Grupo paulistano de grande sucesso com o público mirim comemora 15 anos na estrada, com uma festança no domingo (6), repleta de atrações e convidados como Deodora, Trupe Lona Preta, Ale Roit, Dario França, El Pastel, Cilindra e Pagodegua
Por Dib Carneiro Neto (matéria publicada em 4 de abril de 2025)
Nas ruas e nas praças eles são transbordantes, irrequietos, reis do improviso. Nos palcos dos teatros, irradiam alegria, criatividade, jogo de cintura, leveza e graça. É um quarteto e tanto. Um caso raro de afinidade, sintonia e empatia. Gabi Zanola, Gislaine Pereira, Renato Ribeiro e Vinicius Ramos, palhaços até debaixo d´água, resolveram dar uma grande festa para comemorar os 15 anos de trajetória de sua consagrada companhia, a Trupe DuNavô, que você conhece de espetáculos como Refugo Urbano, É Mesmo uma Palhaçada, O Livro do Mundo Inteiro e Irmãos Carreto, além de Detetives do Espavô, em parceria com o Grupo Esparrama.
Será no domingo, dia 6 de abril, a partir das 14 horas, e sem hora para acabar, na Casa DuNavô, que fica no bairro paulistano de Água Branca. Com entrada franca. É só chegar e festejar. Além do quarteto anfitrião, foram recrutadas atrações de amigos do grupo, como Deodora, Trupe Lona Preta, Ale Roit, Dario França, El Pastel, Cilindra e Pagodegua.
Gabi, Gi, Renato e Vinicius se conheceram em 2010 no Programa de Formação de Palhaços para Jovens, dos Doutores da Alegria, um curso que tinha a duração de 2 anos, com aulas diárias. “Durante o primeiro ano do curso, nos reuníamos após o horário de aula para pesquisar gags clássicas e criar cenas nossas”, relembra Renato Ribeiro. “Desses momentos de pesquisa nasce a nossa Trupe DuNavô e o primeiro espetáculo do grupo, ‘É Mesmo Uma Palhaçada’, porém é importante ressaltar que cada integrante do grupo tem uma história pregressa nas artes, cada um vindo de uma periferia de São Paulo, com formações e vivências diferentes.”

Qual seria o segredo da longevidade do grupo? “Acho que o maior segredo pra se manter nessa profissão há tanto tempo é trabalho, trabalho e trabalho”, diz Gabi Zanola. “E, claro, manter uma boa relação no grupo e acreditar muito nesse poder de transformação que a arte tem, sobretudo a arte da palhaçaria, e pensar que fazemos um trabalho de formação de público, pois tem gente que acompanha o nosso trabalho há anos, pessoas que conhecemos criancinhas, bem pequenas, e hoje já são jovens.”
Gabi prossegue, emocionada: “É muito bom olhar pra trás e ver que trilhamos uma linda estrada, plantamos muita coisa boa, deixamos muita gente feliz e, na medida da nossa pequenez, tentamos ensinar um pouco. É difícil trabalhar com arte, exige muito esforço e pouco reconhecimento, por isso a importância de trabalhar em um coletivo, de pensar arte junto, com objetivos e crenças em comum.” Ela conta da importância de ter um espaço fixo para a companhia: “Em 2023 inauguramos a nossa sede, de maneira totalmente independente, e seguimos tentando fazer arte, muitas vezes sem nenhum edital ou patrocínio. Agora mesmo estamos buscando apoio para estrear um novo espetáculo que homenageia todas as possibilidades de formações de família e também as formações artísticas, circenses e teatrais, que nos moldaram e nos inspiraram a continuar lutando pelo que acreditamos.”
Vinicius Ramos ajuda a lembrar qual espetáculo é considerado o mais bem-sucedido do grupo. Ele não tem dúvida: “O espetáculo mais bem sucedido é o É Mesmo Uma Palhaçada, que faz um tributo ao riso e à memória do circo, com esquetes clássicas revisitadas com a nossa estética. Uma peça que é para todas as idades, a mais versátil e adaptável, pois, como diz a própria música do espetáculo, apresentamos até na calçada.“ Vinicius tenta explicar o motivo do sucesso desta peça: “Embora seja uma obra simples, traz em si as questões primordiais da palhaçaria: o erro, o fracasso, o lidar com as dificuldades a partir do que se tem em mãos e isso faz com que o público se veja em cena, se identifique, se reconheça e consiga até rir de si mesmo.”
Gislaine Pereira entra na conversa para definir a linha de atuação do grupo, incluindo as escolhas estéticas e as temáticas adotadas por eles no repertório. Ela esclarece: “Nossa pesquisa é a palhaçaria e todos os seus possíveis desdobramentos. Somos um coletivo que se uniu a partir da vontade de entender o que era esse arquétipo (o palhaço) e o que ele representa na sociedade atualmente. Começamos fazendo intervenções na rua, com o simples mote de ‘encontrar todas as pessoas do mundo’ e nem sonhávamos o quanto esses encontros reverberariam em nós. Quinze anos se passaram e ainda buscamos esses encontros, talvez agora mais preparados e atentos ao que nós também acreditamos como ideal de mundo.”
Gi prossegue no raciocínio: “É interessante olhar nosso repertório e perceber que, mesmo que os espetáculos tratem de temas diversos e tenham até uma estética diferente entre si, todos eles têm a cara e o jeito DuNavô de ser. Não há muito como explicar isso a não ser pelo fato de que somos um grupo que é meio família também – a gente se fala no olhar, meio que completa as frases uns dos outros e estamos sempre discutindo o mundo em que vivemos, as questões que nos incomodam e como, dentro do nosso fazer artístico, podemos pensar outras formas de ser.”
“Uma outra característica muito forte da Trupe”, completa Gislaine, “é que somos uma companhia de repertório, nossos espetáculos não são aposentados, estamos constantemente revendo nossas obras e atualizando nosso discurso e pra isso também buscamos estar em treinamento com outros mestres e artistas que pensam a palhaçaria e a arte de maneira geral. Então acho que o nosso olhar para a palhaçaria evoluiu à medida em que nós, como artistas pensantes, também buscamos evoluir. Não tem um ponto final, estamos sempre abrindo novos parágrafos.” Bela frase para se encerrar uma bela conversa sobre teatro, não? Vamos para a festa?
Serviço
Trupe DuNavô – Festa de 15 anos.
Casa DuNavô – na Rua Guaicurus, 368
Domingo, dia 6 de abril, a partir das 14h. Grátis