Walderez de Barros
em
De Federico García Lorca
Direção Elias Andreato
Com Patrícia Gasppar, Mara Carvalho, Victória Camargo, Bruna Thedy, Tatiana da Marca, Isabel Wilker e Fernanda Cunha
Estreia dia 14 de Setembro
Teatro Cultura Artística Itaim
Walderez de Barros comemora 50 anos de carreira,
que teve início em 1963 na Companhia de Cacilda Becker na estreia da peça Onde Canta o Sabiá, de Gastão Tojeiro.
Elias Andreato traduziu, adaptou e dirige para os palcos brasileiros A Casa de Bernarda Alba texto de Garcia Lorca escrito durante a ditadura de Franco na Espanha. O drama das mulheres nos povoados da Espanha, seu primeiro título, é um dos mais conhecidos e encenados textos de Lorca e compõe, ao lado de Bodas de Sangue e Yerma, uma trilogia que revela um cenário desalentador dos costumes da Espanha de sua época.
Bernarda (Walderez de Barros), matriarca dominadora que mantém as cinco filhas – Angústias (Mara Carvalho), Madalena (Tatiana de Marca), Martírio (Victória Camargo), Amélia (Isabel Wilker) e Adela (Bruna Thedy) – sob vigilância constante, transformando a casa onde vivem em um caldeirão de tensões prestes a explodir a qualquer momento pois, viúva do segundo marido, decreta luto de oito anos, submetendo suas filhas à reclusão dentro das frias paredes da casa, com as janelas cerradas. Completam a cena Pôncia (Patrícia Gasppar) e a criada (Fernanda Cunha).
Preconceito, vingança, fanatismo, machismo, tirania materna e padecimentos femininos, denunciam o esclerosamento social e a sobrevivência, em pleno século XX.
A trilha sonora original é composta por Daniel Maia. Os figurinos são de Fause Haten e o cenário de Fabio Namatame. Wagner Freire criou a luz, que completa a cena idealizada nesta montagem de Elias Andreato dessas oito mulheres, lideradas por Walderez de Barros, que “com brilho no olhar ocupam o centro da cena. Reinventam suas histórias poemas e cantilenas”, segundo o diretor.
A construção central do drama de Lorca – a casa na qual uma família de mulheres solitárias é controlada por uma mãe tirânica – teria sido inspirada em uma família da pequena cidade granadina de Valderrubio, onde os pais do poeta, que ali tinham uma propriedade rural, conheceram uma certa Frasquita Alba, mãe de quatro filhas, que comandava com mão de ferro, e um homem de nome Pepe de la Romilla, que teria se casado com a filha mais velha de Frasquita, somente por seu dote e, posteriormente, teria se envolvido com a mais jovem das irmãs. Dessa história real, Lorca apropriou-se da ideia de uma casa sem homens para compor o tema central de La Casa de Bernarda Alba: o lugar da mulher na sociedade espanhola.
As nossas mulheres de Lorca, por Elias Andreato
Nem todos os poetas escritores dramaturgos e compositores conseguiram definir a delicadeza e a explosão destes seres criadores geradores de tanta vida.
Quem sou eu para ter direitos exclusivos sobre elas?
Nossa vida masculina só se define ao lado destas meninas nem sempre senhoras de seus destinos. Suportam suas sinas às vezes caladas outras em desatinos pela violência de nós meninos.
Com as mulheres aprendi o valor da gentileza e da doação.
Quando o assunto é o coração só se ama e quem ama não mata não.
Aprendi também que a vida dividida alimentada com generosidade se torna a inteligência de quem se sabe soberana. A submissão impregnada a gerações tomou voz. Hoje quem define o tom e rabisca a partitura são elas.
A música já pode ser ouvida nos palácios periferias e em todas as tribos.
Eu sei que ainda são poucas neste mundo masculino de homens tão bandidos violentos e mesquinhos. Sem demagogia ou julgamento leviano participo da marcha de todas as Santas e Vadias.
Quero o nosso mundo igual sem tiranias. Que esta alquimia vire ouro nos nossos dias. Na Grécia antiga elas já foram proibidas de representar de subir ao palco para dançar ou mostrar sua alegria. Hoje são mestras na arte de atuar. Com brilho no olhar ocupam o centro da cena. Reinventam suas histórias poemas e cantilenas. Hoje são elas que escancaram nossas mazelas nossos medos nossa prepotência. São elas as nossas mulheres que falam de nossa impotência.
Federíco Garcia Lorca
Nascido numa pequena localidade da Andaluzia, García Lorca ingressou na faculdade de Direito de Granada em 1914, e cinco anos depois se transferiu para Madrid, onde ficou amigo de artistas como Luis Buñuel e Salvador Dali e publicou seus primeiros poemas. Grande parte dos seus primeiros trabalhos baseiam-se em temas relativos à Andaluzia (Impressões e Paisagens, 1918), à música e ao folclore regionais (Poemas do Canto Fundo, 1921-1922) e aos ciganos (Romancero Gitano, 1928). Concluído o curso, foi para os Estados Unidos e para Cuba, período de seus poemas surrealistas, manifestando seu desprezo pelo modus vivendi estadunidense. Expressou seu horror com a brutalidade da civilização mecanizada nas chocantes imagens de Poeta em Nova Iorque, publicado em 1940. Voltando à Espanha, criou um grupo de teatro chamado La Barraca. Não ocultava suas ideias socialistas e, com fortes tendências homossexuais, foi certamente um dos alvos mais visados pelo conservadorismo espanhol que ensaiava a tomada do poder, dando início a uma das mais sangrentas guerras fratricidas do século XX. Intimidado, Lorca retornou para Granada, na Andaluzia, na esperança de encontrar um refúgio. Ali, porém, teve sua prisão determinada por um deputado, sob o argumento (que tornou-se célebre) de que ele seria “mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver”. Assim, num dia de agosto de 1936, sem julgamento, o grande poeta foi executado com um tiro na nuca pelos nacionalistas, e seu corpo foi jogado num ponto da Serra Nevada. Segundo algumas versões, ele teria sido fuzilado de costas, em alusão a sua homossexualidade. A caneta se calava, mas a Poesia nascia para a eternidade – e o crime teve repercussão em todo o mundo, despertando por todas as partes um sentimento de que o que ocorria na Espanha dizia respeito a todo o planeta. Foi um prenúncio da Segunda Guerra Mundial.
Walderez de Barros
Completando em 2013 cinquenta anos de profissão, Walderez de Barros que estreou em 1963, profissionalmente na Companhia Cacilda Becker, com a peça Onde Canta o Sabiá, de Gastão Tojeiro, direção de Hermílio Borba Filho, é uma atriz consagrada pela crítica especializada, tendo seu nome ligado a inúmeros trabalhos dos mais contundentes no teatro brasileiro, além de atuações marcantes na televisão e no cinema. Além de inúmeras indicações para as mais importantes premiações, WALDEREZ DE BARROS conquistou, entre outros, 3 Prêmios Molière e 3 Prêmios Mambembe, como Melhor Atriz de Teatro. Alguns de seus premiados trabalhos em teatro: MEDÉIA, tragédia grega de Eurípides; A GAIVOTA, de Anton Tchécov; MAX, monólogo de Manfred Karge; O JARDIM DAS CEREJEIRAS, de Anton Tchécov; ELEKTRA, de Sófocles; AS PORTAS DA NOITE, espetáculo com poemas e canções de Jacques Prévert; MADAME BLAVATISKY, texto de Plínio Marcos; O ABAJUR LILÁS, texto de Plínio Marcos; O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO, adaptação do romance de José Saramago feita por Maria Adelaide Amaral; A PONTE E A ÁGUA DE PISCINA, de Alcides Nogueira, dirigida por Gabriel Villela; FAUSTO ZERO, de Göethe, direção de Gabriel Villela; HÉCUBA, tragédia grega de Eurípides, direção de Gabriel Villela. Em televisão, começou com BETO ROCKFELLER, na Tevê Tupi; na Tevê Globo, destacou-se em O REI DO GADO, de Benedito Rui Barbosa, com a personagem Judite. Por esse trabalho, recebeu vários prêmios, entre eles o Prêmio de Melhor Atriz de Televisão da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). Do mesmo autor, participou da novela PARAÍSO. Participou também, entre outras novelas, de LAÇOS DE FAMÍLIA, MULHERES APAIXONADAS, PÁGINAS DA VIDA, novelas de Manoel Carlos. Participou, ainda, de várias minisséries: DONA FLOR, HILDA FURACÃO, LUNA CALIENTE. As mais recentes novelas de que participou são: MORDE E ASSOPRA, de Walcyr Carrasco, e SALVE JORGE, de Glória Perez. Participou também da série ALICE, produzida pela HBO, com direção geral de Karim Aynouz. Em cinema, seus mais destacados trabalhos são: OUTRAS ESTÓRIAS, adaptação de contos de Guimarães Rosa, dirigido por Pedro Bial; e COPACABANA, um filme de Carla Camurati. Seu último filme foi QUINCAS BERRO D’ÁGUA, adaptação do conto de Jorge Amado, com direção de Sérgio Machado.