O melhor do teatro está aqui

Comédia “Sylvia” explora a delicadeza na relação entre humanos e cachorros

Sinopse

Peça do americano A. R. Gurney, em cartaz no Teatro Porto, tem a atriz Simone Zucato no papel de uma pet que encanta um homem interpretado por Cassio Scapin

Por Dirceu Alves Jr.

A atriz e produtora Simone Zucato tinha seis cachorros em casa quando leu e comprou os direitos da peça Sylvia, que, em 2015, estava prestes a estrear uma nova montagem no Off-Broadway de Nova York. Além desta meia dúzia, cuidava de outros oito, encontrados na rua, que, logo depois de tratados, Simone encaminhou para a adoção.

“Sou cachorreira desde criança, daquelas que carregava os cãezinhos para casa”, lembra ela, que, hoje, tem apenas duas fêmeas, uma vira-lata e uma shih-tzu. “Eu sempre dei amor aos meus pets, deixava de viajar porque eles sentem medo da chuva ou dos fogos de artifícios no fim de ano, mas, por causa da minha dinâmica de vida, agora fiquei só com esses dois.”

Diante desse perfil tão apaixonado foi imediato o deslumbramento de Simone pela comédia escrita em 1995 pelo americano A. R. Gurney (1930-2017). Lançada em 2019, a montagem dirigida por Gustavo Wabner cumpriu temporadas no Teatro das Artes e no Teatro Faap, chegou ao Rio de Janeiro e, paralisada pela pandemia, somente voltou à cena no dia 20, no Teatro Porto, em São Paulo.

Casamento em fase difícil

A história gira em torno de Greg (interpretado por Cassio Scapin), um homem maduro que, durante um passeio pelo parque, se encanta com a cadelinha Sylvia (representada por Simone) e decide levá-la para o apartamento em que vive com sua mulher, Kate (papel de Vera Zimmermann). O casamento atravessa uma fase difícil, e a convivência com a cachorrinha desperta diferentes sentimentos nos personagens, desde os mais afetivos até outros bastante cômicos. Além do trio protagonista, circulam ainda pela ação os personagens Tom, um amigo de Greg, a terapeuta de casais Nadir e a grã-fina Sônia, amiga de Kate, todos interpretados pelo ator Thiago Adorno.       

Gustavo Wabner define a comédia como a história de um triângulo amoroso que revela o lado humano dos cachorros e o perfil animal dos seres de carne e o osso. “A premissa pode parecer absurda, nonsense, mas salientamos o vínculo emocional estabelecido entre os três personagens principais”, diz o diretor.

Para alcançar tal objetivo, segundo ele, o mais importante foi não infantilizar ou fragilizar a trama. “Em nenhum momento, a Simone como Sylvia faz ‘au-au’ porque se todo o público a enxerga no palco como uma mulher não podemos explorar a caricatura de uma cachorra”, justifica.

Thiago Adorno (E), Cassio Scapin, Simone Zucato e Vera Zimmermann. Foto Victor Hugo Cecatto

A intimidade da atriz com os pets foi fundamental para a composição da inusitada personagem. Para Simone, é preciso fazer um exercício para imaginar como o cachorro pensaria e agiria em determinadas situações descritas no texto.

“Eu sempre os observei e passei a prestar uma atenção redobrada depois que descobri Sylvia porque não poderia em momento algum parecer ridícula”, conta. “Eu imagino o que eles sentem quando alguém faz cócegas em suas barriguinhas ou mesmo ao se verem diante da reação de uma pessoa que pode parecer agressiva.”

Insinuações sexuais

Em 2002, Sylvia foi levada pela primeira vez aos palcos brasileiros. A montagem, dirigida por Aderbal Freire-Filho (1941-2023) e protagonizada por Louise Cardoso, no entanto, se apoiava em um tom diferente da atual. Tudo era muito mais absurdo, e a paixão de Greg pela cachorrinha chegava a ser apresentada com insinuações sexuais.

Não foi só o avanço do politicamente correto que tornaria inadequada uma leitura desse tipo nos dias de hoje. A presença dos animais de estimação dentro da rotina das famílias também deu um salto considerável nas últimas duas décadas.

O espetáculo, sabiamente, busca a delicadeza para tratar da relação dos pets e de seus donos e não faz distinção entre o carinho de humanos e bichos. “É uma peça que fala sobre relações e de momentos da vida em que as pessoas são obrigadas a lidarem com as mudanças”, observa Wabner. “Por isso, considero um texto de vanguarda, porque, em 1995, Gurney trouxe discussões sobre sexismo. machismo e, principalmente, da relação do homem com o seu pet, que, até bem pouco tempo, não era visto como integrante da família.”

Serviço

Sylvia

Teatro Porto. Alameda Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos.

Sexta e sábado, 20h; domingo, 17h. R$ 50 / R$ 80

Até 10 de dezembro.      

[acf_release]
[acf_link_para_comprar]

Ficha Técnica

[acf_ficha_tecnica]

Serviço

[acf_servico]