Musical que ganha sua terceira versão, agora no Teatro Renault, parte da rivalidade entre as bruxas para falar da necessidade de sempre existir pelo menos dois pontos de vista para uma mesma história
Por Ubiratan Brasil
Os números comprovam o sucesso: o musical Wicked estreou no Teatro Renault no dia 20 de março com cerca de 80 mil ingressos vendidos antecipadamente. “Até junho, tem bilhete já comprado, o que vai ajudar na manutenção do espetáculo cuja produção está avaliada em R$ 19 milhões“, afirma Carlos Cavalcanti, presidente do Instituto Artium, que viabilizou a produção ao lado do Atelier de Cultura.
Vários fatores ajudam a explicar o êxito. Primeiro, a manutenção de Myra Ruiz e Fabi Bang como protagonistas, algo que já aconteceu nas montagens de 2016 e 2023. Segundo, a versão cinematográfica dirigida por Jon M. Chu e com Ariana Grande e Cynthia Erivo no elenco e cuja primeira parte faturou dois prêmios Oscar. “O mundo precisa de Wicked porque retrata um cenário político relevante”, acredita Ronny Dutra, que assina a direção cênica. “A realidade social, que estava distante da trama do musical em 20216, agora está colada. Por isso que os jovens sentem uma atração passional pelo espetáculo, por seus aspectos próximos da realidade como o racismo, fake news, etarismo”, completa Cavalcanti.

Wicked é o prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Na trama, Elphaba (Myra Ruiz) é uma jovem do Reino de Oz incompreendida por causa de sua pele verde incomum e por ainda não ter descoberto seu verdadeiro poder.
Sua rotina é tranquila e pouco interessante, mas, ao iniciar os estudos na Universidade, conhece Glinda (Fabi Bang), jovem popular e ambiciosa, nascida em berço de ouro, que só quer garantir seus privilégios e ainda não conhece sua verdadeira alma.
As duas iniciam uma inesperada amizade. As diferenças, porém, como o desejo de Glinda pela popularidade e poder e a determinação de Elphaba em permanecer fiel a si mesma, entram no caminho, o que modificam o destino de cada uma, com Glinda se transformando como a Bruxa Boa e Elphaba, na Bruxa Má.

“Glinda vive em uma bolha social onde é extremamente mimada. E toda criança tem uma faceta mimada. Tenho uma filha pequena e percebo isso. Sou culpada também, não me isento”, comenta Fabi. “Em 2016, quando vivi essa história pela primeira vez, eu estava mais próxima da minha juventude do que da minha versão mais adulta, mais mulher, mais madura. Apesar de já não ser uma menininha – estava com 30 anos na época -, eu ainda não tinha passado pela maternidade, por uma pandemia, não tinha enfrentado inúmeros desafios. Por isso que o primeiro ato do espetáculo estava, em 2016, mais próximo da minha verdade, da minha realidade. Nessa nova versão, eu me identifico mais com Glinda do segundo ato, pois estou mais madura.”
Já Myra se sente agora mais confortável no controle da própria atuação. “Estou com a mente mais tranquila dessa vez. Mais madura que nunca, tenho mais controle da minha técnica“, disse. A dificuldade passou a ser seu novo desafio, justamente o que mais fascina o público: o primeiro voo de Elphaba, que acontece em quase toda a extensão do teatro Renault.

“É uma experiência visceral ver uma atriz voando no teatro, algo mais sensacional que no cinema, que conta com muito mais recursos tecnológicos”, comenta Dutra, lembrando que, para isso acontecer, é preciso um grande maquinário. De fato, são sete pessoas em São Paulo e duas em Las Vegas que controlam a cena, garantindo a segurança da atriz. “Ao parecer um voo real e não apenas alguém sendo puxado por uma corda é sensacional”, diz o americano Stephen Schwartz, autor da letra e da música do espetáculo e que esteve São Paulo acompanhando os preparativos finais.
Em 2016, no mesmo Renault, o musical foi assistido por mais de 340 mil pessoas. Em 2023, em cartaz no Teatro Santander, foi a maior bilheteria na história do teatro com um público de mais de 156 mil pessoas e 5 meses de sessões esgotadas. Agora, conta com 36 atores, dezessete músicos e 296 profissionais nos bastidores. “Wicked é um musical que saiu do teatro, passou pelo cinema e se tornou fenômeno mundial”, afirma Cavalcanti.
O espetáculo é apresentado pelo Ministério da Cultura e Comgás, com patrocínio da Alelo, Farmacêutica EMS e Mobilize, apoio da Shell e Automob. A hotelaria oficial é o Radisson Blu São Paulo e o catering oficial é da Dona Deôla.
Serviço
Wicked
Teatro Renault. Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 411
Quarta à sexta-feira, 20h. Sábado e domingo, 15h e 19h30. De R$ 42,36 a R$ 400
Até 8 de junho (estreia 20 de março)