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“Entre Irmãos” revela um tenso reencontro no velório do pai

Sinopse

Encenação minimalista de Marcos Damigo não traz objetos cênicos e potencializa os diálogos do texto e o jogo dos atores Fernando Pavão e Otávio Martins, no espetáculo que estreia no Teatro Faap

Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 16 de abril de 2025)

As relações familiares costumam render bons enredos tanto para o teatro como para o cinema. Nelson Rodrigues é um exemplo disso e suas dramaturgias passam pelos conflitos familiares entre irmãos, mães, tias e casamentos, conduzindo tramas envolventes. O cineasta Thomas Vinterberg expôs os dilemas de família em uma comemoração de aniversário de seu patriarca no filme Festa de Família, de 1998, no qual um dos filhos estraga a tal festa após uma revelação bombástica. 

As tensões dos encontros e reencontros costumam ser bons disparadores para a estrutura de um texto. O espetáculo Ente Irmãos, no Teatro Faap, se apropria desta ação para colocar em cena dois irmãos que, depois de 25 anos sem se ver, se encontram no velório do pai. O reencontro é tenso, carregado de ressentimentos e mágoas. Enquanto o irmão mais velho acusa o mais novo de fugir de suas responsabilidades, o irmão mais novo o acusa de ser cúmplice dos erros cometidos pelo pai. No entanto, uma revelação do passado muda totalmente o ponto de vista dos irmãos, que precisam revisitar suas intimidades para dialogar.

Otávio Martins e Fernando Pavão na peça Entre Irmãos. Foto Heloisa Bortz

O texto, escrito por Otávio Martins, aborda temas universais das relações familiares, como o confronto entre diferentes escolhas de vida e as complexas dinâmicas entre irmãos que tiveram a mesma criação, mas cujas personalidades entraram em rota de conflito. Otávio, que tem um irmão, enfatiza que a peça não é autobiográfica, mas reflete sobre o que acontece quando dois mundos tão diferentes são colocados frente a frente. “Todas as famílias têm um irmão que sai, que desbrava o mundo, e o irmão que fica, que fica responsabilizado por proteger e cuidar”, diz o autor que também está em cena ao lado do ator Fernando Pavão

Para ele, que tem duas irmãs, a peça parte de uma história cotidiana para refletir sobre assuntos muito mais profundos: “É um texto que fica na cabeça das pessoas, porque acaba espelhando todas as relações familiares”. Segundo Pavão, o desafio proposto pela dramaturgia é um dos fatores que mais o empolgou no projeto. “A peça tem um humor mesmo quando está no auge do drama e consegue ser dramática quando os diálogos são cômicos. Uma montanha russa para qualquer ator, um espetáculo para rir e chorar de emoção”, diz.

Para o diretor da peça, Marcos Damigo, que tem um irmão gêmeo, “a relação entre irmãos é uma das mais complicadas de se explicar. E o texto é um desafio não só pelo que é dito, mas principalmente pelo não-dito, o não-falado, o subentendido”. As escolhas de encenação foram tomadas em função do texto: “Os diálogos são muito bem estruturados, é um jogo de tênis que o espectador acompanha às vezes como plateia, às vezes como voyeur”. A escolha de uma encenação minimalista, sem objetos cênicos, permite que os atores explorem ainda mais a potência do diálogo. “O grande desafio para os atores é criar todo o ambiente cenográfico por meio das palavras. A interpretação dos atores ganhou uma outra qualidade.”

Serviço

Entre Irmãos

Teatro Faap. Rua Alagoas, 903

Quartas e quintas-feiras, 20h. R$ 120

Até 5 de junho (estreia em 16 de abril)

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Ficha Técnica

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Serviço

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