor ou amizade?

Para Chico Ribas, o tema da peça é justamente o amor pelo circo e pelo palhaço. “Isso está no texto de diversas maneiras”, detalha ele, “seja pela história de amor proibido que se realiza no final do espetáculo, seja pelo amor aos pais ou ao melhor amigo. Isso se deu na equipe. Esse projeto foi realizado com muito amor e amizade com essa trupe invisível composta por César Baptista, Fernando Neves, Fábio Caniatto, Jully Tyuco, Gabiih Motta, Nathalia Gouvêa, Angela Ribeiro, Victor Lei, Lettícia Rey, Marcelo Villas Boas, Juliana Naju, Célia Ribas e Albino Ribas (meus pais, que também tiveram suas criações nesse espetáculo).

Chico Ribas em As Aventuras de Chico Buxixo e o Circo Invisível. Foto Marcelo Villas Boas

César Baptista opina sobre a questão do tema: “Penso que o tema principal da peça esteja relacionado ao amor. Não amor como relacionamento, mas sim amor como transgressão, como horizonte de transformação do impossível ao possível. Talvez até como utopia, não para chegar, mas para impulsionar como movimento. Daí vem a relação das memórias sendo apagadas e reconstruídas. É uma reconstrução como sujeito, que Chico Buxixo faz em cada cena episódica, quase como se ele fosse reconstruindo partes de si. Nesse sentido, a memória também aparece como um outro tema. No Brasil, há muitas pessoas que dizem para nós esquecermos o passado, como se, ao esquecê-lo, ele fosse embora. Mas é ao contrário: se a gente quiser um futuro diferente, temos de encarar nossos fantasmas, para dizer onde eles devem ficar. Só vamos conseguir construir um futuro diferente, quando olharmos nosso passado da forma devida.”

A relação com as crianças no teatro

Chico Ribas nos conta que seu contato com o público mirim se concretiza já há sete anos, desde que decidiu estudar e trabalhar no circo. Ele comenta: “O circo me levou para as ruas. Atualmente eu trabalho também com um grupo circense chamado Exército contra Nada.” Por sua vez, César Baptista, depois de ter sido assistente de direção, por anos, de Antunes Filho, Gabriel Villela e Jorge Takla, decidiu dirigir as próprias peças. Já está na décima, sendo três delas para o público infantil. Ele relembra: “A primeira foi Lobato ou o labirinto dos sonhos, que teve recepção surpreendente. Depois, Fábulas de um sótão, que teve estreia e temporada em teatros como o Anchieta, Sérgio Cardoso e Alfa – foi muito bem recebida pelo público e obteve excelente fortuna crítica. E agora As aventuras de Chico Buxixo e o Circo Invisível, encerrando uma espécie de trilogia da memória, como costumo brincar. A memória como sonho, devaneio e delírio, depois, a memória como bem material e imaterial, e agora a memória como diálogo com a tradição e com o futuro.”

SERVIÇO

As Aventuras de Chico Buxixo e o Circo Invisível

Temporada: 8 a 29 de novembro de 2023

Dia 15/11, quarta, feriado, às 15h, na Praça Marechal Deodoro, em Santa Cecília.
Dia 16/11, quinta, às 15h: Praça Padre Bento, Pari.

Todas as próximas apresentações serão divulgadas pelas seguintes redes sociais: @laspanaca e @chicoribas_.

Ingressos: Grátis, basta chegar próximo ao espetáculo

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Ficha Técnica

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Serviço

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