O melhor do teatro está aqui

Companhia catarinense chega a São Paulo com mostra para a primeira infância

Sinopse

A Eranos, de Itajaí, conhecida por sua forma sensível de lidar em cena com a tecnologia digital, ocupará o CCBB paulistano com encontros gratuitos de teatro, cinema, exposições e oficinas, tudo voltado para a chamada primeira infância

Por Dib Carneiro Neto (publicada em 4 de julho de 2025)

Eranos – Círculo de Arte é um coletivo catarinense de artistas com formação interdisciplinar, que, desde 2009, produz e pesquisa arte e suas interfaces entre teatro, teatro de animação, literatura e audiovisual. A partir de 2011 inicia pesquisas na linguagem do teatro para a primeira infância. Os fundadores são Sandra Coelho e Leandro Maman, de Itajaí. Pois olhem que demais: eles saíram de Santa Catarina diretamente para passar as férias de inverno encantando as crianças de São Paulo com suas maravilhas tão criativas e potentes.

No anexo do Centro Cultural Banco do Brasil, o CCBB-SP, o sensível casal comanda a Mostra Primeira Infância – Ocupação Teatral Eranos, com direito a teatro, cinema, artes visuais e oficinas. Tudo de graça e até 4 de agosto. Uma incrível oportunidade para apresentar às crianças paulistanas um diversificado universo cultural. Ponto alto do trabalho da Eranos é a forma delicada com que trabalham essa tal de tecnologia digital, oferecendo ao público descobertas arrebatadoras.

Cena de O Barquinho Amarelo, da Ocupação Teatral Eranos. Foto Kamila Souza

As maravilhas digitais aparecerão, por exemplo, na peça inédita que trouxeram especialmente para a Mostra: Bebê e o Boi Babau, que une tecnologia com as tradições populares do Teatro Mamulengo, típico da região nordeste do país, e do Boi de Mamão, do litoral catarinense. A cenografia é construída com painéis de LED, com imagens especialmente criadas para se relacionar com os bonecos, dramaturgia e plateia.

Fique de olho também em #Mergulho – Experiência Teatral para Crianças, que conta a história de duas pessoas que vivem em universos diferentes, ele na terra e ela no mar, e em O Barquinho Amarelo, que propõe uma ponte entre gerações, resgatando brincadeiras, imagens e sonoridades das infâncias vividas no interior. 

Três perguntas para Sandra Coelho, a fundadora

1 – Você é uma das grandes pesquisadoras do teatro para bebês no Brasil. O que você acha que o público ainda não sabe sobre essa arte tão específica?
A forma como o teatro para crianças na primeira infância é percebida pelo público reflete diretamente as crenças e os conceitos preexistentes sobre o que é ser criança e sobre as infâncias. À medida que a compreensão se amplia, fica mais fácil compreender o teatro feito com e para este público. Por isso sempre falo que fazer teatro para bebês e crianças na primeira infância é uma ação ampla no mundo, que diz respeito não apenas a um momento estético e poético facilitado pelos artistas, mas que se expande para mudanças radicais, que englobam necessariamente uma mudança de visão e postura. Crianças não são receptáculos vazios influenciadas pelos adultos, e sim agentes ativos que constroem suas próprias culturas, interagem com o mundo ao seu redor e contribuem significativamente para a sociedade, ou seja, são atores ativos no mundo. Felizmente, alguns grupos já vêm se dedicando seriamente à pesquisa e à prática do teatro para crianças na primeira infância. Eles não só aprofundam o conhecimento nessa área, como também o compartilham ativamente com o público, mostrando as possibilidades e a riqueza dessa linguagem artística para os primeiros anos de vida e contribuindo para uma compreensão mais complexa e respeitosa da infância.

Sandra Coelho na peça #Mergulho, da Ocupação Teatral Eranos. Foto João Freitas

2 – E por que ela é uma arte tão comumente associada à recreação e aos estímulos sensoriais, embora seja muito mais do que isso?
Quando falamos que crianças na primeira infância só podem compreender e se relacionar com o teatro de maneira sensorial, ou seja, pela via dos sentidos, estamos reduzindo drasticamente a relação destes indivíduos com o mundo. Não vejo problema em fazer teatro a partir desta proposta, desde que ela não seja decorrente de uma visão limitada sobre as crianças. As crianças interagem e estão no mundo de maneira integral. Os sentidos são uma parte das ‘ferramentas’ (como diria Rubem Alves) das quais as crianças, assim como os adultos, lançam mão para se relacionar, mas ainda existem outras ‘ferramentas’. Uma ótima metáfora para considerar a criação teatral para além dos sentidos é a ideia das Cem Linguagens, de Loris Malaguzzi, idealizador da Pedagogia Reggio Emília, que considera que existem incontáveis formas de as crianças se relacionarem e se expressarem no mundo. Devemos então pensar num teatro que favoreça essas expressões, e que avance no sentido de considerar que uma obra cênica para crianças tem as mesmas necessidades de produção e cuidado que aquelas destinadas ao público adulto, pois, de fato, não há motivo algum para ser diferente. Podemos criar obras que sejam lúdicas, mas que, junto com isso, favoreçam a diversidade de possibilidades das diversas expressões infantis. Enquanto artista, acredito e defendo um teatro que nasça do contato direto e constante com crianças, para além dos momentos de apresentação, de modo que o tempo de contato expandido contribua com a descoberta de diversas camadas de possibilidades de atuação junto a este público. Importante lembrar, que na sociedade, criamos uma espécie de ‘hierarquia da existência’, embasadas por psicologias e filosofias desenvolvimentistas ultrapassadas, onde o pensamento, a racionalidade, a linguagem formal, a escrita, estão em patamares superiores, alcançados apenas quando atingimos a idade adulta. Devemos olhar para as crianças a partir de seus próprios parâmetros e não simplesmente em relação aos modelos de características e capacidades dos adultos, isso muda toda perspectiva de criação e relação artística.

3 – O que os levou a associar mamulengos e boi de mamão aos bebês no novo espetáculo? Conte um pouco sobre essa estreia.
O Bebê e o Boi Babau surge a partir da nossa pesquisa em teatro de animação para e com crianças, agora explorando as ricas veredas do teatro popular brasileiro. A dramaturgia original, criada a partir da observação e contato com bebês na relação com formas animadas, acompanha um Bebê destemido que embarca em uma jornada, cruzando o caminho de personagens clássicos do teatro popular brasileiro. O Bebê – chamado Pistache – e seu Boi Babau subvertem a ordem estabelecida pelo mundo dos adultos e dos seres mágicos, trazendo uma nova perspectiva sobre o viver e o morrer. Essa obra é ode ao universo das crianças e suas diversas expressões e formas de estar e se relacionar com o mundo, é uma obra que celebra o tempo das infâncias.

Serviço

Mostra Primeira Infância – Ocupação Teatral Eranos

Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo – Anexo CCBB. Rua da Quitanda, 80

Exposição:  O Céu, o Mar e a Palavra | Todos os dias, exceto às terças, das 9h às 20h
Teatro: Bebê e o Boi Babau | Quinta a domingo, às 15h
O Barquinho Amarelo | Sábados, às 11h
#Mergulho – Experiência Teatral para Crianças | Sábados, às 17h
Caixa Ninho | Domingos, às 11h
Cinema: Cine Eranos | Segundas e quartas, às 11h, 15h e 17h; Quintas, às 11h e 17h; Sextas, às 17h. Cine.EMA: é uma série de poemas animados voltados para a primeira infância. Os Pequenos Mundos: uma aventura com caixas.
Oficinas para Adultos. Oficina 1 – Protagonismo Infantil na Primeira Infância | 04 de julho, sexta-feira, das 9h30 às 12h30. Oficina 2 – Teatro de Animação e Primeira Infância |11 de julho, sexta-feira, das 9h30 às 12h30. Oficina 3 – Teatro de Animação Popular Brasileiro | 18 de julho, sexta-feira, das 9h30 às 12h30. Oficina 4 – Bonecos Digitais e Dispositivos Cênicos | 25 de julho, sexta-feira, das 9h30 às 12h30
Oficina para crianças (duração: 50min):  Oficina De Formas Animadas para as Infâncias | Sábados e domingos, às 13h30

Quarta a segunda, das 9h às 20h. Grátis

Até 4 de agosto (a partir de 3 de julho)

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Ficha Técnica

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Serviço

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