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Três continentes, três lições de diversidade e respeito

Sinopse

Em ‘Contos Peregrinos’, Cia. da Tribo usa a técnica das miniaturas do chamado teatro de brinquedo e reúne narrativas de Japão, Bolívia e Angola que falam para as crianças sobre a importância da solidariedade para enfrentar preconceitos

Por Dib Carneiro Neto (publicada em 4 de setembro de 2025)

Sempre que uma peça nova da paulistana Cia. da Tribo é anunciada, o público já sabe: lá vem Brasil na veia. O grupo, fundado em 1996 pelo casal Milene Perez e Wanderley Pira, dá prioridade total para a cultura popular brasileira, com suas tradições ligadas a mitos, lendas e folguedos das mais variadas localidades nacionais. Pois eis que desta vez eles jogam toda essa bagagem nativa hipercriativa na direção de três contos vindos de fora – e incorporam brasilidades a narrativas vindas do Japão, de Angola e da Bolívia. Contos Peregrinos estreia domingo, dia 7, em duas sessões vespertinas no auditório do Sesc Pinheiros. 

A escolha da Bolívia, do Japão e de Angola está diretamente ligada à proposta do espetáculo de valorizar a diversidade cultural e aproximar o público de diferentes tradições que também fazem parte da realidade brasileira”, explica Milene Perez, que assina a direção da peça, ao lado de Pira. “Optamos por trazer narrativas desses três países, porque cada um deles representa fluxos migratórios importantes no Brasil: os japoneses chegaram em um movimento mais antigo, que se consolidou no início do século 20 e formou uma das maiores comunidades japonesas fora do Japão; já bolivianos e angolanos representam migrações mais recentes e presentes nas grandes cidades, como São Paulo, onde convivemos diariamente com pessoas que vieram desses países em busca de trabalho, estudo ou refúgio.”

Cena do infantil Contos Peregrinos Foto Vitor Campanario

Além de serem três países diferentes, também são de três continentes diversos: Ásia, África e América. Milene prossegue: “Criamos um panorama de culturas de diferentes continentes, ressaltando como os contos populares, apesar de suas especificidades, carregam valores universais que dialogam com qualquer infância. Acreditamos que trazer essas narrativas para a cena é uma forma lúdica, divertida e poética de falar com crianças e jovens, ajudando-os a compreender que a diversidade não é apenas uma característica das grandes cidades, mas também uma riqueza fundamental para a vida em sociedade.”

Contos Peregrinoso novo espetáculo, é composto pela adaptação dos contos Guajojó, o Pássaro, da Bolívia; O Menino e a Baleia, do Japão; e Niamana, uma menina angolana, de Angola. Quais são as temáticas presentes? Milene responde: Além de mostrar para as crianças a diversidade cultural dos povos, o espetáculo traz à cena temáticas como o respeito, a solidariedade e o enfrentamento dos preconceitos, refletindo diretamente as experiências vividas nas grandes cidades, onde a convivência entre diferentes culturas é intensa. Essas escolhas partem da percepção de que ainda são frequentes episódios de discriminação, xenofobia e racismo que atingem tanto adultos quanto crianças e jovens, seja na escola, no trabalho ou nos espaços coletivos”.

E ela continua: “Ao abordar essas questões de forma lúdica e poética, a proposta é criar um espaço de reflexão e acolhimento, despertando nos pequenos espectadores a curiosidade por outras culturas e, ao mesmo tempo, incentivando a construção de relações mais justas e solidárias. Também está presente a temática da migração e do refúgio, vistos não apenas como fenômenos sociais, mas como parte fundamental da história da humanidade e, especialmente, da história do Brasil. Dessa maneira, o espetáculo contribui para que as crianças compreendam que nossas diferenças não são barreiras, mas caminhos para a evolução coletiva, reforçando a ideia de que a infância é um espaço potente de criação, de imaginação e de exercício da cidadania”.

Outra cena do espetáculo infantil Contos Peregrinos Foto Vitor Campanario

Conforme explica Wanderley Pira, desta vez a técnica de manipulação de bonecos utilizada no espetáculo é um verdadeiro diferencial dos trabalhos anteriores do grupo. “Trata-se de um recurso desafiador”, comenta ele, “introduzido pelo artista Sergio Serrano, que desenvolveu a proposta a partir de nossas pesquisas estéticas. Inspirado em referências como o Teatro de Brinquedo – uma forma de teatro em miniatura popularizada no século 19 – e os Bonecos de Santo Aleixo, tradição portuguesa de marionetes de varão manipuladas de cima dentro de um retábulo de madeira, Serrano criou bonecos expressivos que exigem grande precisão e delicadeza na manipulação. O encanto não está apenas em seus movimentos pelo cenário, mas também nas entradas e saídas de cena, que surpreendem o público e reforçam a ilusão necessária para transportar o espectador para dentro das histórias contadas.”

Para compreender melhor como será a estética do espetáculo, pedimos a Wanderley Pira que discorresse sucintamente sobre a cenografia, os figurinos e a trilha. Seguem as pistas que ele nos deu:

CENOGRAFIA. “Também concebida e construída por Sergio Serrano, nasce em total sintonia com a técnica de manipulação de bonecos, potencializando ainda mais sua expressividade. A partir do conceito proposto por Milene Perez e Wanderley Pira, o artista criou três grandes cubos-dioramas que, ao se abrirem, revelam uma moldura tríptica capaz de transportar o público para universos mágicos. Com o olhar refinado de quem também desenha para livros e revistas, Serrano imprime uma identidade visual marcante, recheada de ilustrações ricas e poéticas. Nesses cenários ganham vida o rio Zambeze, em Angola; o mar de Hokkaido, no Japão; e a floresta amazônica boliviana, todos retratados com intensidade e múltiplas camadas que permitem aos personagens transitarem com fluidez e surpreender o público a cada cena.”

FIGURINOS. “O figurino do espetáculo nasce como um fio condutor entre culturas, trazendo em sua base referências dos três países que inspiram as narrativas. A cada conto, novos elementos se somam, transformando os personagens e ampliando a força simbólica das histórias. Em O Menino e a Baleia, surge a saia de palha, peça tradicional dos pescadores antigos japoneses, evocando a relação direta com o mar. Em Guajojó, o Pássaro, as mantas de macramê repousam sobre os ombros, adornadas com joias que remetem às divindades andinas, revelando a espiritualidade da cordilheira. Já em Niamana, uma menina angolana, máscaras ancestrais entram em cena como portais para o imaginário animal, trazendo à tona forças da natureza, como o antílope, símbolo de fertilidade e colheitas abundantes. Assim, o figurino não apenas veste os corpos, mas revela camadas da memória coletiva, transformando-se em linguagem poética que conecta o público às raízes culturais de cada povo.”

TRILHA. “A trilha sonora original da peça, composta pelo músico Riccardo Dutra, utiliza instrumentos de diversas partes do mundo para ambientar as histórias com timbres característicos de cada região. Na narrativa sobre a Bolívia, destacam-se o charango, a quena e a zampoña, além de uma canção composta em quéchua, idioma ancestral dos Incas. Na história do Japão, os efeitos de água criados com o ocean drum e com sementes dialogam com os timbres do sanshin e xilofone, que reforçam as sonoridades orientais. Já a passagem dedicada à África é marcada pelo djembe e pela kalimba, somados a cantos de estética africana que evocam o clima das savanas. Em outra cena, dedicada aos peregrinos, surge uma composição de caráter plural, na qual diferentes timbres se entrelaçam, trazendo à tona a essência da world music.”

Serviço 

Contos Peregrinos 

Sesc Pinheiros. Teatro Paulo Autran. Rua Paes Leme, 195

Domingos, 15h e 17h. R$ 40.  Grátis para crianças de até 12 anos

Até 28 de setembro (estreia 7 de setembro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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