A partir de crítica feita a uma peça de um coletivo de artistas negros em 1926 no Rio de Janeiro, Mauricio Lima e Tainah Longras constroem encenação que reivindica ficcionalmente a memória dos movimentos negros do período
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 18 de novembro de 2025)
A Companhia Negra de Revistas foi efêmera na década de 1920, mas deixou marcas. Reuniu integrantes como Pixinguinha, Grande Otelo e o seu fundador De Chocolat. Em seus dezesseis meses de existência, produziu seis espetáculos, um deles com o título Tudo Preto. É a partir de uma crítica feita a essa montagem no ano de 1926 que o diretor Mauricio Lima e a dramaturga Tainah Longras criaram o espetáculo Vinte!, indicado ao Prêmio Shell de Teatro no Rio de Janeiro na categoria Melhor Dramaturgia, e que chega a São Paulo no teatro do Sesc Santana.
Desde 2018, tanto o diretor Mauricio Lima como a dramaturga Tainah Longras desenvolvem uma pesquisa conjunta sobre arquivos negros e suas ativações performáticas, explorando palavra, corpo e som em práticas artísticas de perspectiva contra-hegemônica. “Vinte! é um registro histórico. E, como somos artistas e não historiadores, estamos criando um documento com os nossos corpos. Quer dizer, é uma outra maneira de deixar nossa marca para posteridade”, defende Tainah.
O espetáculo faz uma reivindicação ficcional da memória dos movimentos artísticos negros dos anos 1920 no Brasil, a partir da crítica feita à peça Tudo Preto e constrói uma relação poética com a cidade do Rio, com as artes e com o tempo, por meio de uma perspectiva negra e contemporânea.

“Esse grupo que está na nossa pesquisa foi o primeiro que se tem registro no Brasil formado apenas por artistas negros, abrindo o caminho para várias iniciativas”, diz Mauricio com relação à Companhia Negra de Revistas que, dada a sua importância, conecta a cena carioca a outros movimentos internacionais, como o Harlem Renaissance, que floresceu em Nova York na mesma época e contribuiu para a difusão e a valorização dos códigos artísticos, literários, musicais e estéticos da comunidade negra.
A encenação propõe uma abordagem afroindígena não linear do tempo e da história, evocando memórias e invenções. Nesse contexto, a dança, a música e as experiências sonoras têm tanta importância quanto o texto para o trabalho. “Queremos provocar o público sensorialmente. A mistura de linguagens e a maneira como pensamos a ocupação do espaço contribuem para isso”, afirma Mauricio Lima.
Uma fisicalidade intensa, bem como esquetes, cenas poéticas e manifestos se alternam ao longo do trabalho. AfroFlor, Felipe Oládélè, Muato e Tainah Longras ocupam o palco com direção de movimento assinada por Rômulo Galvão.
Serviço
Vinte!
Sesc Santana. Av. Luiz Dumont Villares, 579
Sextas e sábados, 20h. Domingos, 18h. Sessões extras na quinta (20 de novembro), 18h; e duas sextas (28 de novembro e 12 de dezembro), 15h. R$ 60
Até 14 de dezembro (estreou 14 de novembro)
