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“O Admirável Sertão de Zé Ramalho” espelha a determinação do brasileiro

Sinopse

No musical, o artista é representado por uma atriz e quatro atores em diferentes fases da vida para ressaltar a pluralidade das canções

Por Dirceu Alves Jr.

O produtor carioca Eduardo Barata admira Zé Ramalho desde as primeiras vezes em que ouviu no rádio futuros clássicos como Avôhai e Admirável Gado Novo. Mas foi na turnê do espetáculo Jim, protagonizado pelo ator Eriberto Leão em torno do roqueiro Jim Morrison, entre 2015 e 2017, que ele se tornou íntimo da obra do cantor e compositor paraibano.

“O Eriberto é louco por Raul Seixas e Zé Ramalho e tocava no violão várias músicas deles todas as noites”, lembra. “Descobri coisas que iam além dos sucessos radiofônicos, fui pegando intimidade com os seus lados B e enxerguei nesse universo um possível musical.”

Cena do musical O Admirável Sertão de Zé Ramalho. Foto Priscila Prade

Como todo projeto teatral, entre o desabrochar criativo e a concretização no palco, O Admirável Sertão de Zé Ramalho, que chega nesta quinta, 7, ao Sesc 24 de Maio, levou um bom tempo até ganhar forma – e Barata ainda enfrentou a pandemia que adiou em dois anos, pelo menos, a sua realização.

Com dramaturgia de Pedro Kosovski e direção de Marco André Nunes, a dupla responsável pela cultuada peça Caranguejo Overdrive, o espetáculo estreou em setembro do ano passado em Niterói, cumpriu temporada no Rio de Janeiro e correu o Norte e o Nordeste com um diferencial: não se trata de uma biografia convencional do sujeito que superou adversidades até conhecer o sucesso no fim da década de 1970. “O público entende a vida do artista através da obra mesmo que não haja linearidade nas datas”, explica Barata. “A biografia serve apenas de inspiração.” 

Outra cena do musical O Admirável Sertão de Zé Ramalho. Foto Priscila Prade

Sendo assim, não existe um único intérprete para o personagem Zé Ramalho neste admirável sertão. O próprio título oferece outras leituras quando ao seu significado, como a das dificuldades vividas pelo povo e a fé necessária para a superação dos obstáculos em nome de um objetivo.

O elenco conta com os atores e cantores Adriana Lessa, Ceiça Moreno, Cesar Werneck, Diego Zangado, Duda Barata, Marcello Melo, Muato, Nizaj e Ricca Barros, os cinco últimos representando Zé em cena. “São vários Zés, dos mais diferentes tipos, perfis e gêneros, para que o Zé que está no palco espelhe todos os brasileiros que correm atrás dos seus sonhos”, justifica o produtor. 

Barata sublinha que essa capacidade de superação aparece simbolizada na trajetória de Ramalho. “Imagina, aquele cara que saiu do sertão da Paraíba, onde nem luz elétrica tinha, e se transforma em astro nacional em um tempo em que os artistas não contavam com a internet para divulgar os seus trabalhos”, ressalta. ‘É um cantor e compositor que conquistou o seu lugar pela determinação e qualidade da sua música.” 

Adriana Lessa e Ceiça Moreno no musical O Admirável Sertão de Zé Ramalho. Foto Priscila Prade

O Admirável Sertão de Zé Ramalho é dividido em cinco módulos narrativos. Na primeira parte, ambientada na sertaneja Brejo da Cruz, a infância do futuro artista é mostrada pela atriz Duda Barata. As relações familiares são destacadas através de personagens interpretadas, entre outras, por Adriana Lessa e Ceiça Moreno. “Eu descobri a Ceiça no The Voice Brasil, fiquei encantado e me orgulho muito de tê-la lançado no teatro aos 76 anos”, afirma Barata.  

Na sequência, Muato representa Zé na cidade de Campina Grande, onde surge o seu interesse pela música e o fascínio pelo rock e pela Jovem Guarda. O ator Ricca Barros é o protagonista da terceira fase, quando Zé, morando em João Pessoa, conhece Giza (novamente Adriana Lessa), um de seus amores e musa da canção Chão de Giz, e é obrigado a sair fugido para o Rio de Janeiro. É na capital fluminense que, interpretado pelo ator Nizaj, o personagem passa fome, mora na rua e faz michê para sobreviver. 

Por fim, Marcello Melo assume o papel do Zé pop star, reconhecido e desfrutando da popularidade. “É um elenco definido pela diversidade, o Zé menino é feito por uma jovem atriz, depois pode ser um artista preto, um ator angolano que canta rap e até por nomes mais conhecidos, como o Ricca e o Marcello”, diz Barata. “Minha preocupação era com a pluralidade, a humanização e não em reunir cantores de técnica perfeita e especialistas em musicais.” 

Cena do musical O Admirável Sertão de Zé Ramalho. Foto Priscila Prade

Sob a direção musical de Plínio Profeta e Muato, O Admirável Sertão de Zé Ramalho enfileira temas bastante conhecidos do público – o que potencializa o envolvimento da plateia, que cantarola junto o tempo inteiro. Além de Avôhai, Chão de Giz e Admirável Gado Novo, A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, Vila do Sossego, Mistérios da Meia-Noite e Frevo Mulher, entre outras, são defendidas pelo elenco.

“Eu sou um produtor que desenvolve um conceito e levanto uma obra artística com potencial de comunicação e mercantilização”, declara Barata, que trabalha na área há 38 anos. “Não sou um técnico ou cara apenas encarregado de levantar o dinheiro do patrocínio, por isso o que me estimula é ver a interação do público com a intensidade artística e política do Zé retratada no palco.”

Serviço

O Admirável Sertão de Zé Ramalho.

Teatro do Sesc 24 de Maio. Rua 24 de Maio, 109

Quinta a sábado, 20h; domingo e feriado, 18h. R$ 70,00.

Até 8 de dezembro (estreia em 7 de novembro).

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Ficha Técnica

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Serviço

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