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“Chechênia: um estudo de caso” volta em cartaz mesclando fatos e ficção

Peça palestra de Ronaldo Serruya discute a homofobia a partir das vivências do artista e do fato de existirem prisões exclusivas para homossexuais na República da Chechênia em pleno século 21

Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 3 de dezembro de 2025)

No ano de 2017, o ator e dramaturgo Ronaldo Serruya acompanhou as informações que a imprensa e as redes sociais divulgaram sobre a existência de prisões exclusivas para homossexuais na República da Chechênia, na Europa Oriental. Partindo da pergunta “Quantas Chechênias existem no Brasil?” e rememorando fatos da sua infância queer em uma família tradicional judia, Serruya escreveu uma história ficcional imaginando, em detalhes, o cotidiano de um confinamento dessa natureza. A peça palestra, como ele autodefine, Chechênia: um estudo de caso, cumpre sua segunda temporada em São Paulo, agora no Teatro Manás Laboratório

Durante a encenação, personagem e ator-palestrante se confundem, em um jogo que brinca o tempo todo com a metalinguagem.  “Desde A doença do outro, indicado ao Prêmio Shell de melhor texto em 2023, tenho pesquisado o conceito de peça-palestra. Para mim, isso significa convidar o público para uma conversa. Nesse sentido, a dramaturgia se estabelece como o ponto de partida para discutir um determinado tema. Na prática, tudo parece improviso, mas não é. Na verdade, cada detalhe foi cuidadosamente pensado”, explica o artista.  

A peça faz um paralelo entre o contexto da Chechênia e a realidade no Brasil permeada por histórias de sua infância, revelando os meandros violentos por onde essa homofobia institucional se insinua na vida de pessoas dissidentes de gênero. Para isso, a dramaturgia constrói uma espécie de clínica de reabilitação dedicada à cura gay, imaginando como seria o cotidiano de um checheno homossexual, vivendo em um campo de concentração após ser perseguido por ser quem é.

Ronaldo Serruya em Chechênia: Um Estudo de Caso. Foto Camila Picolo

“Em um primeiro momento, pode parecer estranho comparar Brasil e Chechênia, já que lá, o próprio governo legitima e estimula a violência contra a população LGBTQIAPN+, algo que não acontece aqui. No entanto, o Brasil é um dos países que mais mata LGBTS no mundo e temos que falar sobre isso”, comenta Serruya.   

O jogo entre realidade e ficção é reforçado com elementos audiovisuais. Sol Faganello, que faz a direção das imagens e codirige junto com Serruya, está sempre em cena, com uma câmera na mão, construindo, ao vivo, imagens que friccionam esses dois mundos. 

Serviço

Chechênia: um estudo de caso

Teatro Manás Laboratório. R. Treze de Maio, 222

Sextas e sábados, 21h. Domingos, 19h. R$ 60

Até 21 de dezembro (reestreia 5 de dezembro)

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