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A Visita da Velha Senhora por Kyra Piscitelli

CRÍTICA: A VISITA DA VELHA SENHORA TE PERGUNTA COM HUMOR: “QUAL O SEU PREÇO?”

SÃO PAULO – Querendo roubar a paz de um inimigo já na sepulturaEscreva em sua laje: Aqui Jaz Dinheiro”. O trecho final do poema “O Dinheiro” de Bertolt Brecht traduz o espírito da peça A Visita da Velha Senhora, que estreia a partir de sexta, 18, no Teatro do Sesi-SP, de graça. Não, o texto não é de Brecht, mas conversa muito com as duas últimas obras que Denise Fraga trouxe ao palco e eram do Alemão: Alma Boa de Setsuan e Galileu Galilei. A terceira peça protagonizada pela atriz é do suíço Friedrich Dürrenmatt e poderia sim formar uma trilogia com as outras anteriores, tanto pela estética quanto pela temática.

Música, cenário simples e funcional, uso da plateia e diálogo direto com o público. É Denise fazendo o que gosta com o palco, ao mostrar o pior da tragédia humana pelo humor. Sob a direção Luiz Villaça, o texto escrito em 1956, narra os cidadãos da cidade de Güllen esperam ansiosos pela chegada da milionária Claire Zachanassian (vivida por Denise Fraga) – que promete salvá-los da falência. No jantar de boas-vindas, Claire impõe uma condição: doa um bilhão à cidade se alguém matar Alfred Krank, o homem por quem foi apaixonada na juventude e que a abandonou grávida por um casamento de interesse. Não satisfeita com o não que recebe, ela fica na cidade à espera da sua vingança ou justiça.

O nome que se dá aos desejos de Claire depende do seu objetivo. A palavra “consciência” é usada várias vezes na peça. Mas, a consciência serve a quem? A qual das nossas almas? A tida como divina imaculada ou a terrena cheia de necessidades?

Um texto denso com um elenco respeitoso e bom. Além de Denise, Tuca Andrada, Ary França, Fábio Herford, Daniel Warren, Maristela Chelala, Romis Ferreira, Renato Caldas, Eduardo Estrela, Beto Matos, Luiz Ramalho e Rafael Faustino completam a encenação dos habitantes da bucólica cidade.

Sem pressa, o espetáculo nos coloca para pensar nos nossos valores. Em um figurino de roupas antigas, com um texto que – infelizmente – é atual e atemporal, ao se tratar da (in)moralidade humana.

Há quem diga que a moral é aquilo que podemos mudar. Quando se fala em mudar, geralmente, pensa-se no melhor mas, as roupas não tão modernas, com um texto tão atual subvertem essa ideia.

Em cenas demoradas de diálogos, intercaladas com músicas para a nossa consciência, a montagem de A Visita da Velha Senhora expõe várias facetas da sociedade: a democracia e como ela usada; ou então, as palavras quando bem servida a certos interesses, ou ainda, o dinheiro e suas possibilidades de progresso ou falência (quando ele está em falta. A amizade, a traição, o poder de uma mulher ferida pela força de Afrodite. Os absurdos tão reais fazem a plateia rir. Ri de si e refletir. Um teatro desses de sensações múltiplas para públicos múltiplos que está ali: de graça.

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