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Cia. Delas retrata no palco o pioneirismo de Marie Curie

Sinopse

Com ‘Marie e a Descoberta Luminosa’, no Sesc Consolação, o consagrado grupo paulistano estreia a terceira parte de sua trilogia sobre mulheres cientistas chamadas Maria, desta vez mostrando todos os caminhos abertos na ciência pela única detentora de dois prêmios Nobel, um de Física, outro de Química

Por Dib Carneiro Neto (publicada em 17 de outubro de 2025)

Teatro feito por mulheres, ciência feita por mulheres… Crianças descobrindo os mistérios da criação artística e científica, ou seja, descobrindo a vida. São apenas alguns dos jeitos de olhar para a estreia, neste fim de semana, do espetáculo infanto-juvenil Marie e a Descoberta Luminosa, novo feito da consagrada Companhia Delas, no Teatro Anchieta do Sesc Consolação.

A montagem encerra a trilogia As Três Marias, dedicada a mulheres que revolucionaram a ciência, e traz à cena a história da cientista Marie Curie, em uma abordagem com potencial para fisgar a atenção tanto de crianças quanto de adultos. Marie e seu marido dedicaram suas vidas ao estudo de uma energia invisível que ela batizou de radioatividade, conquista que rendeu ao casal um Nobel de Física.

Cena de Marie e a Descoberta Luminosa. Foto Lígia Jardim

Mais tarde, depois da morte de Pierre, Marie receberia outro prêmio Nobel, agora de Química, pela descoberta de dois novos elementos químicos – o Rádio e o Polônio. Assim, Marie Curie se tornou a primeira mulher a receber o prêmio Nobel e é, até hoje, a única pessoa a recebê-lo duas vezes em áreas diferentes da ciência. Foi também a primeira mulher contratada como professora na Sorbonne, a Universidade de Paris, e, ao lado da filha Irene, fez importantes estudos sobre o uso da radiação no tratamento contra o câncer. Durante a Primeira Guerra, foi obrigada a interromper suas pesquisas e decidiu levar máquinas de raio X para os campos de batalha. Suas ‘Petites Curies’, como eram chamadas, atenderam quase 200 mil soldados feridos.

“Nosso maior desafio de produção foi viabilizar a peça, fazer com que o projeto acontecesse de fato”, conta Cecília Magalhães, que assina a produção executiva do espetáculo. “O último espetáculo nosso foi em 2020, antes da pandemia. Em 2022, começamos a entender que daria para recomeçar a pensar em voltar para os palcos. Nos inscrevemos em todos os editais possíveis e não conseguimos nada. Até que no ano passado, em 2024, decidimos parar de depender de edital. Usamos um fundo de reserva que a companhia tinha, resultado das outras peças do nosso repertório (esta será a 13ª!), e encaramos o desafio, apostando também em usar na produção a bilheteria que viesse com a nova peça. E assim chegamos a essa terceira Maria cientista. Foi um dinheiro suado literalmente e muita vontade de fazer.”

Quando fala na terceira Maria, a produtora se refere à trilogia integrada também pelos espetáculos anteriores do grupo, que retrataram as vidas de Mary Anning, maior caçadora de fósseis da história, e Maria Sibylla Merian, ilustradora e entomologista que registrou pela primeira vez a metamorfose dos insetos. Foram atrações cativantes, inventivas, ousadas, dessas que encaram o teatro para crianças e jovens com renovação e viço, nunca com acomodamentos. Rhena de Faria, que dirige agora a vida de Marie Curie, também assinou a direção de Mary e os Monstros Marinhos, sobre Mary Anning. Ela nos conta o que vem por aí de diferente desta vez: “O que mais quero que público e crítica reconheçam é que esse é um trabalho para todos: adultos, jovens e crianças. Um espetáculo feito por pessoas que acreditam que teatro infantil precisa ser para todo mundo. Eu espero de coração que vejam isso.”

Ela prossegue: “Sobre o processo, Marie e a Descoberta Luminosa teve uma direção executada sempre muito junto e totalmente misturada com a construção do texto. Isso porque a dramaturgia foi sendo desenvolvida por mim e pelas atrizes ao longo dos ensaios. Às vezes eu tinha de parar o desenho da cena pra gente discutir sobre teorias atômicas, luminescência, raios X, e tantos assuntos que permeiam a descoberta da radioatividade. E quando achávamos que entendíamos sobre algo, já no ensaio seguinte deixávamos de entender. Assim se passaram oito meses de processo. Encaramos a árdua tarefa de traduzir esses temas da Física e da Química para o público infantil, de forma que eles pudessem ser motivadores. Porque esses temas normalmente só são introduzidos ao currículo escolar no Ensino Médio.

Outra cena de Marie e a Descoberta Luminosa, da Companhia Delas de Teatro. Foto Lígia Jardim

E ela continua: “Mas o que mais me interessou contar para as crianças desde sempre foi sobre a busca obstinada de Marie Curie pelo conhecimento científico. A história de resistência da Polônia, sua terra natal, se funde com sua própria resistência ao patriarcado da época. Uma mulher que precisou deixar o país que tanto amava para poder estudar e se tornar quem ela se tornou. Isso nos fez mergulhar também na história e na cultura polonesas. Foi um processo de pesquisa muito rico para o qual contamos com a preciosa consultoria de cientistas químicos e físicos e de imigrantes poloneses. Eu gostaria de poder dizer que, por ser minha segunda parceria com a Companhia Delas e por eu ter ganhado alguma experiência ao longo desses anos, tudo ficou mais fácil. Mas a verdade é que foi uma peça dificílima de levantar, talvez a direção mais trabalhosa que já tive. O que me agrada no resultado é que fizemos uma obra teatral em sua essência mais pura: tudo está no trabalho das atrizes. Tudo! E texto, cenário, figurino e música foram trabalhados sempre na síntese de uma ideia, respeitando a inteligência do público e dando à plateia a oportunidade de imaginar e completar o que ela vê”.

Mais detalhes para quem gosta de saber bastante sobre o espetáculo antes de prestigiá-lo: 

CENOGRAFIA. Marisa Bentivegna desta vez aposta em caixas de chumbo. Elas é que vão caracterizar as fases diferentes da peça, como infância, escola, a guerra, o laboratório. 

DESENHO DE LUZ. A mesma Marisa Bentivegna, uma das mais proeminentes iluminadoras cênicas do País, pensou em uma luz brilhante, para chegar perto do conceito de radioatividade. 

FIGURINOS. Sobriedade marca a criação da figurinista Mira Haar, que quis realçar nas roupas esse traço da personalidade da cientista. Adereços terão papel importante na trama, como se pode imaginar.

TRILHA SONORA.  Arthur Decloedt, mais uma vez recrutado, misturou nos sons as etnias polonesa e francesa, além de procurar instaurar uma atmosfera sonora mágica, para marcar o aspecto envolvente da ciência. 

Serviço

Marie e a Descoberta Luminosa

Sesc Consolação – Teatro Anchieta. Rua Dr. Vila Nova, 245

Sábados, 11h. Haverá sessão no dia 20 de novembro, 11h. R$ 40

Até 29 de novembro (estreia 18 de outubro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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