Com direção de Nelson Baskerville, dramaturgia de Michelle Ferreira e idealização da atriz Nataly Cavalcante, “Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço” retorna no Complexo Cultural Funarte e explora diferentes facetas da poeta, ícone da poesia marginal
Por Redação Canal Teatro MF
Para a poetisa Ana Cristina Cesar (1952-1983), vida e literatura eram inseparáveis. Isso se vê em sua poesia, marcada pelo tom confessional, direto e de grande coloquialidade. Essa característica, associada a quebra dos padrões eruditos e a forte expressão contestadora das palavras, fez com que seu nome estivesse vinculado a outros poetas e poetisas que na década de 1970 criaram uma poesia tida como marginal.
O estar à margem e a personalidade marcante de Ana Cristina conduziram a atriz Nataly Cavalcante a pensar em um espetáculo que trouxesse o universo particular dessa autora. Para isso, ela convidou a dramaturga Michelle Ferreira e o diretor Nelson Baskerville para se associarem ao projeto. Disso resultou a peça Ana Marginal – Um Navio Ancorado no Espaço que estreou em 2023 e agora volta aos palcos na cidade de São Paulo, iniciando com uma temporada no Complexo Cultural Funarte.

O espetáculo transita pela obra e vida da poeta e para isso faz uso da performance para sua criação. “Como Ana Cristina Cesar pregava a quebra dos padrões eruditos e escrevia de uma maneira mais espontânea e contestadora, entendemos que o teatro performativo era a melhor maneira de homenagear essa mulher tão potente. Sempre achei que o Baskerville seria o diretor que conseguiria transpor para a cena o universo que eu imaginava pro espetáculo. E eu não me enganei”, comenta Nataly.
Já a dramaturgia de Michelle Ferreira traz para a cena três personas para representar a escritora: Ana – a poeta, Cristina – a performática, e Cesar – a acadêmica, representadas pelas atrizes Nataly Cavalcanti, Carol Gierwiatowski e Bruna Brignol, respectivamente, e que criam a amálgama da poeta em cena. O uso dessas três facetas também se expande para discussões em cena de temas que circundam a poeta, mas não relacionados diretamente a ela, como quando por meio de um metateatro as atrizes discutem assuntos como: por que sempre que se fala em artistas mulheres, o primeiro assunto é a sua vida pessoal, a histeria feminina, ao invés da importância das suas obras?
Além do espetáculo, o projeto contempla atividades paralelas como um sarau, a publicação e uma oficina de produção de um zine e, também, o podcast “Todo mundo acha que é Fernando Pessoa” que recebeu este nome por ser uma famosa frase de Ana Cristina Cesar. Ele será composto por quatro episódios, cada um sobre um tema e com um convidado diferente. As conversas em breve serão disponibilizadas gratuitamente em várias plataformas digitais.
Serviço
Ana Marginal – Um Navio Ancorado no Espaço
Complexo Cultural Funarte SP. Alameda Nothmann, 1058
Sextas e sábados, 20h. Domingos, 19h. Grátis
Até 6 de abril (estreia 28 de março)