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Renato Borghi revisita Oswald de Andrade em “Alegria é a Prova dos Nove”

Sinopse

Ator de 87 anos é protagonista de uma revista antropofágica, que reúne diversas manifestações artísticas do escritor modernista

Por Ubiratan Brasil

Um dos principais incentivadores da Semana de Arte Moderna de 1922, o escritor Oswald de Andrade (1890-1954) deixou uma obra que continua reverberando nos dias atuais, especialmente pelo objetivo declarado de “assustar a burguesia que cochila na glória de seus lucros”. Se o escritor de prosa é bem conhecido, o mesmo não se pode dizer do homem, cujas principais idiossincrasias inspiram o espetáculo Alegria é a Prova dos Nove, nova montagem do Teatro Promíscuo, em cartaz no Sesc Pompeia.

Trata-se, como divulga o material de imprensa, de uma revista antropofágica, uma conversa poética entre Oswald de Andrade, suas paixões femininas cruciais na formação de sua personalidade, seus amigos companheiros na atuação artística e seus personagens ficcionais. “Oswald nunca sai de moda, pois suas críticas, especialmente as mais ferinas, conversam com os tempos atuais”, comenta o ator Renato Borghi que, aos 87 anos, lidera um elenco formado ainda por Elcio Nogueira Seixas, Regina França e Fernanda D’Umbra, além dos músicos William Guedes, Pedro Birenbaum e Nath Calan.

Renato Borghi em Alegria é a Prova dos Nove. Foto Gal Oppido

Borghi participou da célebre montagem de O Rei da Vela, dirigida por José Celso Martinez Correa em 1967, no Teatro Oficina, convertida em manifesto tropicalista. Foi uma guinada na carreira do ator. “Deixei de interpretar personagens certinhos para viver com debochada irreverência o usurário Abelardo I“, conta ele, que leu por acaso o texto de Oswald, então um autor esquecido na literatura brasileira. “Zé Celso inicialmente não se interessou, mas tanto insisti que ele abraçou o projeto e fizemos a montagem.”

Assim, além de celebrar Oswald, Alegria é a Prova dos Nove também festeja a presença de Borghi no palco, com momentos de sua carreira sendo constantemente lembrados. “Resgatamos aqui aspectos pouco lembrados da trajetória de Oswald, como sua relação com várias mulheres (Tarsila do Amaral, Pagu, entre outras) e também sua poesia, não devidamente reconhecida”, comenta a diretora Johana Albuquerque. “E também o Borghi, que simboliza a obra oswaldiana.”

Cena de Alegria é a Prova dos Nove. Foto Ubiratan Brasil

Um dos disparadores da pesquisa para a criação do espetáculo foi o livro O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo, um diário coletivo da garçonnière do jovem Oswald de Andrade, no centro de São Paulo, que foi um “balão de ensaio” de procedimentos de escrita do modernismo e foi frequentado por figuras como Guilherme de Almeida, Vicente Rao, Leo Vaz, Monteiro Lobato e Daisy – única mulher e uma das grandes paixões de Oswald. Todos registraram suas observações com bilhetes, receitas, poemas e desenhos, revelando um Oswald pouco conhecido pelo grande público.

O espetáculo reforça a importância de Oswald de Andrade, desde seu resgate do ostracismo até sua projeção como ícone da tropicália nos anos 1960, relevância que só aumenta no correr das décadas, consolidando o autor do “Manifesto Antropófago” como um dos grandes pensadores da cultura brasileira.

Outra cena de Alegria é a Prova dos Nove. Foto Ubiratan Brasil

Dividida em 9 cenas, a peça, que conta com um intervalo de 10 minutos, reconta a história do Brasil a partir das mudanças vividas pelo escritor. “Começamos com uma montagem marcada pelo tom verde, simbolizando a infância e adolescência do Oswald. Depois, a fase azul, seu esplendor financeiro e também período em que foi casado com Tarsila. Segue o tom vermelho, que lembra suas dificuldades financeiras e a adesão à causa comunista, até chegar à fase preta, que simboliza o final da vida”, diz a diretora.

“A partir de uma perspectiva na qual a síntese e a sugestão possam ativar o imaginário da plateia, a espacialidade para o espetáculo é uma instalação performativa que interage com os intérpretes. O processo de criação se dá por atravessamentos e devorações poéticas daqueles que vieram antes de nós. A visualidade do espetáculo ganha forma a partir de experimentos dos anos 1960 como Tropicália, de Helio Oiticica; Baba Antropofágica, de Lygia Clark, dos anos 1970; e criações cenográficas de Flávio Império e Hélio Eichbauer”, esclarece a diretora de arte Simone Mina.

Serviço

Alegria é a Prova dos Nove

Sesc Pompeia. Rua Clélia, 92

Quinta a sábado, 20h. Domingo,17h. Sessão extra dia 13/11, 20h. R$ 70

Até 8 de dezembro (estreou 8 de novembro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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