Com uma tríade de personagens, o ator Marcio Vito apresenta monólogo que disseca as relações trabalhistas, humanas e sociais do país, em espetáculo que ganhou o Prêmio Shell 2025 de melhor cenário no Rio de Janeiro
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 2 de junho de 2025)
Três personagens estão imersas em um mesmo ambiente – um prédio de escritórios. O trio está comprimido entre o elevador e a portaria. Imigrante do interior do Brasil, Marcelino é tímido, introvertido e trabalha como ascensorista para mandar dinheiro para casa. Ele passa seus dias enclausurado, descendo e subindo, dentro de uma caixa metálica. Stella é uma executiva ambiciosa, uma espécie de coach de si mesma, que está começando em um novo emprego. O porteiro Webberson controla tudo da portaria, até mesmo a música que toca no elevador. Ele sonha em ser policial e ter em mãos uma arma que lhe traga poder.
Desdobrando-se entre as três personagens, um único ator, Márcio Vito, ilustra a realidade com um humor ácido, característico da dramaturgia de Rogério Corrêa, que teve a ideia de escrever Claustrofobia em 2009, quando percebeu os dilemas em que o capitalismo insere ou exclui as pessoas. “Percebi como ainda tem muito ascensorista trabalhando. Descobri que, para mim, aquele trabalho era uma metáfora da alienação do capitalismo, do trabalho contemporâneo”, diz o autor e idealizador do projeto.

O espetáculo, que ganhou o Prêmio Shell 2025 no Rio de Janeiro, na categoria de melhor cenário, assinado por Beli Araújo e Cesar Augusto, fará uma temporada no Auditório do Sesc Pinheiros. O prédio onde se passa a história é um microcosmo das relações trabalhistas, humanas e sociais do país e o texto amplifica o significado deste espaço como um receptáculo que acolhe e aprisiona a existência do trio.
“Essas três personagens se esbarram num mesmo contexto arquitetônico, que é um prédio típico de centro empresarial. Se nos aprofundarmos um pouco mais, as situações acontecem em torno do ascensorista, que está dentro do elevador. São representações de um sistema traduzido pela arquitetura de um prédio. A partir daí vamos entendendo as humanidades”, diz Cesar Augusto.
A opressão do dia a dia – da pobreza, do machismo e do sucesso a qualquer custo – está contida nestas três personagens, no corpo e voz de um único ator, que pelo sucesso da crítica e público no Rio de Janeiro, dão conta em desenhar na cena o isolamento e a alienação da vida urbana atual.
Serviço
Claustrofobia
Sesc Pinheiros – Auditório. Rua Paes Leme, 195
Quinta a sábado, 20h. Feriados, 18h. R$ 50
Até 12 de julho (estreia em 5 de junho)