Escrita e dirigida por Mau Alves, montagem com comicidade escrachada inaugura a Sala Experimental do Teatro B32, espaço que recicla todos os seus resíduos
Por Ubiratan Brasil (publicada em 20 de agosto de 2025)
O mercado brasileiro de musicais não oferece apenas grandes produções – as chamadas produções off Broadway nacionais também exibem uma qualidade similar ao americano. É o que comprova Rapsódia – O Musical, comédia dark que inaugurou a Sala Experimental do Teatro B32, que chega com um conceito contemporâneo, sustentável e voltado à experimentação cênica.
Produzida pela Cerejeira Produções, de Mau Alves e Julia Morganti, em parceria com o produtor Rafael Ramirez, a montagem chegou a São Paulo após 12 anos de sua estreia no Rio de Janeiro. Escrita e dirigida por Alves, a produção chega com 14 músicas autorais, sendo duas inéditas, cenários e figurinos totalmente novos, texto atualizado e uma proposta cênica que transforma a sala em um ambiente imersivo e sensorial. “O espaço alternativo permitiu que contássemos a história bem próximo do público”, comenta o ator encenador.

A trama continua praticamente a mesma. Jeremias (Conrado Helt), dono de uma fábrica de sabonetes na cidade de Rapsódia, recebe o primo Pátrio (Felipe Assis Brasil), um jovem sonhador que chega para trabalhar no estabelecimento. Logo descobre que não se trata de um lugar comum, especialmente depois de conhecer figuras excêntricas como Tobias (Mau Alves), Coné (Lurryan), Catarina (Jofrancis), Horácio (Igor Miranda) e as artistas do cabaré “Palco dos Prazeres”: Gana (Luan Carvalho), Shana (Julia Morganti) e Tamara (Marília Di Lorenço).
“Tive a ideia original quando tinha 15 anos e a primeira montagem aprimorou o texto, que passou a contar com duas histórias paralelas. E, se antes a trama se passava nos anos 1970, agora é mais atemporal”, conta Alves, que criou as letras ao lado de Sarah Benchimol e a música também com Tony Lucchesi.
Como a plateia está muito próxima das cenas, a vivência sensorial acontece quando os espectadores são surpreendidos por bolhas de sabão, folhas secas, objetos de cena entregues durante as cenas e até respingos (controlados) de sangue cenográfico. “Não é um espetáculo interativo, apenas criamos uma experiência de presença total, onde o público se sente parte da atmosfera“, conta Mau Alves.

Conhecedores de musicais são desafiados a encontrar referências a grandes espetáculos e o texto brinca com inteligência com o humor non sense. O elenco, afiado, cria tipos marcantes, com destaque para Igor Miranda, cujo Horácio, espécie de Frankenstein mal produzido, brilha com gestos e alternância de voz.
A montagem paulistana também é marcada pelo compromisso com a sustentabilidade. Com cenário desenvolvido a partir de materiais recicláveis fornecidos pelo próprio B32 – um teatro que recicla todos os seus resíduos – e figurinos que incorporam elementos reaproveitados, a nova produção assume um discurso coerente com o espaço que a abriga.
Fundada em 2013, a Cerejeira Produções é comandada por Mau Alves e Julia Morganti, que apostaram em em produções mais modestas, mas que surpreendem pela originalidade, montando pequena joias como Ordinary Days, em 2016.
Serviço
Rapsódia – O Musical
Espaço Experimental do Teatro B32. Av. Brigadeiro Faria Lima, 3732
Sábados, 19h e 21h30. Domingos, 17h e 19h30. R$ 90
Até 7 de setembro (estreou em 2 de agosto)
