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Cia. do Polvo aposta no teatro para todas as idades

Sinopse

“Dual”, espetáculo apoiado em fisicalidade circense e dança contemporânea, fala com as crianças e seus pais sobre amizade, ansiedade e competitividade – sem uso de palavras

Por Dib Carneiro Neto

Sem texto nenhum, mas com muita dança, teatro e circo, tudo junto e misturado, para a família inteira curtir. Assim é Dual, espetáculo vespertino grátis, da Cia do Polvo, que passa no Teatro Cacilda Becker (dias 11 e 12) e, em seguida, cumpre temporada no Teatro Alfredo Mesquita, de 25 de maio a 16 de junho. A estreia aconteceu na semana passada no Teatro Artur Azevedo.

A montagem foi criada e concebida pelas artistas Cintya Rodrigues, Natalia Presser e dirigida por Juliana Neves, com dramaturgia de Mark Bromilow. Essa trupe de ex-ginastas passeia por técnicas circenses que são a força motora dessa criação, como equilíbrio e parada de mãos em cadeiras e a chamada Roda Cyr (círculo gigante, que lembra um bambolê).

Cena do espetáculo infantil Dual, da Cia do Polvo. Foto Paulo Barbuto

Cia do Polvo foi criada pela atriz e circense Natalia Presser e o diretor e dramaturgo australiano Mark Bromilow, que se conheceram em 2009 quando trabalhavam no espetáculo Varekai, do Cirque du Soleil

Bromilow explica por que escolheram a palavra Dual como título do atual espetáculo da companhia: “Dual foi inspirado no conceito filosófico do yin & yang, como representação do positivo e do negativo. Pelo princípio da dualidade, o positivo não vive sem o negativo e vice-versa”.  A partir desse conceito, temas surgem durante o espetáculo, como amizade, competição, ansiedade, ancestralidade e modernidade.

Mas sem texto. “Acreditamos que a linguagem do circo, da dança e do teatro físico trazem elementos suficientes para, de forma lúdica, passar as sensações que esse trabalho deseja”, explica o dramaturgo. E prossegue:  “Desde o início do projeto, Dual seria uma produção não verbal, destacando a dança, os movimentos e habilidades circenses das duas artistas em cena, focando na fisicalidade, em vez de uma narrativa logicamente definida. O objetivo é gerar uma resposta mais visceral e visual do que intelectual.”

Pandemia, máscaras e editais

Mark Bromilow faz questão de relatar a trajetória de Dual até aqui, como forma de nos situar sobre a importância dessa empreitada resiliente da Cia do Polvo. Ele diz: “Dual nasceu em 2021, por meio do incentivo do edital Proac Expresso Lab. Partes da criação e da direção foram feitas de forma virtual, durante a pandemia“.

Cena do espetáculo infantil Dual, da Cia do Polvo. Foto Paulo Barbuto

“Na etapa final foi que as áreas se juntaram e o espetáculo se consolidou. Ele já circulou por cidades do interior paulista, com as apresentações realizadas em quadras esportivas de escolas, com público limitado e com a plateia usando máscaras. Essa é a nossa estreia oficial na cidade de São Paulo em teatro,  por meio de outro edital, o Fomento ao Circo”, continua Bromilow.

O artista conta também um  pouco sobre como foi a reação do público no primeiro fim de semana em São Paulo. “O público reagiu muito positivamente”, relata. “Crianças e adultos observavam atentamente do início ao fim do espetáculo. Por não haver diálogos, pudemos ouvir alguns comentários das crianças do tipo ‘o que está acontecendo?’ ou mesmo querendo narrar com palavras o que as artistas encenam de forma não verbal. Pareceram encantadas com a plasticidade das cores e dos movimentos ou quando entendiam a dinâmica do jogo proposto pela cena. Ficavam muito atentas durante as acrobacias circenses, por exemplo”.

O cronômetro e os ossos

Não que isso chegue de forma direta para as crianças, mas Dual foi pensado e criado tendo duas obras de fôlego como ponto de partida para ideias e exploração física das cenas: Modernidade Líquida, de Zygmunt Bauman, e Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés.

Outra cena do espetáculo infantil Dual, da Cia do Polvo. Foto Paulo Barbuto

“O conceito de modernidade líquida  alimentou a criação e trouxe para a cena questões relacionadas à velocidade acelerada em que as coisas acontecem e o processo de individualização do ser humano”, explica Bromilow. 

E dá exemplos disso em cena: “As intérpretes acionam repetidas vezes um cronômetro durante a peça,  provocando uma correria desenfreada para a reorganização do espaço dentro desse limite de tempo. Na cena denominada por nós de “apartamentos”, cada artista está sozinha em sua casa, realizando individualmente seus afazeres, tais como: limpar a casa, comer, brincar de videogame, trabalhar, fazer exercício, tirar self, tomar banho e imitar coreografias do Tik Tok, entre outras coisas”.

Sobre Mulheres que Correm com os Lobos, Bromilow esclarece a relação do livro com o espetáculo: “Esse projeto tinha a proposta de ter um núcleo de criação majoritariamente feminino – e assim se deu. Podemos dizer que foi uma tentativa de resgatar um laço que conecta as duas mulheres à sua essência feminina e ancestral. Nenhum dos contos do livro está representado diretamente no espetáculo, porém suas imagens muito fortes nos instigaram. A conexão entre as personagens, por exemplo, acontece pela via fraterna entre disputa e amizade. Ossos vão sendo encontrados e quem tem o osso está no comando da situação.”

Dual, como se conclui, mais do que entretenimento, é inteligência cênica para todas as idades. Que tenha vida longa. 

Serviço

Dual.

Teatro Cacilda Becker. Rua Tito, 295. Dias 11 e 12 de maio, sábado e domingo, 16h. Grátis

Teatro Alfredo Mesquita. Av. Santos Dumont, 1770. De 25 de maio até 16 de junho, sábados e domingos, 16h. Grátis

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Ficha Técnica

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Serviço

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