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“Uma Peça de Comédia” discute os delicados limites do humor

Espetáculo dirigido por Dan Rossetto busca o riso, mas sem ofender

Por Bruno Cavalcanti

Nos bastidores dos ensaios de uma peça prestes a ensaiar, nada está pronto. O cenário, os figurinos, o desenho de luz, a trilha, tudo segue pela metade, assim como a direção de Máximo Diógenes, que, numa crise criativa, não passa a segurança que precisa a seu elenco, insatisfeito com os rumos que a comédia The Fertilization está tomando.

Essa é a premissa de Uma Peça de Comédia, espetáculo de Dan Rosseto em cartaz no Teatro Itália Bandeirantes até 14 de setembro. Como o nome faz supor, a montagem é uma comédia em que Rosseto busca dar seguimento às pesquisas iniciadas com a estreia de Feliz Dia das Mães, no ano passado.

“A ideia de fazer uma comédia vem também com o ideal de fazer um produto que tenha longa durabilidade”, explica o diretor, que, na obra, busca discutir até onde os limites do humor podem ser discutidos e o quanto esta corda pode ser esticada em prol de uma discussão mais profunda sobre o processo de evolução da sociedade.

“Eu gosto de provocar discussões porque a arte além de entreter precisa promover o pensamento. Engana-se quem pensa que o riso se encerra nele mesmo. O meu interesse é sempre o ser humano, suas dores e abismos”, conta. “Aqui, há espaço para falarmos sobre etarismo, machismo, crueldade, arte, solidão, vaidade, ego, entre outros temas.”

Cena de Uma Peça de Comédia, com Dan Rosseto. Foto Erik Almeida

O espetáculo toma como foco o descontentamento do elenco com o texto e o tom caricato e ultrapassado que a montagem adota, com medo de que o público receba mal a obra e enterre suas carreiras.

Inspirado em comédias do norte americano Woody Allen, Uma Peça de Comédia se alicerça no desejo de Rosseto de produzir “uma comédia que não ofenda.” A preocupação, garante, fez parte de toda a concepção da produção, que tem no elenco nomes tarimbados da comédia, como Miriam Palma, André Grecco, Adriano Paixão, Lia Antunes, Juan Albertini e Viviane de Oliveira.

O espetáculo pretendia contar ainda com a presença de Márcia Manfredini, falecida em dezembro, vítima de um ataque cardíaco. A artista é uma das homenageadas na montagem, que traz algo inédito. Pela primeira vez, Rosseto estreia um espetáculo seu como autor, diretor e ator.

Texto autoral

“É um fato inédito, eu precisava romper esse receio e “estrear” numa peça de minha autoria e direção”, diz o artista que, desde que estreou como dramaturgo em 2014, se tornou figura bissexta nos palcos, estrelando apenas produções de terceiros, como Roleta Russa e, mais recentemente, a adaptação de Sabrina Rodriguez para o clássico Yerma, de Federico García Lorca.

Descontada uma rápida participação em Nunca Fomos tão Felizes, Rosseto entra em cena pela primeira vez dando voz a um texto autoral. Esse é um dos movimentos que, acredita, cacifam Uma Peça de Comédia como uma produção duradoura.

“A escolha da ‘turma’ foi fundamental para que a empresa funcionasse. Hoje, boa parte dos espetáculos estreia, faz curta temporada e acaba. Essa peça foi concebida para durar, por isso começamos a trabalhar há meses, incluindo os ensaios que começaram em fevereiro deste ano”, diz ele. 

Outro ponto importante é o processo de incitação do público. “Em uma peça de comédia, o riso como catarse encurta a distância entre palco e plateia; mas também é uma forma poderosa de desconforto. Precisamos entender quais recursos dramatúrgicos devemos utilizar para provocar o público sem constrangê-lo. Não se deve ir às últimas consequências na comédia”, finaliza.

Serviço

Uma Peça de Comédia

Teatro Itália Bandeirantes.  Av. Ipiranga 344

Quintas-feiras, 20h. R$ 60

Até 14 de setembro

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Bruno Cavalcanti

Jornalista, dramaturgo e produtor. Trabalhou como repórter em publicações como o Jornal do Brasil, Portal Anna Ramalho, UOL, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Foi crítico e editor do Observatório do Teatro por três anos e é autor de 10 peças de teatro, entre elas a biografia cênica do apresentador Clodovil Hernandes.

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