Peça encenada pela primeira vez há 80 anos ganha montagem do Grupo Oficcina Multimédia, que usa vídeos como material cênico
Por José Cetra Filho
Apesar de montado e remontado tantas vezes, Nelson Rodrigues nas mãos de uma direção criativa sempre surpreende como algo novo, como algo que tivesse acabado de ser concebido.
Não é assim, com os finais de A Falecida, O Beijo No Asfalto e Toda Nudez Será Castigada? A maioria dos espectadores os conhece, mas tratados por mãos experientes eles continuam a provocar surpresa e comoção.
Foi assim em 2019 quando fomos impactados com a versão de Boca de Ouro apresentada no Sesc Santo Amaro pelo Grupo Oficcina Multimédia (GOM), com direção de Ione de Medeiros. Agora, o grupo mineiro retorna aos nossos palcos com sua visão de Vestido de Noiva, emblemática peça do dramaturgo, considerada por muitos como o marco da modernização do teatro brasileiro.
Estreada em 1943 com direção de Ziembinski, cenários revolucionários de Santa Rosa e interpretada pelo grupo carioca Os Comediantes, a peça continua desafiando encenadores, cenógrafos e iluminadores cada vez que é revisitada, uma vez que é sempre complexo achar uma solução cênica para os três planos (realidade, memória e alucinação) concebidos por Nelson Rodrigues para contar a história da protagonista Alaíde.
Elenco se reveza nos papéis
A julgar por Boca de Ouro, a distribuição inusitada dos papeis é uma característica da encenadora Ione de Medeiros, assim é com muita curiosidade que se aguarda quem interpretará Alaíde, Madame Clessi, Lucia e Pedro, o quarteto em torno do qual se desenrola a trama. Quem? Camila Felix? Henrique Torres Mourão? Jonnatha Horta Fortes? Júnio de Carvalho? Priscila Natany? Victor Velloso? Segundo o release o elenco “se reveza nas cenas entre personagens masculinos e femininos, sem distinção de sexo, numa performance que dá continuidade à proposta de duplos e trios como no espetáculo anterior da companhia”.
A concepção cenográfica também é de Ione e nesse aspecto muitas surpresas também estarão reservadas para os espectadores uma vez que a encenadora se vale dos multimeios que também são uma característica do grupo, conforme relato dela própria: “Para trazer dinamismo, misturamos vídeos com material cênico dialogando com os atores, trazendo mais riqueza para a montagem”.
Fundamental para esse tipo de espetáculo é o desenho de luz, aqui assinado por Bruno Cerezolli.
Na extensa ficha técnica da montagem cabe ainda destacar os nomes de Francisco Cesar na concepção da trilha sonora, Henrique Torres Mourão na concepção de vídeos, ambas funções em parceria com a diretora que também é responsável pelos figurinos.
Dessa maneira o grupo comemora com galhardia seus 45 anos de vida, 40 deles tendo Ione de Medeiros como diretora artística.
Cabe lembrar que foi editado pelo selo Lucias o livro comemorativo desses 45 anos que inclui as propostas de montagem de Vestido de Noiva.
Serviço
Vestido de Noiva
Centro Cultural Banco do Brasil – Rua Álvares Penteado, 112
Quinta e sexta às 19 h, sábado e domingo às 17h. R$ 30
Até 24 de setembro