Com texto do canadense Daniel Danis e tradução e encenação de Luh Mazza, peça reestreia (agora no Sesc 24 de Maio) com um elenco negro para narrar a jornada de adolescentes sobrevivendo nas ruas de uma cidade grande.
Por Redação Canal Teatro MF
O dramaturgo canadense Daniel Danis, inspirado em notícias reais das superlotações nas prisões infantis do leste europeu e do processo de gentrificação que cidades passam para abrigar grandes eventos, escreveu um de seus textos – Kiwi. Ele estreou no Canadá em 2007 e a partir daí essa dramaturgia já foi encenada em diversos países como Alemanha, França, Hungria, México e Brasil. E retorna agora ao teatro do Sesc 24 de Maio.
Aqui, a temporada aconteceu em 2016, ano em que os jogos olímpicos foram disputados na cidade do Rio de Janeiro, em meio a um caos político, às vésperas de a presidente Dilma Rousseff ser afastada da presidência. No Brasil, tanto a questão das superlotações em prisões como a construção de grandes estádios e cidades olímpicas para sediar eventos esportivos são assuntos que demandam a falta de cuidado com as populações mais vulneráveis que sofrem com os impactos destes empreendimentos e convivem com os problemas posteriores aos grandes eventos.

Kiwi é o codinome de umas das personagens, uma órfã de doze anos que vive sob os cuidados de seus tios na periferia de uma grande metrópole. Com a chegada dos Jogos Olímpicos, as autoridades realizam uma limpeza social para a construção de estádios e outros edifícios para o evento. Moradias são destruídas, moradores expulsos e miseráveis exterminados.
A garota é abandonada por seus parentes em uma praça pública e é levada pela polícia. No abrigo prisão, ela conhece uma jovem que a convida para fugir com ela e seus amigos, um grupo de crianças e adolescentes em situação de rua que vivem juntos e se ajudam como uma grande família. Todos carregam como codinome uma fruta.
A diretora Luh Maza, que traduziu e encenou o texto aqui no Brasil no ano de 2016 e ganhou os Prêmios Aplauso Brasil e São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem, prepara a remontagem, desta vez com um elenco formado por uma atriz e ator negros. Sol Menezzes e Victor Liam dão vida a Kiwi e Lichia.

A encenadora se utiliza do conceito de Coreografia Dramatúrgica, criado por ela para definir seus desenhos cênicos marcados pela forte fisicalidade não-convencional, que faz os intérpretes dançarem suas marcas ao som do texto que falam. Na montagem, usa referências aos esportes, como o xadrez (a mente) e a corrida (o corpo) e trabalha a dualidade entre o teatro narrativo e a chave dramática da interpretação, com os personagens contando o que sentem, ou sentindo o que contam, preservando um espaço fundamental para o imaginário do espectador.
Os atores ficam em cena o tempo todo dentro do cenário também de Luh Maza: uma espécie de tabuleiro suspenso formado por placas de metal com pichações reais delimitado por luzes frias. A iluminação também é criação da diretora.
Serviço
Kiwi
Sesc 24 de Maio. Rua 24 de maio, 109
Sextas e sábados, 17h. R$ 50
Até 12 de abril (reestreia 28 de março)