Com narrativa distópica, texto escrito e dirigido por Moisés Baião marca o primeiro trabalho do grupo Fumaça
Por Ubiratan Brasil
Em 2021, o escritor Moisés Baião publicou uma poderosa fábula juvenil, A Última Raposa do Mundo, publicada pela Cepe Editora. Sua originalidade estava no texto que aparentemente não seguia o perfil habitual para um público mais jovem. É uma narrativa distópica, em que uma raposa é a única sobrevivente de uma destruição total. Quando ela se prepara para fazer o discurso derradeiro do alto de um edifício da cidade contaminada, leva um susto quando um smartphone em meio entulhos colocados em um saco começa a tocar. Esse é o ponto de partida da versão teatral de A Última Raposa do Mundo, em cartaz no Centro Cultural São Paulo.
Com direção e adaptação do próprio autor, a peça marca o primeiro trabalho do grupo Fumaça. “Somos uma companhia que pesquisa a fábula para diferentes idades. Acho que só de ter uma raposa no título, já carregamos muitos estigmas sobre que tipo de história é essa, mas a fábula é uma coisa ancestral. A nossa peça fala de temas de jovens e adultos e é legal que a obra tenha sido enquadrada como infanto-juvenil quando foi publicada porque fala com um público em formação como leitor”, revela Baião.
Formado pelos artistas Jhennifer Peguim, Nuno José, Patrick Moreira Lima e o próprio Baião, o grupo Fumaça optou por uma cenografia formada por objetos envelhecidos para mostrar que a trama acontece em um cenário pós-apocalíptico. E, como a encenação acontece no porão do CCSP, um espaço nada convencional, o público se sente em meio a um deserto urbano onde a história se passa.
A encenação acontece também com trilha sonora executada em sua maior parte ao vivo pelo clarinetista Patrick Moreira Lima. Ela marca os diferentes estados emocionais presentes no espetáculo. “A maior parte das músicas que o Patrick toca no clarinete são de repertório em domínio público. Fizemos questão, eu e ele, de fazer uma pesquisa musical destas obras. Tem coisas muito antigas, melodias clássicas que as pessoas vão reconhecer. Só que com arranjos que modificam essa estrutura. Então, até nisso tem uma experimentação“, comenta Baião.
O texto reforça a importância da socialização e do contato pessoal em um mundo cada vez mais virtual. Também ressalta a valorização do livro como fonte de conhecimento. Na peça, a comunicação entre a raposa e o outro sobrevivente fala sobre tecnologia, telefones móveis, internet, GPS e a mais improvável situação naquele momento: um encontro de verdade, presencial.
Serviço
A Última Raposa do Mundo
Centro Cultural São Paulo – Sala Ademar Guerra. Rua Vergueiro, 1.000
Quarta a domingo, 20h. Entrada gratuita
Até 25 de agosto