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Paulo Autran criou trajetória que se confunde com a do teatro brasileiro; confira

Sinopse

Nos 101 anos do nascimento do ator e diretor, veja como ele construiu carreira privilegiada, com 90 espetáculos

Por Ubiratan Brasil

Se há um ator cuja trajetória é possível dizer sem erro que se confunde com a história do teatro brasileiro da segunda metade do século passado, esse é Paulo Autran. Artista de recursos variados, Autran construiu uma trajetória privilegiada, com um amplo repertório de personagens e ainda marcada por contatos estabelecidos, que o levaram a atuar com uma gama extraordinariamente rica de nomes significativos do teatro nacional. 

Nesta quinta-feira, 7 de setembro, são lembrados os 101 anos de seu nascimento – ele morreu aos 85 anos, em 12 de outubro de 2007, deixando o legado de 57 anos dedicados à arte de interpretar.

Cássio Scapin e Paulo Autran, no espetáculo Visitando Sr. Green. Foto Joao Caldas F

Autran criou um estilo único, com insinuações feitas de detalhes, pausas e pequenas mudanças de atitudes corporais, que permitiam saltar de uma atuação cômica para uma trágica, instaurando uma inquietação de qualidade dramática. E o que o possibilitou ter vivido uma galeria sem igual de protagonistas de peças de grandes autores, dos clássicos aos contemporâneos.

Nascido no Rio de Janeiro, logo se mudou para São Paulo, onde, por influência do pai, um delegado de polícia, se formou em Direito na Faculdade do Largo São Francisco em 1945, planejando seguir a carreira diplomática. Mas logo se desapontou e começou a frequentar grupos de teatro.

Sua estreia aconteceu em 1947, quando, ainda amador, atuou em Esquina Perigosa no palco do Teatro Municipal, até então o único, em São Paulo, a acolher grupos não profissionais. Dois anos depois, outra interpretação como amador e a qual o próprio Autran considerava uma de suas grandes atuações: À Margem da Vida, no Teatro Amador, do Rio.

Paulo Autran, Bibi Ferreira e Grande Otelo em O Homem de La Mancha. Foto Arquivo Morente Forte

A carreira profissional começou em 13 de dezembro de 1949 quando, ao lado de Tônia Carrero (que se encantou com sua performance em À Margem da Vida), protagonizou a comédia Um Deus Dormiu lá em Casa, de Guilherme Figueiredo. O sucesso comercial e de crítica (Autran recebeu diversos prêmios) o convenceu a abandonar definitivamente a advocacia e a se dedicar ao teatro. Foi o ponto de partida para inúmeras participações, muitas delas se tornaram clássicas.

Artista intimamente ligado às preocupações sociais e políticas de seu tempo, Autran trazia um viés crítico mesmo quando interpretava peças antigas. O golpe militar de 1964 logo o mobilizou, assim como toda classe artística, a lutar contra opressão e censura.

O espetáculo Liberdade, Liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, foi um notável exemplo. Síntese corajosa da resistência contra o regime militar, a peça estreou no Rio de Janeiro em abril de 1965. E, já naquela época, o texto traduzia a carreira do ator, diretor e produtor Paulo Paquet Autran, sintetizada em uma das falas da peça: “Sou apenas um homem de teatro. Sempre fui e sempre serei um homem de teatro. Quem é capaz de dedicar toda a sua vida à humanidade e à paixão existentes nestes metros de tablado, esse é um homem de teatro”.

A interpretação de Autran, intensa e verdadeira, convenceu o cineasta Glauber Rocha a convidá-lo a participar do filme que se tornaria uma de suas obras-primas, Terra em Transe, em 1967, na pele de Porfirio Dias.

O ator Paulo Autran. Foto Arquivo Morente Forte

O teatro sempre foi a principal arte praticada por Autran, mas no cinema ganhou destaque ainda como Gui, em O País dos Tenentes, papel que lhe garantiu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Brasília de 1987.

Já da televisão, Autran manteve uma relativa distância. Sua trajetória começou em 1960 como Mundinho Falcão na telenovela Gabriela, Cravo e Canela, na extinta Rede Tupi. Em seguida, voltou-se para outras artes e só retornaria em 1979, na Rede Globo, com um de seus mais famosos papeis, o vilão Bruno Baldaracci de Pai Herói.

O momento que ficou eternizado foi sua participação na novela Guerra dos Sexos, de Silvio de Abreu, exibida pela Globo em 1983. Ao lado de Fernanda Montenegro, criou uma das cenas icônicas da teledramaturgia brasileira, que foi o confronto no café da manhã, onde cada um arremessou o que pode no outro, de café e suco a açúcar e achocolatado.

Em 2002, comemorou 80 anos de vida com a estreia da peça Variações Enigmáticas, no Teatro Faap, ao lado de Cecil Thiré, sob a direção de José Possi Neto. Autran participaria de mais dois espetáculos: Adivinhe quem Vem para Rezar, de Dib Carneiro Neto com Claudio Fontana, em 2005, e, no ano seguinte, em O Avarento, comédia clássica de Moliére, dirigida por Felipe Hirsch. Foi, aliás, seu 90º espetáculo.

Paulo Autran morreu depois de sofrer um enfisema pulmonar e por complicações decorrentes do câncer. Em 15 de julho de 2011, a Lei 12.449 o declarou Patrono do Teatro Brasileiro.

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