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“Um Porre de Shakespeare” traz a obra do bardo acompanhada de boa bebida

Sinopse

Em toda sessão da peça, um dos atores ou atrizes ingere cinco doses de uma bebida alcoólica e deve encenar seu papel em estado de embriaguez, com o restante do elenco sóbrio

Por Ubiratan Brasil

William Shakespeare nunca saiu de moda. Mas, nas últimas semanas, o bardo vem inspirando uma série de montagens que ocupam os palcos paulistanos. No Sesc Vila Mariana, por exemplo, o diretor Gabriel Vilela continua em cartaz com seu Primeiro Hamlet enquanto espetáculo solo Leão Rosário, protagonizado pelo ator Adyr Assumpção no CCBB, é inspirado no Rei Lear e no artista Bispo do Rosário. Já a comédia musical Alguma Coisa Podre, que traz Shakespeare como personagem, fica em cartaz no Teatro Sabesp Frei Caneca até o dia 9 de junho.

Todas as montagens, até prova em contrário, são encenadas por atores sóbrios, mas o que esperar quando um deles sobe ao palco embriagado? Esse é ponto de partida da divertida montagem Um Porre de Shakespeare, versão brasileira produzida pelo Núcleo Experimental para o espetáculo Drunk Shakespeare, que estreou em Londres e fez enorme sucesso tanto na capital inglesa quanto em diversas cidades norte-americanas.

Na trama, a Sociedade Literária do Velho Bardo Bêbado é formada por seis atores e atrizes que se encontram todas as noites para celebrar o bom e velho “Will” e a sua tragédia mais famosa, a escocesa, aquela que ninguém ousa pronunciar o nome – aqui ousamos: é Macbeth. Infelizmente (ou felizmente) uma das pessoas do elenco toma cinco doses de uma bebida forte antes de começar a peça. Então, cabe aos outros manter a história nos trilhos.

E por que Macbeth? “Depois de muito trabalho de mesa e de muita análise do texto, acabamos percebendo que é a própria questão do sobrenatural, do oculto e do mistério que provavelmente justifica essa escolha. Obviamente esse texto é muito atual pelo seu aspecto político, mas acabamos transformando essa sociedade literária numa espécie de sociedade ocultista, e é aí que entra a história da bebida”, revela o encenador Zé Henrique de Paula, que assistiu à montagem nova yorkina em 2023 ao lado da produtora Renata Alvim. Depois de muitas risadas, a dupla decidiu trazer o espetáculo para São Paulo, em uma coprodução entre a Rega Início e o Núcleo Experimental.

Na prática, somente um dos atores – escolhido por um sorteio – toma as cinco doses da bebida em cena. E dois espectadores vão se sentar em lugares especiais e assumem o papel de rei e rainha – eles têm um papel surpresa e muito especial na montagem.

“Essa bebida ela vai funcionar como uma espécie de invocação, um ritual de invocação do espírito Shakespeariano, da alma Shakespeariana, e última análise do próprio Shakespeare, esteja ele onde estiver, para que ele derrame suas bênçãos para aquela apresentação que vai acontecer ali naquela noite. A bebida funciona como uma chave ritualística, como um símbolo de um ritual, e esse ator ou essa atriz que vai beber vai funcionar como um canal, como uma ponte para que todos acessem ali o espírito Shakespeariano. Obviamente tudo isso é uma grande brincadeira”, explica Zé Henrique de Paula.

O encenador garante que a peça não é uma sessão espírita, tampouco um ritual ocultista ou sobrenatural – apenas é feita essa brincadeira para que seja o elemento detonador da própria brincadeira da peça. “Como vamos chegar ao fim se uma pessoa não está completamente de posse das suas faculdades mentais, da sua capacidade física? E tudo é muito imponderável, porque não sabemos o que vai acontecer, já a bebida bate de um jeito a cada dia. Por isso, existe um elemento de improvisação, de jogo, de prontidão. Tem até uma frase de Shakespeare que diz: ‘Estar pronto é tudo!’. E, neste caso, acho que ela nunca foi tão verdadeira”, acrescenta.

A montagem brasileira difere das demais organizadas no mundo: em toda apresentação, a pessoa que bebeu na sessão anterior não está em cena, pois está se recuperando em casa. Por isso, cada ator está preparado para interpretar dois papéis diferentes. “Esse revezamento faz com que nunca haja um elenco igual ao outro nos mesmos papéis. E essa matemática toda faz com que, na temporada inteira, nunca haja uma escalação em que os atores façam os mesmos papéis na mesma combinação de elenco. Ou seja, as 32 sessões desta temporada terão uma combinação diferente da outra tanto pela escalação do elenco quanto pela pessoa que bebe na sessão. O jogo é a peça. Fazemos uma homenagem ao teatro, ao maior dramaturgo de todos os tempos e ao ofício do ator, que está sendo colocado em risco e em xeque todas as noites”, explica Zé Henrique.

O elenco é formado por Bruna Guerin, Fabiana Tolentino, Luciana Ramanzini, Cleomácio Inácio, Dennis Pinheiro, Gabriel Lodi e Rodrigo Caetano.

Recentemente, o diretor Dagoberto Feliz fez uma adaptação de Hamlet que misturava o texto original com a liberdade do improviso dos atores, que construíam novas possibilidades junto com a plateia. Em Shakespeare Embriagado, os atores bebiam um pouco em cada apresentação, mas um dos atores bebia um pouco a mais, seja Whisky ou Tequila, acompanhado, na primeira dose, por um espectador, para provar a veracidade da bebida.

Para o diretor, o encanto da montagem era “fazer Shakespeare o mais ‘esteticamente popular’ possível”. “E nada melhor do que um ambiente de um bar, no qual as pessoas estejam à vontade para participar e mostrar seu entusiasmo, ou desaprovação, para o que acontece na cena”, disse.

Serviço

Um Porre de Shakespeare

Teatro do Núcleo Experimental. Rua Barra Funda, 637

Sábados, segundas e terças-feiras, 20h. Domingos, 18h

Mezzanino: R$ 60. Palco: R$ 80. Mesa: R$ 100. Rei & rainha: R$ 120

Até 9 de julho

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Ficha Técnica

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Serviço

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