Peças dirigidas por André Guerreiro Lopes e Elias Andreato, respectivamente, encerram temporada com atuações precisas de Luís Mello e Bianca Bin
Por Bruno Cavalcanti
“Nosso olhar percorre a crueldade e o fascínio que essas relações, tão conhecidas do nosso cotidiano, nos remetem às lembranças pueris e medonhas que guardamos para sempre. É impossível não nos identificarmos com os personagens, e com a situação criada pelos autores de forma tão realista e explosiva.”
É assim que o diretor Elias Andreato apresenta O Nome do Bebê, espetáculo em cartaz no Teatro do Sesc Ipiranga e que traz sua assinatura na direção. Na obra, um casal de amigos, pais de primeira viagem, anuncia que o nome do filho será Adolfo, em uma nada proposital referência a Adolf Hitler.
A partir desta informação, o espetáculo se desenvolve em uma guerra social entre os amigos em um processo que deixa cacos sociais espalhados pela sala. Embora se refira à obra dos dramaturgos franceses Matthieu Delaporte e Alexandre de lá Patellièr, não seria difícil enquadrar as palavras do diretor na apresentação de Mutações, em cartaz no Teatro do Sesc Consolação.
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Embora esteja em um campo dramatúrgico bastante diferente da comédia francesa, Mutações é também uma obra onde as relações nos remetem às lembranças pueris e medonhas guardadas desde sempre.
Na obra de Gabriela Mellão sob a direção de André Guerreiro Lopes, Luís Mello dá vida a um homem idoso que traça um diálogo direto com sua versão mais jovem através das lembranças que guarda de seu passado. Nada é linear no espetáculo que se inspira no Livro das Mutações, uma filosofia oriental que apresenta o processo da vida como um eterno recomeço através de novas informações.
“Acredito que tudo nesse espetáculo me leva a analisar passagens da minha vida e mesmo escolhas de toda uma carreira. Estou sempre recomeçando, assim como esse homem de frente para o seu passado”, explica Mello.
Pouco ou nada há de similaridade entre O Nome do Bebê e Mutações, afora o fato de serem espetáculos que trabalham, a seu modo, com o âmago do ser humano e suas situações limite.
Se em uma das cenas da obra em cartaz no Sesc Consolação o idoso tenta a todo o custo salvar sua versão mais jovem de um fim trágico, em O Nome do Bebê o que entra em discussão é a busca pela salvação de uma relação a partir de opiniões impostas e um jogo de poder que as personagens buscam estabelecer a todo o momento.
Homem, o animal que ri
“O homem é o único animal que ri diante do inferno que são os outros. Humor não se explica, mas a crueldade sempre nos incomoda. A nossa comédia certamente deixará o espectador feliz, mas ele terá que rir de si mesmo”, acrescenta Andreato.
Mello corrobora: “Vejo nesse espetáculo um pouco do onde nós podemos chegar. Nada é definitivo e nós também não colocamos assim, mas eu acredito que haja um lugar caótico onde o ser humano é o único capaz de se colocar”.
Com versão do texto assinado por Clara Carvalho, O Nome do Bebê conta com elenco formado por Bianca Bin, Cesar Baccan, Eduardo Pelizzari, Lilian Regina e Marcelo Ullmann. Já Mutações é interpretado por Luís Mello, Andréia Nhur e Alex Bartelli.
Serviço
O Nome do Bebê. Sesc Ipiranga (Rua Bom Pastor, 822). Sextas e sábados, 20h. Domingo, 18h. R$ 40. Até 20 de agosto
Mutações. Teatro Anchieta, Sesc Consolação (Rua Dr. Vila Nova, 245). Ingressos somente na bilheteria do teatro para as sessões das 17h e 20h do sábado, dia 19 de agosto. R$ 50. Até 20 de agosto