Novo espetáculo de Vitor Rocha que chega em outubro será ao ar livre, gratuito e com uma estrutura gigante como cenário
Por Ubiratan Brasil
O ator, dramaturgo e diretor Vitor Rocha faz uma brincadeira ao avaliar a evolução de sua carreira de cinco anos: o cenário de sua primeira peça de sucesso, Cargas D’Água – Um Musical de Bolso (2017), se resumia a dez caixotes, enquanto a próxima, Mundaréu de Mim, que estreia em outubro, tem uma enorme armação com 14 metros de altura. “Éramos três atores no Cargas e agora o elenco soma 18 intérpretes e 9 músicos”, adiciona ele.
As dimensões físicas, no entanto, são insuficientes para mensurar seu talento: próximo dos 26 anos (completa em outubro), Vitor consolidou-se como um dos principais criadores do musical brasileiro, construindo uma obra marcada tanto por apresentações em Nova York (Out of Water, versão inglesa do Cargas) como transposição para o cinema (O Mágico di Ó foi filmado por Pedro Vasconcelos e deve estrear em breve).
Quinto musical original criado por Rocha, Mundaréu de Mim é de longe o mais ambicioso e marca sua estreia oficial no circuito mainstream depois de anos fomentando a programação alternativa. A estreia está prevista para o dia 6 de outubro e a encenação vai acontecer ao ar livre, em uma área do Parque da Água Branca, em uma semi arena preparada para receber 2 mil pessoas por sessão, com ingresso gratuito.
A trama traz a bem dosada mistura de originalidade com simplicidade, que marca os trabalhos de Vitor Rocha. O lirismo agora está no conceito de que as pessoas não morrem e sim viram “saudade”, algo indecifrável, mas que, ao menos uma vez por ano, lhes dá o direito de assumir a forma humana outra vez.
Assim, no domingo de carnaval de um ano qualquer, Graciela, uma menina que decide sair escondida da mãe para conhecer a festa mais famosa do Brasil, acaba esbarrando em José, um homem que já virou saudade e agora busca a ajuda de alguém ainda vivo para falar com uma pessoa do seu passado e explicar um mal entendido. Como Graciela também precisa de alguém que a ajude a escapar da mãe e entrar na avenida, eles decidem se apoiar e acabam vivendo uma aventura capaz de redesenhar a história da vida dos dois – literalmente – do começo ao fim.
“Escrevi a história pensando mais no uso do corpo do que da palavra”, conta Rocha, cuja trama se adapta perfeitamente ao cenário: uma grande estrutura metálica que lembra a junção de brinquedos infantis de parques públicos. Uma criação de Anderson Dias a partir das sugestões da diretora artística, Duda Maia.
Duda é uma das mais criativas encenadoras da atualidade, preferindo trabalhar o espaço cênico de uma forma distante do convencional. No musical Jacksons do Pandeiro, por exemplo, belo espetáculo que montou com a Cia. Barca dos Corações Partidos, ela se inspirou no universo rítmico de Jackson, marcado pelas quebras, para criar a concepção do espetáculo. Assim, o cenário lembrava um parquinho com piso irregular, com ondulações e espaços limitados.
“Quando começo uma produção, a palavra normalmente não me interessa, mas sim a fisicalidade da ação”, conta ela, que planeja não apenas a total ocupação do espaço como também sua contribuição para a narrativa.
Por isso, o texto de Vitor vem sendo ligeiramente adaptado à medida que os ensaios apontam a necessidade, pois o que importa é a comunicação. “Como se trata de uma história com camada sutis entre vida e morte, ela tem que ter identidade”, comenta a atriz Luiza Porto, parceira de Vitor desde Magico Di Ó e que, com ele, encabeça a direção geral do projeto, além de também atuar.
“Por ser uma encenação ao ar livre, para muitas pessoas, temos de ganhar o público e, para isso, busco a síntese da síntese para facilitar o entendimento”, completa Vitor, que brinca ao classificar o projeto como Rodaverso, uma ironia com o multiverso, conceito pseudo científico usado principalmente nos filmes de super-heróis para descrever o conjunto hipotético de universos possíveis, incluindo esse em que vivemos.
Também importante na conquista da atenção do espectador é a trilha sonora, composta por Gui Leal e com direção musical de Josyara. “Ele trouxe sua assinatura para as canções, que têm muita brasilidade, mas também são marcadas por quebras, ou seja, do rap vai para o samba em poucos segundos”, comenta Vítor.
Mundaréu de Mim é, até o momento, o projeto mais ambicioso do Instituto Brasileiro de Teatro, o IBT, uma organização social exponencial que busca viabilizar novas formas de se fazer teatro no Brasil. Em sua sede, no edifício onde funcionou o Lions Brasil, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, está em cartaz o espetáculo Fracassadas, primeiro trabalho apoiado pela organização, que busca abrir novos postos de trabalho em outras capitais, como Manaus.