Alvo de ataques e injúrias por revelar pensamentos considerados blasfêmias em meio ao século XIX, misteriosa figura da escritora é considerada a sistematizadora da teosofia
Por Redação Canal Teatro MF
O dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999) retratou em seus textos personagens marginalizadas em ambientes do submundo, onde o vocabulário tinha sua identidade própria, estritamente realista. Há também em sua escrita um interesse pelos temas místicos. Isso gerou um de seus textos, Madame Blavatsky, com estreia no ano de 1985, direção de Jorge Takla, cenários e figurinos de J.C. Serroni e atuação de Walderez de Barros, que ganhou os Prêmios Molière e Mambembe.
Passados quase quarenta anos, a dramaturga Claudia Barral escreveu um solo para a atriz Mel Lisboa, Madame Blavatsky – Amores Ocultos, que surgiu a partir do contato com o texto do dramaturgo santista. Ela fará uma última sessão com ingressos gratuitos: no dia 28, às 21h, no Teatro Cacilda Becker.

A dramaturgia brinca com os limites da ficção, investigando convenções da representação teatral e simulando, através do texto, uma incorporação mediúnica. Em cena, o espírito de Helena Blavatsky (1831-1891), fundadora da Sociedade Teosófica, exige retornar a um teatro, utilizando-se do corpo de uma atriz, para colocar a sua controversa história em pratos limpos. Como toda história tem várias versões, Helena é interrompida por outros espíritos, que também querem dividir com o público as suas impressões.
Helena Blavatsky foi uma escritora russa que viveu no século XIX e é considerada a pessoa que sistematizou a teosofia moderna, que de forma bastante reducionista podemos dizer que é um conjunto de doutrinas filosóficas, esotéricas e ocultistas que buscam o conhecimento direto dos mistérios da vida, da natureza e da divindade.
Ela viveu em um momento histórico em que a religião estava sendo rapidamente desacreditada pelo avanço da ciência e da tecnologia. Por isso tornou-se cofundadora da Sociedade Teosófica, que pregava a junção de todos os credos, incentivando a pesquisa científica, o pensamento independente e a crítica da fé cega através da razão.

Ela buscou o conhecimento filosófico, espiritual e esotérico, para desenvolver seus poderes paranormais de forma controlada, a fim de que pudesse servi-los como instrumento para a instrução do mundo ocidental. Com isso, lutou contra todas as formas de intolerância e preconceito, atacou o materialismo e o ceticismo arrogante da ciência, e pregou a fraternidade universal.
Assim como Plínio Marcos, que expôs em seus textos um universo que não era comum ao teatro e por isso sofreu censura, Blavatsky também se tornou o alvo de ataques e injúrias, pela coragem e ousadia de trazer à luz do dia aquilo que era blasfêmia revelar. Para o dramaturgo santista, a religião podia ser também subversiva, conforme palavras dele no programa da peça que estreou em 1985: “A religiosidade nada tem de alienação, conformismo ou adaptação a um sistema político-social econômico injusto. Aliás, a religiosidade é altamente subversiva. A religiosidade leva o homem ao autoconhecimento. E o autoconhecimento leva o homem à subversão”.

Fazendo um paralelo com o pensamento do dramaturgo santista, o diretor Marcio Macena destaca a preponderância do pensamento religioso em Blavatsky: “Ela abalou e desafiou de tal modo as correntes ortodoxas da religião, da ciência, da filosofia e da psicologia, que é impossível ficar ignorada. Foi uma verdadeira iconoclasta – ao rasgar e fazer em pedaços os véus que encobriam a realidade”.
Serviço
Madame Blavatsky – Amores Ocultos
Teatro Cacilda Becker. R. Tito, 295 – Lapa. Telefone (11) 3864-4513
28 de novembro, quinta-feira, 21h
Ingressos grátis, distribuídos 1 hora antes da sessão na bilheteria do teatro