Espetáculo, em cartaz até 30 de junho, com entrada gratuita, recebe Leandro Karnal para bate-papo após a sessão deste domingo, dia 23
Por Fabiana Seragusa
A atriz Dinah Feldman nunca tinha pensado em idealizar uma obra sobre o Holocausto, mas acabou impactada com uma história tão forte e poética que decidiu transformar o tema em teatro. É dela a concepção de O Vazio na Mala, espetáculo que ganhou texto de Nanna de Castro e direção de Kiko Marques para falar sobre uma família atravessada pelas consequências, diretas ou indiretas, do nazismo. A temporada acontece até 30 de junho no Teatro do Sesi, com entrada gratuita.
“Meu primo, William Jedwab, doou uma mala para o Museu Judaico de São Paulo que ele encontrou com vários documentos e que sempre ficava trancada. A mala era da avó e do pai dele, que eram sobreviventes do Holocausto e que nunca falaram muito sobre o que viveram”, explica Dinah. “Isso é um traço muito característico da maior parte dos sobreviventes, de trauma, de não querer falar ou de esquecer para seguir em frente. Uma possibilidade de sobreviver é um pouco silenciando esse passado.”
Dinah conta que seu primo abriu a mala depois que os dois faleceram, e, a partir daí, começou a ir atrás daqueles documentos e viajou para lugares como Alemanha e China para refazer a história deles. Foi a partir disso que a atriz, que é judia e que sempre esteve ligada às suas tradições, decidiu mergulhar nesse universo a partir desse ponto de vista peculiar.
História da peça
No espetáculo, a atriz sobe ao palco ao lado de Noemi Marinho, Emílio de Mello e Fábio Herford para falar sobre Samuel, um renomado jornalista de guerra que retorna ao Brasil para vender o apartamento dos pais, fechado por 5 anos, após a morte deles. Lá, ele reencontra a avó, Esther, que guarda em uma mala os relatos e documentos de sua fuga da Alemanha nazista – lembranças que revelam conflitos, segredos e o passado violento de seu pai, Frank.
Dinah interpreta Ruth, cuidadora de Esther, a única personagem que não é judia e nem da família. Ela tenta reconectar neto e avó, que estão há 20 anos sem se ver e que agora, enfim, se reencontram. “É muito tempo sem se ver, são muitos silêncios. Tem uma condução para que esse encontro aconteça, e é pelo afeto.”
Dois palcos em cena
O diretor Kiko Marques conta a história, visualmente, por meio de dois palcos, que representam as casas de duas gerações dessa família. De um lado, tem a casa de Esther, onde ela vive com Ruth, a cuidadora. Do outro, há a casa de seu filho, Franz, e do neto, Samuel.
“Duas casas isoladas e espelhadas, e que não se comunicam. O espectador vê as ações concomitantes, a vida que segue, e que, nesse momento em que ele assiste a uma peça, está seguindo, ininterruptamente. Nesse ponto, os dois palcos o conectam com o tempo e com a vida aqui e agora”, explica Kiko.
O diretor destaca o fato de que uma dinâmica se estabelece a partir da existência destes dois palcos, já que o espectador decide o que ver e quais ações observar. “Há um movimento necessário. Por mais que apontemos o que é importante olhar, acompanhar, a esse espectador é dado o direito de escolher o que irá seguir. Assim, penso que lhe é dada a tarefa ou o direito de escolher, o que o torna vivo e participativo.” O artista ressalta, ainda, que o isolamento cada vez mais acentuado desses dois ambientes e o vazio que se instaura entre eles são parte central da experiência da trama e do espetáculo.
Bate-papo com Leandro Karnal
Durante toda a temporada, a equipe preparou quatro encontros para discutir assuntos relacionados à peça. O último bate-papo será realizado neste domingo, dia 23, às 20h30, logo após o término do espetáculo. O convidado da vez será o professor Leandro Karnal, que falará sobre traumas transgeracionais, com mediação realizada pela professora Anelise Fróes. A duração é de cerca de 40 minutos.
Serviço
O Vazio na Mala.
Teatro do Sesi. Avenida Paulista, 1313.
Quinta a sábado, 20h; domingo, 19h. Grátis. Reservas e informações no site centroculturalfiesp.com.br.
Até 30 de junho.