Comédia apocalíptica e anárquica com o longo título “Breve apologia do caos pelo excesso de testosterona nas ruas de Manhattan” ironiza a incapacidade prática da esquerda contemporânea e os impasses da política atual
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 2 de outubro de 2025)
O filme Uma Batalha Após a Outra, do cineasta estadunidense Paul Thomas Anderson, que estreou esta semana nos cinemas, começa com uma ousada articulação de um grupo guerrilheiro que comanda a fuga de imigrantes. A partir daí, usinas de eletricidade são explodidas e bancos assaltados em um contexto eletrizante e divertido, expondo o enfrentamento deste coletivo, denominado French 75, ao poderio tóxico do sistema capitalista.
Seguindo o tom debochado que o filme por vezes imprime, a cena teatral ganha uma estreia em outubro de um texto inédito do uruguaio Santiago Sanguinetti, que já no título diz a que veio. Breve apologia do caos pelo excesso de testosterona nas ruas de Manhattan tem direção de Thiago Andreuccetti e montagem do coletivo Laia do Teatro, com temporada no Pequeno Ato.
Quatro personagens sul-americanos estão confinados em um apartamento em Nova York, nos Estados Unidos, e elaboram um plano revolucionário, tão delirante quanto simbólico. Eles pretendem contaminar latas de Coca-Cola com um vírus roubado de uma pesquisa com gorilas que sobrecarrega a produção global de testosterona como forma de implodir o sistema capitalista.

Com humor ácido, linguagem caótica e referências que cruzam cultura pop e teoria política, o espetáculo faz uma forte crítica ao capitalismo ao mesmo tempo que, por meio da sátira, expõe as contradições e armadilhas que permeiam as diversas linhas de pensamento da esquerda. A montagem da Laia do Teatro propõe uma encenação provocadora, anárquica e satírica – uma comédia de linguagem afiada que reflete, com sarcasmo e inteligência, as tensões políticas e afetivas do nosso tempo.
Em um cenário global marcado pela ascensão de discursos autoritários e pela banalização ideológica promovida por redes sociais, a peça ironiza a incapacidade prática da esquerda contemporânea diante de um capitalismo cada vez mais imune à crítica – e o faz sem propor respostas fáceis. Por meio do exagero e da desordem dramatúrgica, o texto desmistifica tanto o dogmatismo militante quanto o cinismo do pensamento liberal.
“Montar essa obra hoje é ativar o riso como ferramenta de pensamento crítico. É também uma forma de resistência ao apagamento histórico e ao esvaziamento simbólico da ação política, tensionando as fronteiras entre arte, delírio, revolução e falência ideológica. É um espetáculo que diverte – mas também incomoda – e que instiga o público a pensar: o que ainda é possível transformar? E, ainda mais importante: como fazê-lo?”, reflete o grupo Laia do Teatro, formado por Aline Pimentel, André Barreiros e Victor Barreto que iniciou sua trajetória em 2020. Junto a esse trio, o ator Laerte Mello compõe o elenco do espetáculo.
Serviço
Breve apologia do caos pelo excesso de testosterona nas ruas de Manhattan
Pequeno Ato. Rua Dr. Teodoro Baima, 78
Sábados, 20h. Domingos, 18h. Não haverá sessão no dia 5 de outubro. R$ 60
Até 2 de novembro (estreia 4 de outubro)
