Nova montagem do Coletivo Catappum! traz ao palco samba, músicas do congado mineiro, folias de reis, mágicas, números cômicos, teatro de revista, radionovela e melodrama para reviver as memórias do circo-teatro brasileiro e dar protagonismo à palhaçaria preta
Por Redação Canal Teatro MF
Em meados de 1880, o circo Sotero passou pela cidade de Patafufo, em Minas Gerais, e chamou a atenção do menino Benjamim. Filho de uma mulher escravizada e de um capitão do mato, a criança se encantou e fugiu com o circo. Nascido no ano de 1870, um ano antes da Lei do Ventre Livre, chegou ao mundo com a garantia da sua liberdade e fez bom uso dela – foi acrobata, trapezista e depois palhaço.
Benjamim de Oliveira foi um multiartista e propagador do circo-teatro no começo do século XX. Ele é considerado o primeiro palhaço negro registrado na história brasileira. Faleceu no ano de 1954. O espetáculo Na Lona de Benjamim, do Coletivo Catappum!, refaz os passos desse artista. No palco, uma trupe de palhaçaria que viaja no tempo/espaço remendando histórias do passado em busca da herança de Benjamim, encontra uma velha lona de circo, onde existe um morador desmemoriado que não lembra sobre a sua história, muito menos a de Benjamim.

Com samba, músicas do congado mineiro, folias de reis, mágicas, números cômicos, teatro de revista, radio novela e melodrama, a trupe embarca nas memórias do circo-teatro brasileiro para combater o surto de desmemória aguda. Essa trajetória revista em cena poderá ser acompanhada nos Teatros Paulo Eiró e Arthur Azevedo.
Benjamim produziu mais de 100 obras escritas para circo-teatro, diversas chulas e lundus gravados nos primeiros discos de 78 rotações no Brasil, atuou no cinema, no circo-teatro e dirigiu diversos espetáculos, entre outras ações artísticas.
Para Chico Vinícius, ator e dramaturgo, o espetáculo usa a metáfora dos múltiplos trabalhos artísticos de Benjamim de Oliveira, para falar de memória e do protagonismo dos artistas negros. “O povo preto teve um apagamento histórico de suas narrativas e a ideia de Na Lona de Benjamim é resgatar esses personagens, pois ainda existem muitas histórias a serem contadas”, reflete ele.
Chico é um dos integrantes do Coletivo Catappum! que pesquisa desde 2015 a linguagem da palhaçaria preta. Para a criação do espetáculo, fizeram várias viagens para as cidades de Pará de Minas e Belo Horizonte, em Minas Gerais; e Rio de Janeiro. Com um vasto material de entrevistas e documentos, o Coletivo Catappum! produziu a websérie de três capítulos Caminhos Abertos de Benjamim de Oliveira, disponível no canal do YouTube do grupo.
“Estamos fazendo coisas que há quatro anos não seria possível. Hoje contamos uma potente história da palhaçaria preta que consolidou o circo-teatro brasileiro. Todo esse caminho de pesquisa, para homenagearmos Benjamim, foi muito instigante e quando chegamos na sala de ensaio, já estávamos povoados de ideias e informações, o que é inspirador. Então, minha direção começou antes, quando os estudos ganharam campo, na busca por livros, entrevistados e informações. Quando decidi seguir os passos de Benjamim, eu já sabia que direção seguir fora e dentro do palco”, reflete a diretora Mafalda Pequenino.
Serviço
Na Lona de Benjamim
Teatro Paulo Eiró. Av. Adolfo Pinheiro, 765. Santo Amaro
De 30 de janeiro a 9 de fevereiro. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h. Grátis
Teatro Arthur Azevedo. Av. Paes de Barros, 955. Alto da Mooca
De 13 a 23 de fevereiro. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h. Grátis