Terceiro espetáculo da mostra “Grito de Mulher“, monólogo reúne, no Centro Cultural São Paulo, histórias e menções à artistas emblemáticas que se destacam em suas criações, ressaltando questões ligadas à luta da mulher
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 12 de maio de 2025)
O que será que a cantora, compositora e performer estadunidense Laurie Anderson, a escritora e poeta polonesa Wislawa Szymborska, a atriz e autora inglesa Maureen Lipman, e a atriz brasileira Ester Laccava têm em comum?
O quarteto de mulheres está de alguma forma representado no espetáculo Ossada, que reestreia para encerrar a mostra Grito de Mulher, da atriz Ester Laccava. Um solo que reúne cinco histórias de Lipman, com referências à Szymborska e Anderson, retratando mulheres angustiadas e exaustas com o dia a dia opressor em situações cotidianas. A adaptação foi feita por Ester, Elzemann Neves e João Wady Cury.

Em um formato de monólogos que trazem cinco contextos – de um pai em coma, do casamento de um filho, de uma entrevista para a TV, dos abusos familiares e de um cigarro que nunca acende – onde o ponto comum é a figura da mulher esgarçada em sua existência, os textos expõem o patético inconfessável no cotidiano de cinco personagens femininas que desafinam diante das regras sociais e acabam vazando, deixando transparecer o animal indomesticável que habita a mulher como sujeito e objeto.
Ossada funde essas narrativas num contexto que coloca em debate a trajetória do mundo enquanto humanidade, ou melhor, a capacidade do indivíduo em compreender a humanidade por um viés de fato humanístico. “Tudo é potencializado no sufocamento causado por frustrações dessas mulheres dentro de um cenário minimalista e selvagem”, conta Ester, completando que o cenário, ou instalação, “remete a uma sala de museu de história natural, desdobramento do significado da palavra ossada”.

A escolha por um teatro com elementos da performance visa unir toda a equipe numa só voz. “Um grande sopro de um gigante que tomba esses temperamentos, colocando essas mulheres diante da fragilidade versus a força, na mesma intensidade, como se duas notas dissonantes encontrassem no universo fantástico um lugar possível de se harmonizarem”, finaliza a atriz e diretora.
Ossada encerra a trilogia da atriz iniciada com Curtume – Dias Secos Inundados de Acácia, onde se acompanha a história de uma mulher desde a infância até a idade adulta, e seguida de A Árvore Seca, na presença também de uma mulher que transcende sua infertilidade e arranca à força felicidade nos pequenos momentos de sua vida no sertão. Em comum, as peças abordam temas recorrentes no trabalho da artista, assuntos ligados à luta da mulher como o abuso, a misoginia, o preconceito, o machismo, o assédio, o incesto e a pedofilia, entre outras questões.
Serviço
Ossada
Centro Cultural São Paulo – Espaço Ademar Guerra (Porão). Rua Vergueiro, 1.000
Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h. Dia 31, duas sessões , 19h e 20h. Grátis
Até 31 de maio (reestreia dia 15 de maio)