Com elenco basicamente formado por atores do Norte e Nordeste, espetáculo tem direção artística de Jarbas Homem de Mello e Túlio Rivadávia
Por Ubiratan Brasil
Acostumado a também dirigir musicais, o ator Jarbas Homem de Mello deparou-se com um grande desafio ao ser convidado para comandar um musical inédito, Um Grande Encontro. “Estou acostumado ao estilo Broadway, mas aqui é uma história brasileira, com canções brasileiras do Nordeste”, conta ele que, depois de um estremecimento inicial, aceitou enfrentar o desafio. O resultado estreia no dia 21 de junho, no Marte Hall, em São Paulo.
Trata-se de um projeto de três produtores que sonham alto, em busca da melhor qualidade: Rose Dalney, Marcio Sam e Túlio Rivadávia, que também assina o texto e divide a direção com Jarbas. “A proposta foi lançada pelo Marcio e logo decidimos que não seria algo biográfico, mesmo que a história vagamente conte fatos vividos por Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Elba Ramalho e Zé Ramalho. São as canções deles que inspiram uma grande história de amor”, conta Túlio. “É como se um grande bloco nordestino de carnaval narrasse a trama.”
Assim, ao estilo de um folhetim, ou seja, uma narrativa em que as tensões são acaloradas, com um certo suspense e bom humor, o musical acompanha a trajetória de Tom Silva (Victor Medeiros), jovem sonhador que decide deixar Pernambuco para tentar a sorte em um programa de calouros transmitido por uma emissora de rádio do Rio de Janeiro – é importante lembrar que a história se passa no início dos anos 1970. Antes da viagem, porém, ele se descobre apaixonado por Diana (Marina Braga), jovem que conheceu na praia de Boa Viagem.
Como um bom folhetim, a paixão dos dois desperta a ira de Tião Cavalcanti (Osmar Silveira), filho de políticos influentes, que acredita mandar nas areias de Boa Viagem e é obcecado por Diana. Incontrolável, ele segue atrás de Tom no Rio de Janeiro, onde uma tragédia acontece. “Ele é o próprio exemplo do macho tóxico, que não respeita ninguém e só pensa nos próprios desejos”, conta Jarbas, que decidiu escalar um elenco formado principalmente por atores nordestinos.
“Como na equipe técnica não tem ninguém nascido no Nordeste, percebemos que a colaboração deles seria essencial. Assim, Um Grande Encontro é essencialmente fruto de um trabalho realmente coletivo, pois eles nos ajudaram nas expressões, na escolha das danças, enfim, em diversos detalhes.” Assim, foram selecionados talentos de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Maranhão e Amazonas.
Inspirado nos ritmos e tradições carnavalescas, o musical adota uma abordagem de ensemble, no qual todos os membros do elenco de 17 atores e três músicos têm participação ativa, evocando os coros do teatro grego. Os narradores, representados por três fofoqueiros, acrescentam profundidade à trama, conectando-a ao folclore do Nordeste. “Ao mergulhar na jornada do herói em busca de seus sonhos após uma decepção amorosa, o musical oferece uma narrativa familiar, porém revitalizada por uma nova estética e abordagem”, explica Jarbas, que preferiu ainda atores que soubessem tocar instrumentos diversos.
“É um prazer cantar canções que conheço desde pequeno e, principalmente, usando meu sotaque“, conta o recifense Victor Medeiros. “E, como a ambientação foi feita como no original, muitas vezes me sinto em cena como se estivesse mesmo no Recife”, completa Marina Braga.
Um desafio foi enfrentado por Osmar Silveira, que se consagrou vivendo Cazuza no musical de mesmo nome. Afastado do palco há cinco anos, para tratar de uma contusão no braço, ele retorna em um papel inédito em sua carreira, o de vilão. “Tião é um personagem fascinante e, para criá-lo, busquei o lado sombrio das pessoas (especialmente o meu) e também pesquisei em filmes que se passam no Nordeste como Lisbela e o Prisioneiro e Auto da Compadecida“, conta.
O musical traz 35 canções que auxiliam a contar a história e foram selecionadas de O Grande Encontro, um bem-sucedido projeto colaborativo, cujo primeiro volume foi lançado em 1996, com Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. O repertório trazia, entre outras, Coração Bobo, Sabiá, Talismã e O Ciúme. E a direção musical de Daniel Rocha respeita a sonoridade da época, adicionando nuances contemporâneas para manter o espetáculo vibrante.
Ciente de que o corpo é um instrumento tão poderoso quanto a voz na expressão artística, a coreógrafa Sabrina Mirabelli focou menos na técnica formal e mais na capacidade de comunicar e emocionar, buscando integrar ritmos nordestinos à coreografia, unindo movimentos contemporâneos sem perder a essência e a pulsação característica do estilo.
Já a cenografia de Carmem Guerra reproduziu elementos icônicos do Galo da Madrugada e do carnaval de Olinda, assim como o casario e as ladeiras de Olinda. Para os figurinos, Bruno Oliveira fez diversas pesquisas até chegar em uma paleta de cores e padrões também inspirada nos tons do casario de Olinda.
O elenco se completa com Márcio Sam (Lito), Marica Clara Aquino (Mara), Larissa Carneiro (Dona Anunciação), Gabriel Vicente (Apresentador / Líder da Caravana), Nestor Fonseca (Cicinho), Paulinho Ramos (Nico), Rodrigo Sestrem (Matias), Mikael Marmorato (Valencia), Clayson Charles (Fofoqueiro), Roma Oliveira (Zé Raimundo), Vinícius Loyola (Geraldinho), Júlia Perré (Elma), Walerie Gondim (Fofoqueira) e Sémada Rodrigues (Fofoqueira), que também trouxe preciosos conselhos sobre a cultura nordestina. Andrei Presser e Renan Achar são os músicos regentes e pianistas, e Daniel Alfaro é o percursionista.
Serviço
Um Grande Encontro – O Musical
Marte Hall São Paulo. Rua Domingos de Morais, 348, Vila Mariana
Sexta, 21h. Sábado e Domingo, 15h30 e 19h. R$ 35 / R$ 160
Até 1º de setembro (estreia 21 de junho)
