“Sebastian”, montagem portuguesa que já passou por diversos países e chega ao Galpão do Folias, é um monólogo inspirado no atentado ocorrido no ano de 2006 em um colégio na Alemanha
Por Redação Canal Teatro MF (publicado em 9 de abril de 2025)
Crimes em escolas praticados por jovens têm acontecido em muitas partes do mundo. O cinema já se apropriou desta narrativa em filmes como Elefante, de 2003, do diretor Gus Van Sant, e no documentário Tiros em Columbine, de 2002, de Michel Moore, ambos estadunidenses. Escolas, infelizmente, têm sido ambientes hostis e propulsores de violências.
No ano de 2006, Sebastian Bosse, um jovem alemão de 18 anos, invadiu sua antiga escola, feriu 27 pessoas e cometeu suicídio. O rancor do jovem contra seu antigo estabelecimento de ensino parece ter influenciado sua explosão de violência. As investigações destacaram em seu site frases de ódio ao ambiente escolar como: “Tudo o que aprendi na escola é que eu sou um perdedor,” e “Odeio as pessoas!”.

O dramaturgo norueguês Lars Norén criou uma dramaturgia a partir de uma extensa pesquisa em diários, textos e vídeos deixados pelo próprio jovem responsável por estes crimes e que retrata os últimos momentos antes do atentado. Ele articula uma personagem que vive em um “limbo constante entre o contar e o reviver, o acusar e o procurar respostas”, afirma o ator Francisco Monteiro Lopes, que interpreta esse monólogo com o título do próprio nome da personagem – Sebastian. A montagem, da companhia portuguesa Teatro Gíria, fará apenas três apresentações no Galpão do Folias.
“Lars Norén coloca como questão principal desta peça a responsabilidade: quanta parte de responsabilidade tem a sociedade e o público? Uma questão essencial para criar o desconforto pretendido”, reitera Francisco. A personagem expõe as violências que sofreu – verbais, físicas e psicológicas -, seu sentimento de não pertencimento e sua visão distorcida de liberdade.
A encenação se preocupou em inserir a plateia na reflexão sobre a culpabilidade destes crimes recorrentes no mundo. “Os espectadores não são agentes passivos na história, os espectadores são neste espetáculo representantes da sociedade”, antecipa o diretor Rodrigo Aleixo.

Com uma proposta cenográfica marcada pelo minimalismo, mas visando uma abrangência de ambientes, os objetos em cena – uma cama, uma televisão, uma cadeira de escola e um balde – representam, em camadas simbólicas, outros espaços por onde Sebastian transita e dialoga com a plateia, como um quarto, uma cela, um reformatório e uma sala de aula.
Além de marcar mais um passo na trajetória internacional do espetáculo, a vinda de Sebastian ao Brasil reforça também o compromisso do Teatro Gíria com o diálogo intercultural entre diferentes países e sociedades. Assim, de autoria sueca, criação portuguesa e inspirado em uma história real ocorrida na Alemanha, o espetáculo sintetiza os processos colaborativos preconizados pela companhia desde sua fundação, além de tocar em uma problemática que não se limita a nenhum país.
Serviço
Sebastian
Galpão do Folias. Rua Ana Cintra, 213
Sessões apenas nos dias 10, 11 e 12 de abril, 20h. R$ 40