“Mar Aberto” propõe reflexão sobre temas como a complexidade das relações familiares, os limites, as perdas e o luto
Por Redação Canal Teatro MF
A vastidão do mar e seus mistérios é material de inspiração para muitos artistas. Em O Marinheiro, de Fernando Pessoa, peça teatral escrita em 1915, três irmãs velam uma mulher em frente a uma janela aberta para o mar e, durante isso, refletem sobre a vida e sonhos numa imersão poética. Já em Mar Aberto, peça que estreia na Cúpula do Teatro Municipal, o mar impõe sua presença por meio da sua sonoridade.
“Que posso te entregar além do meu mar aberto, minhas ventanias?” Essa é uma das estrofes do poema escrito por Claudia Barral e que inspira a dramaturgia escrita por Giovana Eche e Beatriz Barros.
Aqui, assim como no texto de Pessoa, o encontro se dá entre três mulheres. Na trama, em um teatro abandonado, duas atrizes recebem uma terceira artista muito famosa para ensaiar e apresentar um espetáculo. Elas lidam com muitos mistérios ao encenar a seguinte trama: ao alugar um dos quartos de sua casa para uma estranha, a vida das irmãs Helena e Lúcia começa a mudar. Uma misteriosa janela que não pode ser aberta guarda segredos acerca de uma irmã ausente, soterrada nos escombros da memória.
A onipresença do mar desenha a escrita. Sofia, a hóspede inesperada, não conhece limites em sua busca apaixonada por respostas. Ainda assim, sabe que algo a ameaça: sejam as águas internas, como os segredos não revelados, a violência de Helena; ou águas externas, como a fúria do mar e a chuva que alaga sonhos e esperanças. Para isso, elas fazem uso na dramaturgia de dispositivos como o melodrama, a metalinguagem e uma investigação de diferentes recursos do teatro épico, traçando-se um paralelo entre o público e o mar, explicitando a imensidão e a imprevisibilidade do oceano, refletindo as incertezas e os desafios enfrentados pelos personagens da narrativa.
A peça é um convite a refletir sobre temas como a complexidade das relações familiares, limites, perdas, o luto e as linhas tênues entre o que se entende por ficção e realidade. “Trata-se de enfrentar os medos e as verdades submersas, ponderando se há paz em manter certos segredos afogados na quietude ou necessidade de reconhecê-los. Dessa forma, ela se desdobra em uma conta dramática de confrontos, revelações e um olhar profundo e intrigante sobre os mistérios da memória humana e da natureza ao redor”, comenta Giovana.
“A encenação se destaca por criar uma atmosfera híbrida, na qual a ficção transpassa a realidade e convida os espectadores à reflexão, sobrepujando as barreiras de tempo e espaço em um exercício contínuo de metalinguagem entre o real e o ficcional, entre o fazer teatral e a realização de uma peça, entre o ensaio e a apresentação final”, comenta a diretora Beatriz Barros.
Serviço
Mar Aberto
Theatro Municipal – Cúpula – Praça Ramos de Azevedo, s/n
13 de dezembro, às 20h
14 de dezembro, às 17h
15 de dezembro, às 17h e às 20h
Ingressos: gratuitos, com reserva em https://theatromunicipalsp.byinti.com/#/ticket/